Por Ana Laura Ferreira
(Foto: Raquel Dutra)
O Brasil é um país tropical, ou seja, de clima quente e úmido, que abriga milhares de espécies de insetos, fungos, entre outros. E apesar da extensa biodiversidade nacional ser de grande importância, a imensa quantidade de animais se torna um problema quando se trata das lavouras. Para controlar as pragas do campo utiliza-se de diversos agrotóxicos, os quais acabam por matar não só aqueles que são indesejados como também os “insetos ajudantes”. Esse é o caso das abelhas. Consideradas um dos animais que mais contribuem para a vida do homem, elas são também as mais prejudicadas com o uso não só indevido, mas também com o autorizado, de pesticidas.
O fenômeno da drástica diminuição da população de abelhas foi notado pela primeira vez em meados da década de 1940, nos Estados Unidos. A esse acontecimento deu-se o nome que se mantém até hoje: Distúrbio do Colapso das Colônias. Estima-se que nos últimos 70 anos a população de abelhas reduziu em mais da metade, caindo de 4,5 milhões para apenas 2 milhões de colmeias somente nos EUA. Entre os principais motivos dessa grande redução está não só o uso indiscriminado de agrotóxicos, como também o aumento dos desmatamentos e as mudanças climáticas.
Responsáveis por quase dois terços de toda alimentação mundial, as abelhas polinizam 70% das plantas frutíferas. Fica com elas também, a responsabilidade de auxiliar na reprodução de plantas usadas na pecuária e ainda de fazer o controle da diversidade genética dos ecossistemas. Isso pois ao buscarem o pólen nas flores para a produção de mel, elas transportam a parte masculina das plantas até a parte feminina correspondente de forma aleatória.
Sabe-se hoje que algumas culturas, como a de melancias, dependem exclusivamente desses insetos para sua reprodução. Outras espécies, como é o caso dos cítricos e do café, são parcialmente dependentes desses insetos, mas só têm a ganhar com sua ajuda, podendo até dobrar sua produção com o auxílio destas. É importante ressaltar também que os serviços prestados pelas abelhas na polinização das lavouras contribuem para a economia do campo. Estima-se que o trabalho realizado de forma gratuita por elas equivale a cerca de 500 milhões de dólares por ano.
Plantação de café na cidade de Franca- São Paulo (Foto: Ana Laura Ferreira)
Logo, o desaparecimento total das abelhas seria extremamente prejudicial para os seres humanos. Já na década de cinquenta, o cientista Albert Einstein previa que uma vez que esses insetos fossem extintos, a raça humana teria somente mais quatro anos de vida. De acordo com Osmar Malaspina, Professor do Instituto de Biociências da Unesp Rio Claro, ainda não é possível prever o desaparecimento definitivo das abelhas, mas já se sabe que as consequências de sua ausência são assustadora, implicando não só em uma drástica redução da variedade, quantidade e qualidade de alimentos como também em uma grande precarização de todos os outros setores que se relacionam com a vida humana, atingindo da pecuária ao setor de medicamentos.
Felizmente ainda temos como reverter essa situação. Dentro e fora do campo é possível contribuir para frear o desaparecimento desse animal tão importante para a vida humana. Para isso produtores agrícolas podem recorrer a ajuda de instituições como o Projeto Colmeia Viva, que tem o objetivo de “incentivar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas para encontrar caminhos para uma relação que valorize a proteção racional dos cultivos; o serviço de polinização realizado por abelhas; a proteção das abelhas e do meio ambiente e o respeito à apicultura”.
O projeto, que estimula às boas práticas de aplicação de defensivos agrícolas para uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura, se baseia no ‘Plano Nacional de Boas Práticas’ para a prevenção da mortalidade das abelhas, composto por assistência técnica para o esclarecimento de dúvidas e que atende agricultores, criadores de abelhas, aplicadores de defensivos agrícolas, distribuidores, revendedores e equipes de vendas das empresas signatárias.
Conta também com um manual disponível para download online que traz mais de 70 dicas sobre: técnicas amigáveis às abelhas, incentivo à visitação de abelhas nas culturas agrícolas, localização segura para instalação de apiários, medidas de proteção aos apiários, manejo apícola e fontes de alimentação e comunicação, com o objetivo de propagar de práticas agrícolas e apícolas saudáveis para os insetos. Além de também trazer um aplicativo do projeto para facilitar o diálogo entre agricultores e criadores de abelhas e de uma Plataforma digital de ensino à distância, que centraliza todo o conteúdo sobre a interação defensivos-agricultura-apicultura-abelhas, permitindo mais abrangência, mobilidade e agilidade na chegada da informação ao campo.
Com tais medidas, como o amparo do Estado e com a conscientização daqueles que vivem e trabalham dentro e fora do campo podemos estimar um futuro mais feliz para as abelhas e para nós. Apesar de ser um caminho difícil e trabalhoso, é dever do campo e da cidade combater a extinção desse inseto tão crucial para a vida humana.