Por Gabriel Soldeira e Isabelle Tozzo
“Pessoa que não se alimenta nem usa produtos de origem animal, relativo à ideologia que defende a não utilização de produtos de origem animal ou que se opõe a qualquer atividade em que haja exploração animal.” É assim que o dicionário online da Língua Portuguesa define o veganismo, movimento que certamente você já deve ter ouvido falar. Nos últimos três anos o número de veganos nos Estados Unidos cresceu em 600% segundo uma publicação da Food Revolution. No entanto, a quantidade de animais mortos pelo abate não diminuiu. Enquanto empresas como a Nestlé investe em produtos alimentícios a base de vegetais no ocidente, há uma forte campanha para incentivar a adesão de leite na China, onde o consumo nunca fez parte dos hábitos da população.
Questões como essa colocam em pauta o veganismo disseminado pela mídia e adeptos do movimento buscam por uma repolitização do mesmo. Dessa forma, novos termos surgem para diferenciar e criar vertentes dentro do veganismo, tais como veganismo popular e veganismo liberal.
De acordo com Juliana Gomes, jornalista e criadora do @comidasaudavelpratodos, o veganismo liberal se insere na lógica de mercado e não busca uma ruptura com o sistema. “É o veganismo que aplaude as grandes empresas, que acha que por si só vai mudar o mundo e é uma visão muito desconectada das coisas. Por isso buscamos por um outro veganismo que chamamos de político, revolucionário ou popular.” Sendo assim, o veganismo popular surge em contraposição ao liberal.
Fabiana Silva, idealizadora do @baurupeloclima explica que ele vai muito além da dieta e das mudanças de hábito. “Ele se propõe realmente a emancipar os animais, a contestar o sistema que envolve a exploração deles e de tantas outras pessoas. É um veganismo anti-capitalista que acredita que dentro desse sistema não existe uma emancipação de animais, nem de pessoas.”
Mas, como é o veganismo liberal o mais difundido pela mídia e pelas publicidades, muitas pessoas só tomam conhecimento do movimento através de produtos criados pelas grandes indústrias. Logo, a ideia de que o veganismo é caro toma conta do imaginário da população que crê ser necessário consumir tais produtos para fazer parte do grupo. Em essência o veganismo não é elitista. Pelo contrário, ele busca por soberania alimentar e enxerga que a
comida deve ter uma boa relação com o meio ambiente, com os animais e deve nos manter saudáveis, ou seja, livre de agrotóxicos. É um movimento que defende que a alimentação não deve ser mercadoria e que a comida orgânica deve ser acessível. Inclusive, Juliana reitera que sempre tivemos ao longo da humanidade diversos povos naturalmente veganos sem precisar usar o rótulo, principalmente porque é muito mais caro criar animais.
O veganismo é acessível a todos, no entanto Fabiana chama atenção para o fato de que
não é fácil para todo mundo. “Não podemos ser ingênuos de achar que não existe uma parcela da população que vai ter dificuldade de manter uma dieta vegana, mesmo ela sendo baseada em grãos e legumes. Porque as pessoas tem a precarização da sua alimentação, comem o que tem e o que podem comprar.” e reforça ainda que grande parte da população não tem o privilégio de refletir e escolher o que consomem. “Existem pessoas que trabalham 12 horas por dia e que estão preocupadas em sobreviver, se seus filhos chegarão em casa vivos. Muitas vezes essas pessoas não tem espaço para fazer
esse questionamento sobre libertação animal, sobre a saúde delas ligadas à alimentação, sobre soberania alimentar. A gente tem que reconhecer esse privilégio de poder se queixar em relação a isso, mas não encarar isso com soberba. Temos que tentar colocar isso em prol da sociedade para poder construir esse veganismo popular que a gente quer.”