Afetando todo o país, a greve dos caminhoneiros alterou a economia e influenciou diretamente no abastecimento de alimentos e combustíveis
Texto: Michel F. Amâncio e Victória Linard
No dia 21 de maio de 2018, se iniciou por todo Brasil uma greve geral de caminhoneiros. A categoria decidiu paralisar suas atividades para reivindicar, principalmente, a diminuição dos impostos no preço do óleo diesel, entre outras pautas, como a extinção da cobrança por eixo suspenso em pedágios.
Logo no primeiro dia de manifestação, uma quantidade considerável de fake news foram divulgadas por meio de redes sociais e grupos de bate-papo como os de WhatsApp, o que causou pânico na população brasileira. A disseminação irresponsável de notícias falsas em torno da falta de abastecimento de combustíveis e de alimentos em supermercados, somada ao sensacionalismo midiático, fez com que o cidadão brasileiro sentisse urgência em abastecer seu veículo e também sua despensa. Logo nos primeiros dias foi possível perceber uma falta de combustível em postos de gasolina e escassez de diversos produtos nas gôndolas dos supermercados.
Ao longo da primeira semana, a greve se manteve bastante firme em toda a extensão do país. Caminhoneiros pararam seus veículos nos acostamentos e faixas adicionais de rodovias, o que tornou o trânsito bastante lento em diversas pontos e impossibilitou a entrega de produtos (inclusive de alimentos) e a distribuição de combustíveis em todo Brasil. Várias cidades entraram em estado de alerta, como Campinas, que decretou estado de emergência no dia 25 de maio, quatro dias após o início da paralisação.
A região campineira foi uma das mais afetadas pela greve. Na cidade de Limeira, que fica a 55 km de Campinas, em menos de uma semana já não havia mais combustível disponível para abastecimento. As frotas de ônibus, táxi e Uber foram diminuídas e, posteriormente, tiveram suas atividades suspensas. Nos mercados, a situação também era bastante grave, especialmente no setor de hortifruti, no qual era possível observar diversas seções vazias e altas nos preços de alguns alimentos, como no caso da batata, que sofreu aumento de mais de cem por cento do valor inicial.
Muitas pessoas cancelaram viagens e compromissos por falta de combustível e não puderam sair de casa, como no caso do limeirense Renato Fernandes, que trabalha fazendo viagens em todo o estado de São Paulo e, sem conseguir abastecer o carro, ficou impossibilitado de trabalhar por uma semana. De acordo com Renato, ele abasteceu o carro assim que soube, através de correntes no WhatsApp, que haveria falta de combustível nos próximos dias. Entretanto, a quantidade não foi suficiente para mais que um dia de trabalho “eu rodo, em média, mais de 300 quilômetros por dia, não dá pra ir e voltar tranquilo, então achei melhor ficar em casa” afirma.
A situação da região de Bauru, interior de São Paulo, em contraponto à campineira, se mostrou bem mais tranquila em relação à escassez de combustível nas bombas dos postos de gasolina. Isso se deve ao fato de que a cidade recebe combustível por meio do transporte ferroviário, não sendo totalmente dependente dos caminhões para esse tipo de abastecimento. A professora bauruense Adriana Rodrigues alega que buscou ignorar o sensacionalismo das fake news e se manteve tranquila, sem idas emergenciais ao posto.
Entretanto, na segunda-feira, dia 28, alguns manifestantes bloquearam a saída dos caminhões que recebem abastecimento diretamente dos trens, agravando a situação de Bauru e interrompendo os carregamentos que levam combustível para a cidade.