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As novas tendências de consumo e produção no mundo da moda

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A indústria têxtil e o mercado da moda desenvolvem um grande papel na economia mundial. Em dados de 2017, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), a produção média têxtil do Brasil foi de 1,7 milhão de toneladas, com a produção de cerca de 5,9 bilhões de peças, incluindo vestuário, meias, acessórios e cama, mesa e banho.
O faturamento da cadeia têxtil e de confecção nacional fechou em US$ 45 bilhões de dólares em 2017, com um investimento de quase R$ 1,9 milhões no setor, números que demonstram a grandeza e importância econômica desse segmento para o país.
Entretanto, a indústria da moda é grande responsável também pela poluição do planeta, sendo considerada a segunda mais poluente, atrás somente do setor petroleiro. O lançamento constante de novas tendências e coleções e o consumo desenfreado de roupas nas chamadas fast fashion, lojas que vendem peças que são consumidas e descartadas rapidamente, são as principais razões dessa poluição.
Uma única peça de roupa pode trazer danos ao meio ambiente de pelo menos três maneiras: com sua matéria-prima, tendo como exemplo o uso excessivo de pesticidas, fertilizantes e químicos para preservação e cultivo do algodão; com sua indústria e a poluição das águas com corantes e metais pesados do processo de tingimento; e com seu descarte, gerando resíduos que demoram anos para decompor-se.

Toneladas de resíduos têxteis são descartadas regularmente. Imagem: Reprodução/True Cost


Além da questão ambiental, a produção desenfreada do fast fashion envolve, em grande parte das vezes, a exploração de mão de obra barata e condições de trabalho análogas à escravidão em países em desenvolvimento.
Muitas vezes ligados ao tráfico de pessoas, diversos casos de exploração de mão de obra escrava já vieram à tona, envolvendo marcas mundialmente conhecidas e grifes renomadas, como por exemplo, a Zara, que em 2011 teve um de seus fornecedores como alvo de uma operação que encontrou 16 pessoas (15 bolivianos e 1 paraguaio) em situação de semiescravidão, com jornada de mais de 15h diárias de trabalho e condições degradantes na zona norte de São Paulo.
Outro caso parecido aconteceu recentemente, no final 2017, quando peças da grife de luxo brasileira Animale e da A. Brand, marcas do grupo Soma, foram encontradas em três oficinas em que os trabalhadores, também bolivianos, viviam em regime de trabalho análogo à escravidão, recebendo R$ 5 por itens que eram vendidos à R$ 700 nas lojas.
Jornadas de trabalho exaustivas, salários irrisórios, privação da liberdade e más condições de moradia, higiene e alimentação são algumas das situações em que esses trabalhadores enfrentam, inclusive no Brasil, onde eventualmente são encontradas oficinas de trabalho desse tipo, principalmente em áreas de grande produção têxtil, como o Brás, em São Paulo.
Um dos principais casos que denunciou para todo o mundo essa problemática envolvendo a mão de obra por trás do fast fashion aconteceu em Bangladesh, em 2013, quando uma fábrica de tecidos desabou matando 1.135 pessoas e expondo a falta de segurança e estrutura a que a indústria têxtil submete seus trabalhadores nos países periféricos.

Desabamento em 2011 do Rana Plaza em Bangladesh. Imagem: Rijans/Wikimedia

Alternativas

Tentando alterar esse cenário, algumas iniciativas foram criadas para conscientizar os consumidores a respeito desses bastidores da indústria. Uma delas é o aplicativo Moda Livre, desenvolvido pelo Repórter Brasil, organização que desenvolve jornalismo investigativo e mantém um programa de prevenção ao trabalho escravo.
No aplicativo é possível ver uma lista de marcas, como Adidas, Calvin Klein e Marisa, que têm uma avaliação de acordo com seus históricos e atitudes que adotam a relação ao trabalho escravo. Há ainda uma área de notícias, com os detalhes dos casos descobertos.
Existe também uma nova onda de marcas dispostas a produzir de uma maneira mais consciente e sustentável, as chamadas slow fashion. Esse tipo de iniciativa propõe uma produção mais lenta, com mais qualidade, feita para durar e com um design além das tendências passageiras, indo de encontro ao fast fashion e seus lançamentos frenéticos, feitos para serem usados e descartados em seguida.
Além disso, há a preocupação com a origem da matéria-prima, buscando conhecer e valorizar os fornecedores e seus processos de produção, priorizando materiais locais e produzidos de maneira sustentável. É valorizada também a mão de obra manual, com um pagamento justo e condições de trabalho adequadas para os artesãos.
Essas mudanças têm reflexo no preço final das peças, que é maior em relação às roupas produzidas pelo fast fashion. Uma dessas marcas é a Vinci Shoes, criada em 2013 e que produz sapatos seguindo a filosofia do slow fashion.
Através do e-commerce, os sapatos só são produzidos ao partir do momento em que são vendidos, sem a criação de um estoque, reduzindo excedentes desnecessário e diminuindo o impacto ambiental. De acordo com Rodrigo Morsch, um dos donos da marca, todos os fornecedores são certificados pela ABVTEX (Associação Brasileira de Varejo Têxtil), o que promete que os funcionários da cadeia de produção tenham salários e condições de trabalho adequados.
São usados também materiais de boa qualidade, que garantem a durabilidade das peças e que elas não sejam descartáveis. Rodrigo chama atenção também para o acabamento final do produto, que passa por inspeção de maneira artesanal. “Como não temos toda a pressa de uma linha de produção, os produtos são passados de mão em mão. Todos os detalhes são avaliados e corrigidos por cada pessoa que está envolvida no processo. Todos se sentem responsáveis pela qualidade e sempre ficam muito felizes quando repassamos os feedbacks das clientes”, explica.
Em adição às novas maneiras de produzir, vêm surgindo também uma consciência coletiva para uma nova maneira de consumir. A tendência do minimalismo na moda é um reflexo dessa preocupação com os impactos que o consumo desenfreado tem causado ao ambiente.
O minimalismo prega um estilo de vida mais simples, consumindo de maneira inteligente e possuindo apenas o básico e necessário, sem exageros. Outra filosofia que propõe a mesma coisa é o lowsumerism (baixo consumo, em tradução literal), criado a partir de um vídeo de 2015 denominado “The Rise of Lowsumerism” e que propõe uma maior consciência sobre os impactos do consumismo e uma diminuição dele como um todo.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=jk5gLBIhJtA]

Brechós

Com o aumento dessa consciência a respeito do consumo, uma alternativa que ganha mais adeptos são os brechós, usados para comprar e vender roupas de segunda mão. A jornalista Juliana Oba é uma das pessoas que achou nos brechós a saída para um consumo mais consciente. Por conta de seu gosto por roupas em estilo vintage, ela descobriu através de blogs, ainda adolescente, que essas peças poderiam ser achadas com mais facilidade em brechós.
Mas a consciência e o hábito são coisas recentes na vida da jovem de 24 anos. “O hábito por comprar roupas em brechó é muito recente, porque eu comecei a pensar mais na questão do meio ambiente e de como as roupas são fabricadas. Os preços, por exemplo, dos fast fashion giram em torno de R$ 100 por peça, a qualidade delas não é tão boa e por ser barato em comparação a roupas de grife, a procedência delas é duvidosa”, explica.
Ela conta também que gosta da sensação de achar a peça perfeita depois de muita procura e imaginar qual é a história por trás dela, além do fato da economia, que é um dos principais atrativos para os compradores de brechó. Juliana busca alternativas também no guarda-roupa de suas tias, avó e amigas e só recorre a lojas convencionais em último caso. “É quase desnecessário comprar alguma peça numa loja, porque tudo que eu preciso eu acho em brechó ou no guarda roupa das minhas tias. Só quando eu preciso de algo específico e não tenho tempo para procurar, aí compro nas lojas normais”, afirma a jornalista.
A servidora pública Tamiris Cardoso também é adepta das compras em brechó há 6 anos. Mas lembra que desde pequena acompanhava a mãe nos “bazares da pechincha”, como eram conhecidos em sua cidade natal, Presidente Alves.
Antes de consumir de brechós, ela conta que era viciada em compras, principalmente de calçados. “Comprava dois pares por mês, só pela beleza, nunca ou quase nunca considerava conforto como essencial. Quando era adolescente não tinha uma visão sistêmica da cadeia de produção de roupas e calçados, uso de mão de obra escrava e infantil, consumo de água, poluentes de tingimento nos rios e outras coisas”, relata.
Como atitude para diminuir seu consumo, Tamiris decidiu também como resolução para 2018 não comprar nada e utilizar apenas as coisas que já possuía, doando as roupas que estavam sem uso há mais de 1 ano. “Está dando certo, quase passando o primeiro semestre”, conta com orgulho.
Aliás, a doação é o destino das peças que não são mais usadas tanto por Tamiris quanto por Juliana, que ainda tenta vender as peças que considera boas, com um preço mais justo, “mas o descarte nunca é o lixo, porque as peças estão sempre boas, nunca tem nada que não dê para usar, ou por exemplo, se está rasgada ou algo do tipo, eu conserto e depois passo pra frente. Então eu acredito que nenhuma peça do meu guarda roupa seja inútil”, finaliza Juliana.

 
Por Carla Rodrigues 

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Redação

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