A prática religiosa faz como que fiéis restrinjam carne e outros alimentos.
Por Giovanna Diniz, Tania Mendes e Tatiane Degasperi
No mundo todo o Carnaval se transformou num dos grandes referências da cultura brasileira, no entanto, sua origem remonta a Antiguidade Clássica, mais especificamente na Roma Antiga e mais tarde incorporado pelas tradições do Cristianismo. A palavra “carnaval” origina-se do latim “carna vale”, ou “adeus à carne”, assimilado pela religião, passou a marcar o período de festas que acontecem entre o dia de Santo Reis (6 de Janeiro) e à quarta-feira anterior a Quaresma.
A Quaresma, por sua vez, é o nome do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do Cristianismo, a Páscoa (ressurreição de Jesus de Cristo). A Quaresma é um período de reflexão, oração e penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos pelos quais ele suportou em sua crucificação (via sacra ou via cruscis). É também considerada um período de purificação de todos os excessos cometidos no carnaval, incluindo, a comida. Ela tem inicio na quarta-feira de cinzas e termina no domingo de ramos, domingo anterior ao da Páscoa.
O jejum, na Quaresma, se apresenta como a principal forma de sacrifício. No início da Quaresma, o jejum significava, além da abstenção de carne, uma única refeição tomada a tardinha. Com o passar do tempo, o número de refeições durante o dia foram aumentando, mas ainda continuando a proibição do consumo de carne vermelha. Hoje, a igreja católica propõe que os sacrifícios possam ser escolhidos livremente e, geralmente, são baseados na privação de algo que se goste muito – doces, carnes, cigarros, bebidas alcoólicas e etc – e na conversão do que foi economizado em atos de caridade. O professor de Psicologia e agente da Pastoral da Universidade do Sagrado Coração (USC) Cleiton Senem diz que “durante a quaresma, especialmente na quarta-feira de cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos são convidados a abster-se de carne vermelha (cân, 1251). O convite refere-se aos indivíduos com mais de 14 anos e menos de 70 (cân. 1252), todavia, as pessoas em tratamento médico estão dispensadas do jejum”.
Paulo Luiz Varella, católico de 65 anos, diz que atualmente não pratica a quaresma, apesar de toda sua família participar. Segundo ele, hoje em dia os valores estão diferentes, apesar do evento da Quaresma ter bastante importância para quem é católico, para ele, o sacrifício de ficar os quarenta dias sem ingerir algum alimento já não tem mais o mesmo significado que antigamente. Paulo contou ficar sem ingerir carne vermelha somente na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa. Para o professor Cleiton, entretanto, o significado do jejum “é o aspecto da espiritualidade que faz com que cada indivíduo pense profundamente na sua relação consigo mesmo. A oração é o momento de cada pessoa repensar a sua relação com Deus, e a esmola, é a ocasião oportuna para uma mudança de vida refletindo sobre a sua relação com os outros. Neste sentido, a prática de alimentos restritivos é apenas um dos aspectos destacados neste período chamado quaresma”.
Nossa equipe fez uma pesquisa sobre hábitos de restrição alimentar nesse período, chegou-se ao seguinte resultado
Mesmo com costumes mais flexíveis, ainda assim existem fiéis que praticam a Quaresma com mais assiduidade. Mas alguns cuidados devem ser tomados ao se restringir alguns alimentos no período de quarenta dias. A nutricionista Júlia Leão (25) afirma que o jejum não é aconselhado do ponto de vista nutricional, pois, pode acontecer de o corpo não adquirir a energia necessária para realizar suas funções corretamente. Agora se o caso for a interrupção de apenas um tipo de alimento, ressalta a importância da substituição, “se o caso for de restrição de apenas um grupo alimentar como as carnes vermelhas por exemplo, é importante substituir por outros alimentos que também contenham proteínas como frango, peixe, ovo, e mesmo que seja retirado todos os tipos de carne a proteína pode ser ingerida em outros alimentos – mesmo que não do mesmo tipo – como as leguminosas – feijões, lentilha, grão de bico, ervilha -, as folhas verdes escuras, as sementes – chia, semente de girassol, quinoa -, soja, entre outros. Sendo feitas as substituições corretas e não apenas retirando um ou outro alimento pode-se manter uma alimentação ser saudável”, aconselha.
Em razão da tradição católica, que diz que não se deve comer carne vermelha principalmente às quartas e sextas-feiras durante os quarenta dias da Quaresma, embora não seja tão forte como já foi no passado, a procura por carne branca, em especial por pescado, ainda registra aumento considerável neste período. O preço destes produtos acompanha o aumento da procura, segundo pesquisa realizada pelo Sincomércio de Bauru, houve aumento de 10,2% em média, neste período ano passado. Outros itens que servem de acompanhamento para pratos consumidos nessa época, como batata, tomate e cebola, também apresentam variações de preço. O preço médio da batata-inglesa subiu cerca de 56,9%, enquanto a cebola e o tomate, subiram 23,6% e 18,0%, respectivamente, no mesmo período de 2015, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Algumas dicas de receitas sem carne para a Quaresma:
Filé de peixe grelhado na frigideira
Batalhoada Vegana
Bacalhau à Portuguesa