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A busca por alternativas energéticas sustentáveis no Brasil

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Supremacia das hidrelétricas no país torna-se uma preocupação no setor de geração de energia.
Por Bárbara Costa e Mariana Fernandes
O Brasil possui um quadro de dependência energética da geração das hidrelétricas e essa é uma questão que traz inúmeras complicações para o sistema de energia brasileiro. De acordo com o último Balanço Energético Nacional, realizado pelo Ministério de Minas e Energia, em 2015, a geração hidráulica corresponde a 65,2% da Matriz Elétrica Brasileira, e ainda segundo o documento, pelo terceiro ano consecutivo, houve redução da oferta de energia hidráulica, devido às condições hidrológicas desfavoráveis.

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Imagem: Balanço Energético Nacional de 2015 (ano base 2014), Ministério de Minas e Energia.


O resultado negativo das hidrelétricas afeta o desempenho energético brasileiro como um todo, abrindo as discussões sobre a busca de formas alternativas de energia. O país tem quadros de seca com frequência e a produção de energia elétrica não pode ser tão vulnerável às condições climáticas. De acordo com estudo, feito pela Consultoria Engenho, apresentado à Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em fevereiro deste ano, o sistema brasileiro sofreu um déficit de 8,7 mil megawatts de energia prevista para ser produzida por usinas, devido ao clima de 2016. O volume equivale a cerca de 13% do consumo total de energia do país no ano passado.
Com a queda da oferta de energia, a conta de luz se tornou mais cara, devido ao acionamento de usinas termoelétricas. Além do impacto no bolso do consumidor, as constantes crises hídricas também levam ao questionamento do risco de apagões se a situação se prolongar. Nesse contexto, a busca por fontes alternativas se intensificou e a diversidade vem se mostrando a melhor opção.
Para o engenheiro agrônomo e pesquisador da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), Oswaldo Kuczman, as fontes alternativas podem ser menos nocivas ao meio ambiente: “A diversidade é sempre preferível à concentração. Torna o sistema mais robusto e [fontes alternativas] são de menor impacto ambiental que as hidrelétricas”.
O professor e engenheiro agrônomo da ESALQ/USP, Walter Molina, também defende a diversificação: “O potencial hidrelétrico é limitado e a instalação de usinas hidrelétricas é um problema ambiental relativamente grande. Existem outras energias disponíveis principalmente no momento, quando a gente tem o desenvolvimento de tecnologias que barateiam a captação principalmente da energia solar e da energia eólica”. O protagonismo das hidrelétricas é prejudicial ao potencial do setor energético em tempos de falta d’água, por isso a diversidade tornaria o sistema mais eficiente.
No interior paulista, principalmente na região de Ribeirão Preto, o agronegócio está em busca de novas maneiras de obter energia elétrica. Com o crescimento do consumo no setor, fazendas e usinas estão tentando diminuir custos e até alcançar a autossuficiência energética.
Cogeração de energia no setor sucroalcooleiro: um maior aproveitamento da biomassa
O termo em questão se refere a um sistema que utiliza biomassa, principalmente da cana-de-açúcar, para produção de energia térmica e energia elétrica. A energia provém da queima do bagaço da cana, assim, uma usina que produz álcool e açúcar, por exemplo, consegue aproveitar todo o material orgânico, e ainda produzir energia. De acordo com Walter Molina, é possível aproveitar também resíduos da colheita que não são bagaço e que não servem para a produção de açúcar e álcool, já que o bagaço ainda poderia servir para a produção de etanol de segunda geração. Esses resíduos seriam folhas, palha e ponteiro da cana, portanto, a cogeração de energia proporciona um total aproveitamento da plantação.
A Usina São Francisco (UFRA), de Sertãozinho, atualmente é autossuficiente em relação à energia. Na usina, caldeiras garantem a queima da biomassa sem emissão de enxofre e o vapor produzido é convertido em energia térmica, mecânica e elétrica. A partir da movimentação do turbogerador, as necessidades energéticas da UFRA são atendidas. Hoje, além da energia que a própria usina consome, também há um excedente que é comercializado e garante outra renda para a empresa. Os dados disponíveis da São Francisco mostram que, desde 2010, a produção anual de bioenergia é de 218 GWh com excedente de 146 GWh, uma sobra suficiente para abastecer as necessidades de uma cidade de cerca de 470 mil habitantes.
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Interior da Usina São Francisco em Sertãozinho (SP). Foto: Bárbara Costa.


De acordo com dados da Resenha Energética Brasileira, do Ministério de Minas e Energia, houve um crescimento de 14,1% de energia da matriz biomassa entre 2013 e 2014. O bom desempenho deu-se principalmente pela geração por bagaço de cana, já que o setor sucroalcooleiro gerou 32,3 TWh em 2014, sendo 19,1 TWh destinados ao mercado e 13,2 TWh ao consumo próprio. A produção de energia através do bagaço da cana representa 70% da geração total por biomassa.
Para o professor Thiago Romanelli, também da ESALQ/USP, a importância da cogeração de energia se dá pelo fato de ser uma medida mais sustentável: “Um aspecto que possibilita a sustentabilidade é que é um produto usualmente obtido (bagaço) e que pode ser a matéria-prima da eletricidade, em substituição às termoelétricas que usam combustíveis fósseis. Estas estão sendo muito usadas, onerando a sociedade pelo custo e pelos efeitos ambientais negativos”. Mais uma característica que aumenta o potencial da cana-de-açúcar como energia alternativa é o seu tempo de safra, a qual ocorre entre maio e novembro. Esse período é de estiagem e o nível dos reservatórios das hidrelétricas costuma ser baixo. No entanto, há opiniões mais críticas sobre o assunto, como a do professor Walter Molina:

“Quando a gente faz a agricultura cultivando cana-de-açúcar, a gente está deteriorando o solo, está interferindo no ciclo da água. É uma série de atividades humanas que promovem a degradação ambiental em uma velocidade muito grande e que a natureza não consegue recompor. Então, a gente pode dizer que é uma energia mais limpa, mas a sustentabilidade dessa atividade é muito discutível” (Professor Walter Molina).

Assim, é necessário pensar nas vantagens e desvantagens para poder fazer uma análise de riscos e seguir o melhor modelo possível.
A necessidade da diversidade energética, entretanto, não é uma dúvida entre os pesquisadores. A variedade de fontes de energia é importante, não somente devido a situações de estiagem, mas também, porque as matrizes alternativas podem auxiliar na gestão dos recursos não renováveis para alcançar um modelo econômico cada vez mais sustentável. Para isso, é preciso que as pesquisas avancem e recebam incentivo, assim as novidades podem se tornar acessíveis.
Energia Solar como alternativa sustentável
Enquanto a cogeração é criticada por degradar o meio ambiente, a  energia solar se apresenta como uma alternativa limpa e que vem crescendo no Brasil. Em apenas um ano, o Sol produz quatro milhões de vezes mais energia do que todo o planeta poderia consumir, ou seja, é uma fonte que não se esgota.
Mas, se a energia solar está disponível em quantidades tão abundantes, por qual motivo não é usada por todos? Por muitos anos, a instalação de um sistema de geração de energia fotovoltaica (solar) foi muito cara. No entanto, hoje em dia, o barateamento dos equipamentos, a evolução da tecnologia, a alta na conta de luz e os incentivos financeiros direcionados para fontes de energia limpas são responsáveis por uma baixa de 62%, desde 2009, em todos os segmentos da cadeia de suprimentos, segundo uma pesquisa da Bloomberg New Energy Finance. Essa diminuição nos preços ajudou a diminuir o risco de empréstimos bancários e elevou a capacidade das fábricas para níveis recordes. A mesma pesquisa projeta que, até 2025, a energia solar pode se tornar mais barata do que o uso de carvão na média global.
No Brasil, a regulamentação vem da resolução 482 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), que permitiu ao consumidor instalar pequenos geradores em sua residência, comércio ou indústria e trocar energia com a distribuidora local.
Apesar da suspensão do último leilão de energias renováveis previsto para o dia 19 de dezembro de 2016 e cancelado pelo Ministério de Minas e Energia , a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), com base nas projeções feitas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), acredita que os projetos de energia solar devem chegar a 25 gigawatts (GW) em potência instalada até 2030, representando investimentos de R$ 125 bilhões.
A estimativa é que a participação da energia solar na matriz energética brasileira aumente dos 0,02% atuais para mais de 10% em 2030. A expectativa é de que, desses 25 GW, 17 GW sejam de geração centralizada (usinas de grande porte) e 8 GW de geração distribuída (em casas, edifícios comerciais e públicos, condomínios e na área rural).
Ao todo, existem 111 projetos em andamento, mas 99 empreendimentos que ainda não foram iniciados. Ainda assim, a Absolar projeta que, já em 2017, o Brasil alcançará a marca de 1 gigawatt em capacidade instalada em usinas fotovoltaicas, número registrado em apenas pouco mais de 20 países.

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Instalação de painéis solares. Foto: Domínio Público


O empresário Newton Antunes faz parte do aumento no número de pessoas que produzem a própria energia através dos painéis fotovoltaicos. A instalação foi feita em setembro de 2015 em sua residência. Segundo ele, “o gasto foi de R$ 22 mil para uma residência com cinco pessoas. De acordo com as contas que fiz no projeto, a economia total acumulada em 30 anos será de mais de R$ 133 mil”. O sistema de Newton produz cerca de 2.244 KWh em um ano, o que se representa uma redução de 32.141 kg de CO₂ na atmosfera, é equivalente a 239.091 km rodados de carro e a 230 árvores plantadas.
Um levantamento do Instituto Datafolha, realizado a pedido do Greenpeace, revelou que 72% dos entrevistados comprariam o sistema se existissem linhas de financiamento com taxas baixas de juros e 48% apontam a economia na conta de luz como principal motivador. Outras razões mencionadas foram conquistar a independência energética (17%) e os benefícios ambientais de uma fonte limpa de energia (16%). A pesquisa ainda apontou que 54% dos entrevistados acham que somente os ricos podem comprar a tecnologia, mas 54% dos entrevistados estariam dispostos a investir nos sistemas de geração por meio de consórcios ou pelo uso do FGTS.
Hoje são quase 30 fabricantes nacionais entre inversores, placas solares, estrutura e materiais elétricos. Mesmo com o crescimento do mercado, grande parte dos equipamentos ainda são importados, o que dificulta o financiamento de bancos públicos, que só subsidiam projetos com um percentual mínimo de produtos nacionais. Como alternativa, bancos privados e cooperativas de crédito vêm ampliando suas linhas.
Existem dois tipos básicos de sistemas fotovoltaicos: os sistemas isolados e os conectados à rede. Os sistemas isolados precisam de baterias, o que aumenta muito o custo de aquisição, e costumam ser utilizados em locais remotos ou onde a tarifa para uso da rede elétrica é elevada. A energia gerada excedente fica armazenada nas baterias e é consumida no período da noite ou em épocas de chuva. As aplicações mais comuns são em casas de campo, refúgios, iluminação e telecomunicações.
Enquanto isso, os sistemas conectados à rede podem substituir ou complementar a energia elétrica disponível na rede elétrica convencional. A energia excedente é devolvida à rede em troca de créditos que são abatidos da conta convencional, já que no período da noite o sistema deixa de ser alimentado pela energia solar e volta a ser depender da distribuidora.
Embora crescente nos últimos anos, os investimentos em energia fotovoltaica no meio rural ainda são muito pequenos. O agronegócio responde por menos de 2% dos sistemas instalados no país, segundo a Absolar. Entre as justificativas estão o alto valor do investimento, retorno do investimento demorado e a falta de informação.
Em áreas rurais, muitas vezes, não há disponibilidade de eletricidade da rede pública, fazendo com que a geração de energia na propriedade seja essencial. Na agricultura, a energia solar pode ter aplicações variadas, desde o bombeamento para irrigação, aos resfriadores e cercas elétricas.
Para suprir a falta de opções de crédito, desde o começo do ano passado, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) passou a financiar a instalação de sistemas de energia fotovoltaica para agricultores familiares. Em outubro de 2016, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) colocou a energia solar entre as prioridades das políticas voltadas ao setor primário, prometendo dobrar o prazo de financiamento – de cinco anos para 10.

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Redação

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