Conheça a aquaponia e entenda como ela vem conquistando espaço na produção orgânica
Você já ouviu falar na aquaponia? Conhecida por seus princípios ecológicos e por seu alto grau de aproveitamento, a aquaponia é uma técnica agrícola que permite a associação colaborativa entre a criação de animais aquáticos e o cultivo de plantas na água.
Ao pé da letra, a expressão é derivada da combinação de duas palavras: aquacultura e hidroponia. O primeiro termo nada mais é do que o cultivo de organismos aquáticos, como peixes e lagostas, por exemplo. Já a hidroponia se refere a produção de plantas sem solo, com suas raízes imersas na água.
Partindo da ideia de simbiose, em que dois organismos de diferentes espécies se relacionam beneficamente, a aquaponia consiste em um sistema fechado onde as fezes dos peixes funcionam como alimento para as plantas que, por sua vez, filtram a água e garantem a sobrevivência dos animais.
Em termos técnicos, a aquaponia é formada por um tanque com peixes em sua parte inferior e por uma superfície com plantas, na parte superior. As divisões são unidas por uma bomba d´água, que leva as excreções ricas em nutrientes para as plantas, e traz a água filtrada e oxigenada por elas para o local onde os cardumes são criados.
Vantagens e desvantagens dessa agricultura alternativa
Essa nova forma de cultivo agrícola também é o tema do trabalho de conclusão de curso da estudante de Ciências Biológicas da Unesp Bauru, Eva Raquel. O intuito do trabalho é contribuir para a popularização desse sistema e tentar baratear ao máximo o custo inicial, priorizando a utilização de materiais reutilizáveis ou recicláveis.
De acordo com Eva, essa alternativa possui como foco a redução do impacto ambiental e a produção sustentável e orgânica dos alimentos, já que não utiliza pesticidas, insumos ou agrotóxicos.
Além disso, a aquaponia é capaz de economizar até 90% de água se comparada com a agricultura tradicional, que usa 72% da água do país em seu sistema de irrigação. O acesso à verduras e legumes altamente nutritivos e a possibilidade de variar a produção também são apontados como vantagens da técnica.
Segundo a estudante, a aquaponia proporciona ainda o controle da proliferação de algas e fungos que trazem um sabor desagradável ao peixe, e aproxima o produto do consumidor final, reduzindo assim os gastos com a logística.
“Sem falar na questão da praticidade. Por ser vertical, essa forma de produção diminui a necessidade de espaço, tornando esse sistema muito compacto. Assim, não é necessário tanto
espaço como para produzir uma horta, por exemplo. É possível ter um sistema aquapônico até mesmo em uma kitnet”, explica a estudante.
Apesar dos benefícios encontrados no processo, a alternativa em questão ainda é pouco difundida no Brasil e demanda conhecimentos básicos em biologia, aquaponia, engenharia, e hidráulica.
A dependência de energia elétrica e o custo inicial elevado também aparecem na lista das principais desvantagens da técnica. Ainda assim, o método é um dos mais eficientes quando comparado a hidroponia, a psicultura e ao cultivo em solo.
Para a futura biológa, a hidroponia – técnica de cultivo sem solo – utiliza muitos nutrientes agroquímicos industrializados e não possui muitas opções de fertilizantes naturais para a compra. “Dessa forma, a aquaponia pode ser uma alternativa para produzir hortaliças hidropônicas sem a presença de químicos e, assim, mais saudáveis, com menor custo de produção e mais valorizados no comércio”, afirma.
Com relação a psicultura, a estudante conta que muitos peixes acabam sendo escoados para rios e esgotos próximos aos lagos onde ocorrem a criação de cardumes. Além disso, a prática exige que os dejetos dos animais sejam retirados constantemente, aumentando assim o consumo de água e os custos na produção. “Na aquaponia, ao invés de eliminar esta água rica em dejetos no ambiente, você passa a utilizá-la como fonte de nutrientes para o crescimento de hortaliças”, pontua.
Já o cultivo no solo, além de trabalhoso e lento, libera resíduos e insumos na terra, e contribui para que estes cheguem até os rios e lençóis freáticos. “Nesse sentido, o sistema aquapônico traz uma garantia maior de que as plantas vinguem e cresçam com qualidade, beleza e rapidez, sem que seja preciso irrigá-las ou fornecer adubos”, conclui.
Entendendo o processo do ponto de vista econômico
Com foco na população urbana, a aquaponia pode ser feita por qualquer pessoa que tenha interesse em produzir seu próprio alimento orgânico a partir de um pequeno espaço. Com fins terápicos, educativos e econômicos, a técnica pode ser aplicada em produções familiares ou com fins comerciais.
Além disso, essa técnica também foi desenvolvida por pesquisadores da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) em um modelo doméstico e um dos desafios da equipe é desenvolver um sistema que se adeque à produção em larga escala para fins comerciais.
Nesse sentido, Eva explica que além de não haver o desperdício de água, o sistema da aquaponia garante a maior produção de quilos de peixe se comparado com a aquicultura convencional. Além disso, a técnica permite que a produção em toneladas por hectare seja maior do que se tivesse investido no cultivo em solo.
Sem falar na economia dos gastos com suplementos, tanto para os peixes quanto para as plantas. Isso porque a água utilizada no processo possui altos níveis de fósforo, potássio e nitrogênio, o que reduz a necessidade de investir na compra destes elementos. A situação se repete com relação aos vegetais, tendo em vista que o sistema recicla os nutrientes para eles. Ainda assim, Eva explica que são necessários estudos mais aprofundados para comprovar a viabilidade econômica da aquaponia em comparação às demais produções.
Uma pesquisa feita em São Paulo no ano de 2017 comprova que a utilização de materiais recicláveis e doados podem baratear os custos na produção do sistema. “Neste caso, o custo inicial foi de R$832,79 e o retorno financeiro foi previsto em pouco mais de 10 meses e meio, sendo que o sistema avaliado contou com a produção mensal de 18 hortaliças e um tanque de peixes com 1000l de água abrigando 120 peixes”, pontua a universitária.
Levando este caso em consideração, Eva reforça a ideia de que os pequenos produtores podem recorrer aos materiais doados e reciclados em ferro-velhos, cooperativas de reciclagem, construções, indústrias e ecopontos, para obter o retorno financeiro mais cedo.
Para concluir
Como já vimos acima, a aquaponia tem algumas características próprias como os seus princípios ecológicos e o aproveitamento da criação de animais aquáticos e do cultivo de plantas na água.
Entre as vantagens está a ausência de pesticidas, insumos e agrotóxicos. Através dessa produção, os legumes e as verduras são mais nutritivos, além da economia de água que é capaz de atingir 90% se comparado com a agricultura tradicional. Outra vantagem é a facilidade de produção, já que esse sistema ocupa pouco espaço por poder ser feito de maneira vertical
Na lista das desvantagens podemos citar o custo inicial, a pouca difusão desse sistema alternativo ainda no Brasil e a dependência de energia elétrica que pode ser um fator decisivo na hora de investir na aquaponia.
Se interessou pela aquaponia? Tire suas dúvidas e aprenda passo a passo a montar um sistema de cultivo, nos vídeos a seguir.
Adriele Silva
Mariane Borges
Tatiany Garcia