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Bandidos na TV e a dualidade trágica de um herói do povo

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A nova produção nacional da Netflix representa o caso que chocou o país nos anos 2000. 

Poucas são as produções midiáticas que podem se dar ao luxo de representar uma expressão popular ao pé da letra tão bem quanto o caso da minissérie documental Bandidos na TV, lançada no mês passado pela Netflix.

Quem viu a série pode assegurar que a mesma ilustra de forma competente a máxima de que “o Brasil não é para iniciantes”, afinal, em qual outro lugar do mundo poderia acontecer a história retratada ali? 

O mote principal é a saga do deputado e apresentador de TV amazonense, Wallace Souza, acusado de ser o responsável pelas mortes dos bandidos mostrados em seu programa policial, o Canal Livre. 

Wallace veio de uma carreira na polícia, o que o incentivou a criar posteriormente o Canal Livre. O programa servia como um tribunal no qual a população carente ia em busca de justiça. O apresentador era considerado herói daquela região, já que denunciava os criminosos e o tráfico de droga. 

De fato, Wallace levava muito a sério a caçada a traficantes. Seus motivos eram mais que morais, tangiam sua vida pessoal, já que havia perdido um irmão para as drogas. O quão curioso seria o apresentador sendo acusado do crime que tanto dizia combater? 

Denunciado como chefe de quadrilha e por envolvimento com tráfico de drogas em meados de 2008, o deputado se apoiou no discurso de perseguição política até sua morte, dois anos depois, em decorrência de uma parada cardíaca. 

No decorrer dos sete episódios, a série nos apresenta a personalidade do deputado, suas motivações e aspirações políticas e sociais. 

Também são introduzidos nomes como o delegado que investigou o caso, a jornalista investigativa, o filho de Wallace e seus funcionários do Canal Livre. São essas fontes que conduzem o fio da história, apresentando suas versões dos fatos e a imagem que possuem do apresentador. O próprio Wallace também manifesta seu ponto de vista, por meio de gravações feitas no ano que antecedeu sua morte. 

A escolha dos produtores de exibir tantas opiniões diferentes confere a Bandidos na TV, os indícios mais puros de uma produção jornalística. Dificilmente o espectador vai escolher um lado para torcer na história, já que é apresentada uma suspeita de conduta falha até mesmo do Secretário de Inteligência responsável pelo caso de Wallace. 

Até mesmo o argumento do deputado, de sofrer perseguição política e sua integridade moral, são reforçados em um dos episódios, através da história do prefeito de Coari, inimigo direto de Wallace, condenado a prisão por estelionato e por fazer parte de uma rede de pedofilia. 

No entanto, ao final de cada episódio, o espectador é pego de surpresa por alguma prova ou depoimento não antes revelado, que dá outro tom à narrativa. 

Wallace Souza foi o apresentador do programa Canal Livre, que começou a ser exibido no final dos anos 90. (Créditos: Divulgação)

A montagem feita em Bandidos na TV lembra muito as de grandes produções, enquanto o roteiro segue fórmulas já usadas em telenovelas, o que ajuda a prender a atenção do público. 

A mistura de dramatização, como mostrada na abertura e em partes-chaves da série com momentos documentais alimenta a imaginação do espectador em relação ao caso, que fica se perguntando se há alguma verdade absoluta ali. E não há. 

A própria história parece saída de um estúdio de TV: O herói que na realidade é o vilão. O Robin Hood que mata. Nem Shakespeare, ou Homero, ou qualquer outro dramaturgo clássico jamais imaginaria uma tragédia nesses moldes. O Brasil realmente não é para iniciantes. 

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Redação

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