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Representante da Marcha Mundial das Mulheres do Brasil e integrantes do Encontro Nacional das Mulheres da Argentina falam sobre a importância da articulação nacional e internacional do feminismo e dos desafios na luta contra a desigualdade de gênero

Beatriz Milanez e Bianca Moreira

Quando o assunto são mulheres na América Latina, é comum associar o tema com questões sobre o feminicídio, e não sem motivo: segundo um estudo realizado pelo Observatório de Igualdade Gênero da América latina e do Caribe (OIG),  2 mil e 94 mulheres foram assassinadas pelo simples fato de serem mulher em território latino americano, no ano de 2014. No entanto, pouco – ou nada – se fala sobre a articulação das mulheres na luta contra a desigualdade de gênero e das conquistas que já obtiveram através de suas organizações independentes.

Sendo assim, integrantes de dois dos principais movimentos feministas com articulação internacional  presentes na América Latina, A Marcha Mundial das Mulheres do Brasil e o Encontro Nacional de Mulheres da Argentina, explicam um pouco da importância da existência de movimentos como esses, como se organizam e suas principais ações e conquistas.

Marcha Mundial das Mulheres

A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) é um movimento feminista anticapitalista que está presente em mais de 176 países ao redor do mundo. No Brasil, a Marcha se consolidou nos anos 2000. Hoje, o movimento  está presente em 23 estados e possui contato com movimentos feministas de todo o país.

A entrega de um  documento com 17 pontos de reivindicação, apoiado por cinco milhões de assinaturas de mulheres de mais de 159 países, à Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, foi uma das conquistas históricas do movimento.

Para Maria Fernanda Marcelino, que há 12 anos trabalha na ONG Sempre viva Organização Feminista (Sof), instituição que atua como secretária nacional da Marcha Mundial das Mulheres, a articulação coletiva do feminismo,  em âmbito nacional e internacional, é de grande importância para que as mulheres tenham a noção da abrangência do machismo e para que possam traçar estratégias para combatê-lo de forma global.

“Nós da MMM acreditamos que só a ação coletiva é capaz de transformar de fato a realidade.  A atuação local é fundamental, mas quando um grupo não possui uma visão mais geral e não se alimenta da experiência de outras mulheres,  acaba não percebendo que as opressões que sofrem têm pontos em comum com a realidade de mulheres diferentes. Nossa articulação revela que todas estamos suscetíveis a situações de machismo independente do lugar e classe social que ocupamos e que, só juntas é possível mudar esse cenário”, explica.

Além de possuírem essa articulação nacional e internacional com mulheres, A Marcha Mundial das Mulheres também está ligada a diversos movimentos sociais como os de luta pela terra, sindical e estudantil. Esse ano, por exemplo,  representantes da MMM Brasil estiveram na “Marcha Continental pela Democracia e contra o Avanço do Neoliberalismo” que aconteceu em Montevidéu.

Encontro Nacional das Mulheres

O encontro Nacional das Mulheres acontece anualmente na Argentina há 31 anos e é o único na modalidade existente no mundo. O Evento surgiu após a participação de um grupo de mulheres argentinas no encerramento da “Década das Mulheres no Quênia” em 1985 e da necessidade da auto-organização para abordar problemas específicos das mulheres no país.

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(“É preciso saber da abrangência do machismo, para que se possa traçar estratégias para combatê-lo de forma global”. Foto: Bianca Moreira) 

O encontro dura três dias e é sempre realizado em um feriado após um fim de semana para que o maior número de pessoas consiga participar de todos os dias de atividades.  Na edição de 2017, mais de 70 mil mulheres, entre nativas e estrangeiras, participaram dos debates, da marcha, das atividades culturais e das 71 oficinas realizadas em Resistência, cidade que sediou o evento.

Os debates dialogam com todas as mulheres  sejam elas trans, cis, indígenas, negras, da cidade ou do campo.  Além disso, para cada edição é definido um tema que terá mais atenção de acordo com a realidade da cidade onde estará acontecendo  o evento. Resistência, por exemplo, fica no norte da Argentina, uma das regiões mais menosprezadas pelo Estado e onde temas como o agronegócio e as políticas de repressão contra a população indígena são mais presentes, por conta disso, o encontro deu mais atenção a esses temas não só nas rodas de debate mas também na cerimônia de abertura. Outros temas muito presentes em quase todas as edições são:  a realidade socioeconômica das mulheres da América Latina e a necessidade da união das mulheres.

Para Lucía Rivero, militante do  coletivo feminista “Mulheres Inquebráveis” e coordenadora da ida do coletivo ao Encontro Nacional de Mulheres, o evento é um espaço fundamental de reunião, comunicação e organização das mulheres. “Ter espaços de articulação coletiva com esse  é importante porque depois de cada oficina ou roda de discussão, cada mulher transmite a sua província toda a riqueza e as potencialidades do movimento feminista como um todo”, enfatiza.

Além disso, Lúcia Cámara, que faz parte do grupo feminista “Las rojas” e do Encontro Nacional há 6 anos, também destaca que o evento proporciona a visão de que, por mais que sejamos diferentes, no final, temos o mesmo inimigo em comum e daí a importância de possuir uma articulação para além de nossas fronteiras. “Na América Latina e no mundo, vemos mulheres triplamente  exploradas, as fronteiras nos dividem, mas a luta nos une, pois o patriarcado e o capitalismo que nos oprime não é nacional e a resistência também não pode ser. Devemos parar de nos dividir porque no final do dia o inimigo em comum é o mesmo”, conclui

Desafios do feminismo hoje

Maria Fernanda acredita que apesar de estarmos atravessando um período de “retrocesso” em relação  os direitos dos trabalhadores, das mulheres e das minorias no geral no Brasil, com a PEC 181, a reforma trabalhista e da previdência em curso, esse é um momento favorável para o fortalecimento do feminismo. “Os desafios para o feminismo hoje são gigantes, um deles é crescer aproveitando essa ‘onda favorável’ ao movimento feminista , porque esse momento pode gerar um feminismo com limitações, mas também pode fortalecer um feminismo que questione de fato  as estruturas do patriarcado”, enfatiza.

Outros dois desafios destacados pela militante são:   tentar mostrar para as pessoas que o feminismo não está deslocado de uma visão política e combater o avanço das igrejas pentecostais dentro da política, que acabam refletindo seu conservadorismo no legislativo.

“Você não pode ser feminista e votar em uma pessoa reacionária que diz que  se você for estuprada terá que levar a gravidez em frente porque um óvulo fecundado tem mais direitos que você. Nesse sentido, as Igrejas Pentecostais são um problema, já que colocam as mulheres em lugares de subserviência e acabam refletindo isso no sistema político. Enraizar o feminismo de forma concreta nas pessoas para que não seja só um slogan bonito, é fundamental para mudarmos o país de fato”, conclui.

Já Lucía Rivero defende que um dos maiores obstáculos para o feminismo no contexto argentino é a pouca presença de mulheres em cargos de tomada de decisão. “ Apesar de termos acabado de alcançar a paridade de gênero nas listas nacionais – o que é de extrema importância para o resto das transformações, com 50% de mulheres no Congresso, o acesso ao aborto já não parece impossível- é fundamental que Juízes, promotores e as forças de segurança sejam treinados em uma perspectiva de gênero para evitar arbitrariedades, a injustiça e a criminalização das vítimas. Além de, promover políticas  públicas para que mulheres também ocupem esses espaços”, destaca.

Invisibilidade Feminista  na Mídia

A comunicação da Marcha Mundial das Mulheres e do Encontro Nacional das Mulheres na Argentina é feita de forma militante e colaborativa através das redes sociais. Por conta da magnitude e do tamanho das ações desses movimentos, muitas vezes a equipe interna não dá conta de cobrir tudo. Além disso, as representantes afirmam ser invisibilizadas pela mídia tradicional.

Segundo Lucía,  o Encontro Nacional das Mulheres só é mencionado na grande imprensa argentina quando há confronto policial durante a marcha, que é uma dentre as muitas atividades promovidas pelo movimento. “É frustrante ver que as reuniões e os espaços de debates, únicas em proporção e quantidade em todo o mundo, são completamente ignoradas pela mídia argentina. Além de não serem palco de cobertura, raramente há divulgação. Os veículos  de comunicação se concentram em episódios de violência durante a marcha, quando acontecem”, declara.

Maria Fernanda acredita que a falta de cobertura das ações do movimento pela imprensa brasileira está atrelada a atuação política que a MMM possui: “Nosso feminismo é um feminismo de base real e popular. É um movimento que constrói e reivindica políticas públicas, que questiona privatizações e que, acima de tudo, reivindica condições de trabalho digno e uma divisão justa de tarefas. O feminismo anticapitalista e de esquerda nunca teve visibilidade na mídia, somos visíveis e grandes mas somos invisibilizadas o tempo inteiro”, conclui.

Tempo de trabalho não remunerado  por sexo

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(o Brasil é o quinto país com o maior número de assassinatos contra mulheres: 4,8 para cada 100 mil mulheres. Foto: Bianca Moreira)

Trata-se de um trabalho que se realiza sem pagamento algum e se desenvolve majoritariamente na esfera privada. A Argentina possui os maiores índices, estando em terceiro lugar, de mulheres sem renda própria : 55,8 horas semanais não remuneradas, para mulheres sem renda própria/ homens sem renda própria 28,6 horas semanais. No Brasil: mulheres não remuneradas : 33,2 horas semanais/ homens sem renda própria : 10,2 horas semanais.  

Segundo o Mapa da Violência de 2015, o Brasil tem uma taxa de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, ocupando a quinta posição em um ranking de 83 nações.

De acordo com encontrados no Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribeas disparidades na incidência da pobreza (indigência) entre mulheres e homens na América Latina. Em 2013, para cada 100 homens vivendo em lares pobres da região, havia 117 mulheres nesta mesma situação. – idade 20 a 59 anos- a falta de autonomia econômica das mulheres os lares pobres concentram uma maior proporção de mulheres em idade de maior demanda produtiva e reprodutiva. Brasil ( 115,2) ocupa o nono lugar, países com maior desigualdade : Uruguai (142,5)  e chile (136,7) valor superior a 100 indica que a pobreza (indigência) afeta em maior grau às mulheres que aos homens

População sem renda própria por sexo: América Latina

2013- 30.8% – enquanto que para os homens a cifra era de 11.3%. Isso significa que quase um terço das mulheres da região depende de outros para sua subsistência, o que as torna vulneráveis desde o ponto de vista econômico e dependentes daqueles que possuem renda, que em geral são os homens.

Brasil: 26,8% – 2014 mulheres/ 15.7 homens –

Segundo o Mapa da Violência de 2015, o Brasil tem uma taxa de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, ocupando a quinta posição em um ranking de 83 nações.

Entre 2010 e 2015 o número de países da América Latina e Caribe que tipificaram o femicídio ou feminicídio em suas leis penais subiu de quatro para 16.

No que se refere aos números absolutos, Argentina e Guatemala se encontram em segundo e terceiro lugar respectivamente, com mais de 200 femicídios cada um em 2014.

Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe (OIG), da ONU, também indica que em 2014, em 25 países da região um total de 2 mil 89 mulheres foram vítimas de feminicídio.

Redação

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