Dos subúrbios de Nova York às passarelas, o movimento tem ganhado cada vez mais espaço quando o assunto é moda
Ao falar sobre moda é necessária a reflexão acerca do caráter identitário, representativo, resistente e emancipatório que o simples ato de se vestir impõe. Com a combinação de roupas, acessórios e penteados, o movimento hip-hop construiu sua identidade e suas modelagens, cores, texturas e peças afloraram dos subúrbios negros e latinos de Nova York e espalharam-se pelo mundo todo.
Em entrevista ao Universa, a jornalista nova-iorquina e autora do livro “Free Stylin’: How Hip Hop Changed the Fashion Industry” Elena Romero explica que antes da comercialização do rap as tendências giravam apenas em torno da população branca. Para criar coleções os estilistas buscavam inspiração nas ruas, mas, até a década de 80 a população urbana não era reconhecida como público. “O hip hop foi revolucionário porque forçou a indústria da moda a reconhecer o poder dos afro-americanos e dos latinos como consumidores”, afirma.
Elena também explica que ao longo da história a moda e a música sempre andaram lado a lado: “do tango, jazz, rock and roll, disco ao funk, a juventude vestiu uma roupa que correspondia à música que ouvia. “Mas o que diferenciou a geração hip hop das outras é que a moda era influenciada e criada por pessoas do próprio movimento e tornou-se elemento essencial para expressar o que ele simbolizava: a resistência”.
O movimento, que começou em Nova York, se espalhou pelo mundo todo e até hoje inspira arte, como é o caso de Rogério Pereira, CEO da marca Malokero. Desde criança o estilista mostrava vocação para o desenho, então somou isso à paixão por moda e deu origem à Malokero, que tem como inspiração o hip-hop e o rap nacional: “a minha marca se assemelha muito à manifestação das letras de rap, nós somos protesto, nós somos resiliência”.
As tendências
O look hip hop poderia ser composto por vários elementos. Calças e jaquetas de couro preto, chapéus Fedora pretos ou chapéus Kangol, correntes e tênis Adidas. Boné de beisebol ou chapéus (e às vezes até outras peças de roupas) usados ao contrário, uniformes de basquete sobre camisetas e jeans (sempre) largos. Tudo isso permitia a identificação dos sujeitos pertencentes ao movimento, caracterizavam o típico vestuário hip-hop.
Atualmente a influência da moda hip hop é forte. Muitos elementos fazem parte das atuais tendências: jeans, coletes, jaquetas, jaquetas college, bonés de aba reta, sneakers de salto alto – tendência inesquecível do ano de 2012 – e até mesmo os atuais croppeds. Se antes a moda hip-hop circulava os becos do Bronx e do Brooklin, bairros de Nova York onde o movimento tomou vida, hoje ela anda pelas passarelas e, cada vez mais, toma conta das ruas.
Talvez o rapper norte-americano Kanye West tenha sido o primeiro a lançar – oficialmente – uma coleção inspirada no streetstyle do movimento hip-hop na Semana de Moda de Nova York em 2015. Mas é impossível negar que as influências dessa cultura ainda não haviam aparecido no mundo da moda. No ano seguinte, o hip-hop caminhou pelas passarelas brasileiras a partir da iniciativa dos rappers Evandro Fióti e Emicida com a coleção da Laboratório Fantasma na São Paulo Fashion Week.
Pryscilla Galvão, estudante de Relações Públicas e colunista do coletivo Black Panther DNA, conta que apesar de não usar, acha linda a mistura da moda de rua com alta costura. “Mas o rolê de você estar com uma camiseta de um grupo de rap e uma pantalona, por exemplo, equilibra bem e acho que combina comigo e com o meu corpo. A moda dentro do hip-hop vai muito por identificação”, explica.
Por Bianca Furlani e Gabriela Silva