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Pílulas anticoncepcionais: da liberdade sexual ao controle do corpo

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Facilidade e alto índice de eficácia: ao combinar essas duas vantagens, a pílula anticoncepcional é o método contraceptivo mais utilizado pela população feminina. Mas o que há por trás das pílulas?

Por Marcos Cardinalli e Paula Nishi

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O anticoncepcional mais consumido entre as brasileiras ainda é a pílula. Foto: Paula Nishi

Como funciona a pílula?

Juntando dois importantes hormônios femininos – o estrogênio e a progesterona – a pílula anticoncepcional inibe a liberação do hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Dessa forma, o desenvolvimento dos folículos ovarianos é interrompido e a ovulação não ocorre, impossibilitando uma possível gravidez.
Apesar de se mostrar eficaz no que se propõe – inibir a ovulação e, consequentemente, a gravidez – o anticoncepcional também mostrou ser uma alternativa para mulheres que buscavam tratamento para acne, por exemplo. Além disso, a pílula passou a ser útil para aliviar sintomas da Tensão Pré Menstrual (TPM) ou até mesmo tratar casos de endometriose e síndrome dos ovários policísticos.
“Uma vez que a mulher não ovula, a pílula reduz os sintomas da TPM, assim como melhora a acne. Todas as pílulas melhoram a acne. Algumas, mais do que as outras, mas todas melhoram. Além disso, reduz o fluxo e a dismenorreia (menstruação dolorosa)”, explica a ginecologista doutora Thais Suzana Madsen.
Mas o que poucos sabem – e o que quase não é legível na famosa bula médica – é que não só de benefícios é feita a pílula anticoncepcional. Os hormônios utilizados na sua composição são sintéticos e podem gerar diversos efeitos colaterais que ocorrem pelo uso contínuo da pílula. Mulheres fumantes têm mais probabilidade de sofrerem com tromboses e embolias pulmonares, por exemplo. “Os efeitos colaterais são principalmente deletérios para a circulação e libido”, cita Madsen.
A doutora ainda afirma que recomenda o uso da pílula anticoncepcional para suas pacientes, “contanto que a paciente não tenha contraindicações para o seu uso, como história de trombose familiar, doença venosa(varizes) ou enxaqueca”, por exemplo. E que também “depende muito do perfil de cada paciente e do que ela procura com o seu método contraceptivo”.

A pílula nos anos 60: sinônimo de liberdade sexual

“Um dia histórico e um tremendo passo à frente”

Essa foi a manchete que a revista Der Stern anunciou, na década de 1960, o lançamento do contraceptivo oral no mercado alemão. Mas foi nos Estados Unidos, na década de 1950, que as pesquisas começaram.
A feminista Margaret Sanger e a milionária Katherine McCormick dedicaram grande parte de suas vidas em prol do empoderamento feminino e pela maior liberdade sexual das mulheres. Encontraram no cientista Gregory Pincus um parceiro, que iniciou suas pesquisas alegando buscar um medicamento para aliviar os sintomas da menstruação, já que na época, os contraceptivos estavam oficialmente proibidos nos Estados Unidos.

Cinco anos depois, o Enovid-10 foi lançado no mercado norte americano e, em 1961, o Anovlar no mercado alemão. A bula, apesar de apresentar-se como um medicamento para aliviar os sintomas da menstruação, também advertia como efeito colateral a suspensão temporária da fertilidade. O remédio, porém, era usado principalmente por mulheres que buscavam justamente esse efeito colateral.
Na época, o sexo ainda era considerado apenas um meio de reprodução. Assim, o lançamento de uma pílula que suspendesse temporariamente a fertilidade logo mostrou seus efeitos diante da sociedade. As mulheres finalmente poderiam encarar o sexo como uma forma de prazer, sem a preocupação com uma gravidez indesejada. Ao passo que as indústrias farmacêuticas enriqueciam, a população masculina logo começou a se preocupar com a fidelidade de suas parceiras, demonstrando claramente os primeiros sinais de machismo ao que deveria representar uma verdadeira revolução feminista.

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Os principais métodos contraceptivos, como camisinha, camisinha feminina, DIU, pílula do dia seguinte e a pílula anticoncepcional. Foto: Garo/Phanie/Science Source

A pílula na atualidade: controle do corpo

Mas, se na década de 1960 a pílula deu às mulheres maior liberdade sexual, hoje o que se vê é justamente o oposto. A perceptível ‘obrigatoriedade‘ da mulher em proteger-se, aliado à desinformação e, muitas vezes, à negligência de médicos ginecologistas, mostra que o uso da pílula anticoncepcional é a única forma contraceptiva segura, ignorando outros métodos como o DIU ou a camisinha feminina.
Para Tatiane Boccato, de 22 anos, as mulheres perdem sua liberdade de escolha e ficam reféns da obrigação de se tomar a pílula anticoncepcional: “acho que acaba ficando tudo sobre nossas costas… Tem que tomar a pílula, porque se não a tomar, pode ficar grávida e ser culpada por isso. Fora os caras que não querem usar camisinha e ficam revoltados porque a gente não toma pílula. Eu acho que temos que ter sempre a nossa liberdade de escolha, afinal, é nosso corpo que sofre qualquer consequência que a pílula possa trazer. E ainda podemos e devemos procurar o método que mais nos deixe confortáveis… Os médicos deviam falar mais sobre isso e receitar a pílula com mais cuidado também”.

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A pílula é, muitas vezes, apresentada como solução para muitos problemas na vida da mulher, como diminuição da TPM, regulação do ciclo menstrual, contraceptivo. Foto: Paula Nishi


Larissa Neves, de 19 anos de idade, também é contra a falta de informação sobre os efeitos do medicamento. “Nos anos [19]60, a pílula teve um papel libertador, sem dúvida. As mulheres poderiam ter o mínimo de controle sobre sua natalidade e isso proporcionou a sua maior entrada no mercado de trabalho e também o planejamento familiar. Eu noto que hoje, para muitos médicos, a pílula é a solução para tudo: evita a gravidez, regula o ciclo, tira a cólica… Indicam esse medicamento para mulheres de todas as idades, mas poucos falam sobre o lado ruim da pílula, tanto a curto quanto a longo prazo. Não explicam que a pílula pode gerar mudanças de humor e queda na libido, além do risco de tromboses, aneurismas entre outras coisas”, reflete.
“Com essa visão de movimentar a indústria farmacêutica, o perigo que a pílula representa para a mulher acaba sendo ignorado, enquanto várias pessoas sofrem com os efeitos colaterais e são categorizadas como exceções. Por isso, não há uma atitude para melhorar esse tipo de medicação. Hoje em dia está mais para uma prisão da mulher do que pra liberdade sexual, já que você tem sempre que se lembrar de tomar e, quando o faz fora do horário, perde a eficácia. Não há como evitar os efeitos colaterais no dia a dia, além da exposição aos riscos gravíssimos que ela pode trazer para as mulheres, mas que muitos profissionais ainda ignoram”, questiona Débora Cruz, 20 anos.
De acordo com as entrevistadas, enquanto alguns ginecologistas ignoram os outros métodos contraceptivos e omitem os possíveis efeitos colaterais, outros fazem um acompanhamento correto do caso da paciente, para lhe indicar a melhor opção e orientá-la na decisão que a paciente tomar.
“Alternativas, existem várias, desde os implantes hormonais, DIUs, anel vaginal, adesivo transdérmico, Condom… Mas, depende do que a paciente espera do método contraceptivo. Normalmente , a mulher não quer somente não engravidar, e isso norteia a escolha do método mais indicado para cada caso”, conclui a doutora Madsen.
https://infogr.am/pilulas_anticoncepcionais

Redação

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