Ineficiência e descaso no controle de queimadas aponta que apesar de represálias, a “boiada” de Salles continua passando.
O Pantanal e a Amazônia nunca queimaram como em 2020. A marca negativa histórica é a pior desde 1998, ano de início do rastreamento por satélite realizado pelo INPE. Os dois biomas somam mais de 33.000 focos de incêndio.
Entre janeiro e setembro, 76 mil focos de incêndio foram registrados somente na Amazônia, de acordo com o Inpe. Apenas em setembro, foram 32 mil registros, número 60% maior em comparação com 2019. No pantanal, a situação se agravou ainda mais com um aumento de 200% na comparação com o ano de 2019, totalizando mais de 18 mil ocorrências de queimada.
Com a chegada da primavera e do verão, o segundo semestre apresenta os meses mais secos nas regiões Norte e Centro-Oeste, facilitando a propagação dos focos de incêndio. Contudo, a ação humana é o fator mais destrutivo para estes biomas. “Os incêndios são de origem humana. Quase todo fogo é colocado por agricultores, pecuaristas e fazendeiros. Não é uma faísca acidental de um equipamento operando, isso é muito raro”, afirma Carlos Afonso Nobre, pesquisador do INPE.
Ministério do Meio Ambiente
Ricardo Salles se mostra inoperante diante das demandas exigidas pela pasta ambiental. Começando pelo combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia, a contratação e envio de brigadistas pelo Prevfogo foi autorizada com quatro meses de atraso por conta de mudanças na lei e uma série de registros burocráticos.
Tais ações são reflexo direto da falta de investimento do Ministério. Ao todo, menos de 1% dos R$26,5 milhões atribuídos a programas e políticas de conservação foram utilizados, R$6 milhões tinham como destino exclusivo estudos destinados às mudanças climáticas, entretanto, o valor utilizado era zero até agosto. O levantamento foi obtido pelo Observatório do Clima e os dados mostram a tentativa de ingerência e exclusão da pasta ambiental.
Ajuda Civil
Somente no Pantanal, as chamas já consumiram mais de um quinto do ecossistema. Entretanto o estrago seria pior se não fosse o apoio da ajuda civil em muitas regiões de difícil acesso. “A ação popular tem se mostrado mais eficaz que a governamental. Não apenas os civis que se voluntariam como brigadistas, como o apoio de ONGs, por exemplo, a Mulheres pelo Pantanal, elas buscam a atenção e realizam campanhas de arrecadações, tudo sem quaisquer fins lucrativos”, relata Giovana Bonatto, moradora de Corumbá, Mato Grosso do Sul.
Não somente a crise do Covid-19 assusta os moradores nessas áreas. A péssima qualidade do ar e temperaturas elevadas são fatores preocupantes. “A qualidade do ar está péssima, especialmente esse ano. Possuo problemas respiratórios, assim como outras pessoas da minha família. Então, triplicamos os cuidados nessa época. Às vezes a sensação térmica ultrapassa os 42ºC, e a umidade do ar está sempre baixíssima”. Acrescenta Giovana.