O escândalo envolvendo vazamento de dados aumentou a desconfiança em relação a empresa de Mark Zuckerberg
Depois de um depoimento de mais 10 horas ao parlamento americano, o CEO da rede social mais utilizada no mundo, Mark Zuckerberg pode agora ter de responder perguntas ao congresso russo. A investigação voltada à diretoria do site se ampliou devido a proporção das infrações cometidas.
Em março deste ano, o jornal americano New York Times trouxe à tona o vazamento de dados de cerca de 50 milhões de usuários. O número que se confirmou com o andar das investigações é de cerca de 87 milhões de usuários atingidos. A Cambridge Analytica, empresa de consultoria de dados que recebeu as informações fornecidas, anunciou seu fechamento no dia 30 de maio.
A companhia britânica trabalhou na campanha de Donald Trump, em 2016, e pode ter tido papel essencial na vitória do candidato republicano, assim como no resultado da votação do Brexit, que propunha tirar a Grã-Bretanha da União Europeia. Com os dados fornecidos pelo Facebook, a empresa mapeou o posicionamento político de usuários da rede, e criou mecanismos que buscavam influenciar o posicionamento destas pessoas.
Quanto à rede social, os danos apareceram logo em seguida à revelação de suas práticas, com uma baixa nas ações da bolsa de valores de 5% no primeiro dia, e no segundo, 12%.
O que já parecia absurdo, contudo, ganhou proporções ainda maiores. No início de junho, o New York Times revelou, novamente, que o Facebook teria liberado acesso à informações pessoais dos usuários. Mas, desta vez, quem os recebeu foram mais de 60 fabricantes de celular.
Entre as empresas envolvidas estão a Amazon, Samsung, Microsoft, Apple e Blackberry.
Em carta destinada a Zuckerberg, dois senadores democratas, Edward Markey e Richard Blumenthal disseram que as revelações de que o facebook disponibilizou informações como religião, preferências políticas e estado civil para para dezenas de produtores de aparelhos móveis sem o consentimento explícito dos usuários é muito preocupante.
Os dados teriam ficado disponíveis aos fabricantes por mais de 10 anos, e a justificativa seria o aperfeiçoamento das ferramentas e que essa relação era muito limitada. O ex-diretor de Operações de Plataforma no Facebook, Sandy Parakilas, afirmou, em entrevista ao El País, que os vazamentos acontecem porque o Facebook já não tem nenhum controle nem registro do que acontece com os dados dos usuários.
“A companhia tem regras pelas quais os desenvolvedores devem se guiar, mas alguns as violam, e o Facebook não tem como garantir que as regras sejam cumpridas nem como saber quando são violadas”, disse o ex-diretor.
Mark Zuckerberg, que já depôs no parlamento americano e no parlamento europeu, onde pediu desculpas públicas pelo escândalo,tenta agora tomar medidas para preservar a confiança dos usuários no Facebook.
No final de maio, o CEO da empresa afirmou que aplicará os instrumentos de proteção à informações pessoais estabelecidos pela lei europeia, conhecido como Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD). A lei, que ficou anos em tramitação no parlamento europeu, impõe às empresas que estabeleçam de forma direta e clara aos usuários o que será feito com os dados fornecidos.
Além disso, as pessoas poderão pedir acesso a todos os dados que a empresa guarda de sua pessoa. As companhias digitais deverão também alertar os usuários e as autoridades responsáveis sobre qualquer eventual exposição de informações pessoais.
Em entrevista ao Nexo, o advogado especialista em proteção de dados e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Danilo Doneda falou sobre o caráter lei: “A União Europeia, em 1995, unificou as regras de proteção de dados, porque uns tinham regras fortes, outros não tinham e isso causava problemas. Mas essa lei é de muito antes de a internet se tornar o que é hoje. Há alguns anos veio a proposta de atualizar a lei de proteção de dados para adequar o bloco ao contexto atual. Assim, a RGPD acabou virando um grande padrão internacional de proteção de dados”, afirmou na entrevista.
Caso seja descumprido, o regulamento prevê multas que vão de 10 milhões até 20 milhões de Euros ou de 2% até 4% do faturamento anual.
Texto e entrevistas: Angelo Cherubini
Matheus Souza
Nathália Cunha