Julho de 2022 será um marco histórico na astronomia, com as primeiras imagens do telescópio espacial James Webb sendo disponibilizadas ao público.
O telescópio espacial James Webb, lançado em orbita em dezembro de 2021, e montado de forma remota no espaço, já se posicionou a distância esperada pelos especialistas, está, portanto, pronto e operante. Em comunicado oficial a agencia espacial americana (NASA) confirmou para o próximo dia 12 de julho, a data das primeiras divulgações de imagens captadas pelo instrumento ultra moderno.
Na década de 1980, com o mundo imerso na Guerra Fria, cientistas e astrônomos iniciaram as primeiras reflexões a respeito da futura substituição do Hubble, notório satélite telescópio, por um outro ainda mais poderoso e moderno. Em entrevista coletiva recente realizada em Baltimore, Maryland, Klaus Pontoppidan, cientista do Pace Telescope Science Institute foi categórico em afirmar “Serão imagens incríveis; elas serão melhores do que o Hubble fez”.
Em 1996, o projeto começou a tomar forma, graças ao esforço conjunto da NASA, Agencia espacial europeia (ESA) e Agencia espacial canadense (CSA).
25 anos depois, no natal de 2021, o satélite James Webb, assim batizado, foi finalmente lançado ao espaço, onde deve cumprir missão de 5 a 10 anos, a depender dos resultados e analises.
James Edwin Webb, nasceu em 1906 na cidade americana de Tally Ho Township, estado da Carolina do Norte. Dedicou sua vida profissional aos serviços militar e público, tendo coordenado a NASA de 1961 a 1968. Esteve diretamente ligado a projetos notórios como Apollo e Gemini. Dez anos depois de seu falecimento em 1992, recebeu a homenagem póstuma de rebatizar o até então Next Generation Space Telescope.
James Webb foi construído e equipado com o que há de melhor na indústria aeroespacial e cientifica, seu espelho de 6,5 m de diâmetro, é composto por 18 estruturas em hexágono de berílio (elemento alcalino-terroso, bivalente, tóxico), sobreposto por uma finíssima camada de ouro. O escudo térmico, essencial para empreitadas espaciais, conta com 5 camadas.
Webb combina os resultados de modernos sistemas operacionais, destaques para a Near-Infrared Camera, câmera infravermelha, o Near-Infrared Spectrograph, responsavel pela observação dinâmica de múltiplos alvos, o Mid-Infrared Instrument, capaz de enxergar objetos extremamente distantes, e o Fine Guidance Sensor/Near InfraRed Imager and Slitless Spectrograph, cuja atribuição principal é a manutenção do telescópio no curso adequado para a observação e missão.
As expectativas da comunidade cientifica em relação as divulgações parecem acompanhar a trajetória do telescópio, e se encontram nas alturas. Victor Souza Lyra, graduado em física e membro do grupo de astronomia da UFSCar quando consultado disse: “O James Webb é preparado para detectar radiação infravermelha com uma resolução nunca antes atingida pela humanidade, há uma grande expectativa em finalmente começarmos a estudar e entender fenômenos do universo próximo a sua formação”.
João Faraoni, aluno do quarto ano de Física da UNESP e entusiasta do assunto define James Webb como: “o maior observador de astros” para ele a diferença de tecnologia em relação ao já impactante Hubble é notória “ele explora alguns aspectos importantes do universo como estrelas de um jeito que o Hubble não conseguiria, por causa da área de captação de luz ser aproximadamente seis vezes maior”.
Muitos questionam os gastos empreendidos para a operação do instrumento ultramoderno, justificando os problemas urgentes e diários da Terra, sobre esse assunto Victor Lyra propõe a indagação: “nos primeiros 23 dias da guerra, que está acontecendo na Ucrânia, 20 bilhões foram gastos, o dobro de toda missão James Webb, é uma questão de prioridade, e de como a humanidade investe seus recursos” sobre o impacto no dia-a-dia do cidadão comum ele completa: “o próprio desenvolvimento de equipamentos tecnológicos desse tipo acabam agregando no desenvolvimento tecnológico propriamente dito”
Paradoxalmente, enquanto avança rumo a descobertas fascinantes, a humanidade é assolada por um crescimento incomodo de teorias conspiratórias e anticientíficas. Movimentos que defendem a legitimidade do modelo medieval da terra plana e geocentrista, por exemplo, ganharam visibilidade nos últimos anos e contam com um número expressivo de adeptos. Denilson Guimarães do Carmo é bacharel em física e atua como monitor no Observatório Didático de Astronomia “Lionel José Andriatto” da Faculdade de Ciências da UNESP, de acordo com suas percepções: “Questões simples como o formato da terra são cada vez mais recorrentes, é preciso reafirmar conhecimentos adquiridos e atestados séculos atras”.
Como individuo atuante na educação, Denilson propõe antídotos ao negacionismo e promove a democratização de conhecimentos, como os que o James Webb alcançara: “É necessário uma ação conjunta entre cientistas e a rede de ensino, de modo geral assuntos relacionados a astronomia são parcialmente ignorados na formação dos alunos e consequentemente professores, outro meio mais factível são os espaços não formais de educação, museus, observatórios e planetários, que trabalham de forma expositiva e lúdica”.
O Jornalismo e as redes socais também tem papel importante a cumprir nesse processo, uma vez que, ampliam e distribuem os conhecimentos outrora restritos a academia.
Capaz de enxergar bilhões de anos luz universo adentro, James Webb é o divisor de águas da astronomia moderna, prometendo iluminar a humanidade, em direção, não a respostas definitivas e sim, ainda mais perguntas.