Por: Amanda Costa, Isadora de Oliveira e Thais Viana
O Brasil é um país de dimensões continentais e que possui um enorme potencial turístico, o qual oferece muitas opções aos visitantes. O turismo é uma atividade importante dentro do contexto econômico do Brasil, podendo ter parte dos recursos utilizados para promover melhorias estruturais no país.
Infelizmente todo o potencial turístico brasileiro ainda não é aproveitado. Quando pensamos na gama de possibilidades turísticas existentes, percebemos que o Brasil recebe poucos turistas quando comparamos a outras nações com potencial turístico menor. Os motivos para esse fato são visíveis, problemas de infraestrutura, violência e, mais atualmente, a instabilidade política e econômica ocasionam um número de visitantes baixo quando pensamos nas dimensões do país.
De acordo com dados do Ministério do Turismo (Embratur), em 2015, o número de turistas no Brasil foi de 6.305.838 pessoas. Segundo estudo do Ministério, cerca de 2.079.823 vieram da Argentina, 575.796 são dos Estados Unidos e 306.331 visitantes do Chile.
Esses números são pequenos quando comparado a outros lugares como México com 30 milhões de turistas, África do Sul com 10 milhões e Miami que recebe 7 milhões de visitantes por ano.
AS REGIÕES MAIS PROCURADAS
O potencial turístico brasileiro ainda é bastante concentrado. Quando pensamos em áreas de atração turística, percebemos que existem regiões que acabam sendo mais divulgadas e acabam, obviamente, atraindo o maior número de visitantes. Enquanto outras, mais ao interior do país, acabam pouco conhecidas e com mais dificuldades de desenvolver seu potencial turístico.
Um estudo realizado pela empresa paulistana de geomarketing, a Geofusion, comprovou a concentração turística no Brasil. De acordo com os resultados do estudo, os turistas visitam apenas 20% das cidades brasileiras. Ou seja, entre os 5.570 municípios brasileiros apenas 17,5% recebem turistas com regularidade. Ainda segundo a Geofusion, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia recebem mais da metade dos viajantes do país.
É NECESSÁRIO INCENTIVO
Incentivar o turismo é, sem dúvidas, uma ótima oportunidade de gerar receita para o país, além de gerar novos postos de trabalho para a população e desenvolver áreas isoladas e carentes. Com o imenso potencial, o Brasil poderia utilizar mais a possibilidades turísticas existentes. Contudo, ainda faltam verbas fiscais para que a propaganda obtenha maior alcance.
Em 2015, A Embratur contou com apenas 17 milhões de dólares para promover o Brasil turisticamente no exterior. O valor é imensamente tímido quando pensamos nas dimensões do país e quando comparado aos 100 milhões de dólares da Colômbia e 60 milhões da Argentina. Com certeza é inicialmente essencial um esforço maior para a promoção brasileira no exterior.
No Brasil, mesmo com os baixos investimentos, segundo dados do Ministério do Turismo, em 2015 o setor foi responsável por gerar mais de 2,6 milhões de empregos diretos. Ou seja, o turismo é uma importante ferramenta para proporcionar melhorias econômicas e sociais ao país. Contudo, o Ministério do Turismo admite que apenas 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro é utilizado como receita internacional de turismo.
Com os eventos da Copa do Mundo e, mais atualmente, as Olimpíadas no Rio de Janeiro, muitos visitantes estrangeiros vieram ao Brasil, porém geram um aumento pontual de turistas no país. Fato ocorrido pela falta de investimentos em comunicação, marketing e divulgação do potencial turístico do Brasil mundo a fora.
Durante as Olimpíadas, por exemplo, a ação mais preponderante foi a isenção de visto para americanos, canadenses, japoneses e australianos até 1º de junho de 2018. A verdade é que desde os Jogos Pan-Americanos, em 2007, o Brasil tem sido bastante exposto internacionalmente, porém não tem aproveitado essa exposição para divulgar o setor turístico aqui existente.
O BRASIL PELO ESTRANGEIRO
Diante da crise política e econômica brasileira, as notícias vinculadas na mídia internacional não têm gerado uma boa visão estrangeira em relação ao Brasil. O número de notícias, que abordam os últimos fatos negativos ocorridos no país, estão cada vez mais camuflando a boa imagem do Brasil: como um país de belas praias, cachoeiras, cidades históricas e entre outras atrações. Para termos uma noção do problema, uma plataforma britânica, a “Foreign Travel Advice”, que divulga dados de cada país quando se trata de segurança, o Brasil aparece como um destino com alto índice de criminalidade. São abordados os assaltos à mão armada, os conhecidos “arrastões”, sequestros, entre outros acontecimentos, infelizmente, comuns no país.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2015 revelou que o Rio de Janeiro é a 23º capital mais violenta do país, ficando atrás de capitais como Natal, Fortaleza e São Luiz.
Para Marcello Tomé, professor da Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), a mídia internacional em relação aos acontecimentos do país é direcionada, principalmente quando se trata de um dos destinos mais procurados no Brasil, o Rio de Janeiro. “Há uma grande diferença nos índices de violência internos no Brasil e sua divulgação no exterior. Para termos uma ideia, a cidade do Rio de Janeiro é pensada como a capital mais violenta do Brasil. O principal indicador de violência é o número de homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Analisando esses dados, cidades como Curitiba-PR, Porto Alegre-RS, Fortaleza-CE, Recife-PE, Salvador-BA etc. seriam mais violentas do que o Rio de Janeiro, pois apresentam índices de homicídios por habitantes maiores do que o Rio”.
No entanto, segundo ele os casos de violência que ocorrem no Rio de Janeiro são amplamente divulgados no país e no mundo. Sendo assim a violência um fator importante para o turista estrangeiro deixar de escolher o país. Ele observa que “o turista estrangeiro percebe o Brasil principalmente por meio do Rio de Janeiro, por mais que São Paulo-SP seja a nossa grande metrópole. ”
PARA ESTRANGEIRO VER
No Brasil, existem duas realidades distintas: uma para o turista ver, e a outra que é vivida na periferia.
De acordo com o escritor Jaramillo Corrêa, é o livre jogo dos preços que mantém e agudiza a segregação socioespacial. Corrêa completa destacando que se criam duas cidades com uma realidade baseada na segregação e exclusão sociais, econômicas, políticas e culturais entre indivíduos. De um lado, os integrantes dos segmentos médio-alto e alto com acesso à cidade e a tudo que ela pode oferecer, de outro, os excluídos da e pela cidade.
O turismo tradicional é baseado no capitalismo mercadológico cujo objetivo é lucrar, tendo isso em vista isso, atrair turista estrangeiro é o modo mais rentável. De acordo com a Embratur, Instituto Brasileiro de Turismo de janeiro a outubro de 2016, o país arrecadou US$ 5,1 bilhões com o turismo internacional.
E para atrair o turista é preciso investir em infraestrutura e entretenimento, para não decepcionar os visitantes. Com isso, as regiões centrais recebem mais uma vez o dinheiro do Estado, enquanto a periferia continua segregada nos morros, sem lazer, sem moradia, sem chance.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2016, 56% dos cariocas jamais pisaram no Sambódromo. Localizado na região central do Rio de Janeiro, a Marquês de Sapucaí é palco do carnaval carioca há 32 anos. Só neste ano, a “cidade maravilhosa” recebeu mais de um milhão de turistas na maior festa popular brasileira.
Mas para participar dessa confraternização é preciso desembolsar dinheiro, no mínimo R$179. A festa é popular, mas o povo não está presente nas arquibancadas, está em casa assistindo pela TV.
A doméstica Patrícia Graciela Macedo, de 33 anos, morou durante nove anos na Rocinha, a favela mais populosa do Rio de Janeiro. Durante esses anos, ela não conheceu o Cristo Redentor, o Corcovado, o Sambódromo, nem a Lagoa Rodrigo de Freitas, pontos turísticos que atraem turistas do mundo inteiro.
Patrícia explica que não pode visitar esses locais por falta de dinheiro e tempo, mas ressalta que gostaria muito de conhecê-los. Ela faz parte da população pobre que devido à especulação imobiliária dos grandes centros urbanos vive na periferia, distante da infraestrutura, lazer e entretenimento oferecido para quem detém maior poder aquisitivo, incluindo os turistas.
Maximiliano Martin Vicente, doutor em história e professor da Unesp explica que o desejo de valorizar o turismo tradicional fez com que a iniciativa privada e o estado dessem uma atenção especial para os locais mais procurados pelas elites econômicas, oferecendo melhorias e concentrando setores relacionados com o turismo como hotéis, restaurantes e museus, deixando para depois os lugares onde vivem os setores menos favorecidos economicamente.
Neste sentindo, o turismo é uma atividade que via de regra os mais abastados podem usufruir por dispor de capital suficiente para estes momentos nos quais não precisa trabalhar. Aliado a isso a denominada cultura clássica ou elitista, a valorizava e a considera como parte importante para a formação cultural. Outros fatores poderiam ser indicados para responder essa questão, mas esses dois ajudam a explicar as razões pelas quais se consolidou o turismo como atividade de lazer e de cultura exercido pela classe dominante causando a segregação que vemos nas cidades turís