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A ascensão da direita e do conservadorismo no mundo

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Por João Pedro Fávero e Mário Benedito

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Trump e Macron no encontro da OTAN, em Bruxelas

Durante o desenvolvimento da Revolução Francesa uma definição de ideologia política surgiu para representar os mais e os menos radicais: os girondinos eram conservadores (direita), e queriam manter o poder nas mãos do rei e da igreja, e os jacobinos (esquerda) eram os mais progressistas. Como a mudança de sistema de governo ocorrido na França influenciou a maior parte do ocidente juntamente com as teorias iluministas, essa nomenclatura espalhou-se e ganhou uma dimensão universal, principalmente depois das teorias de Karl Marx.

Durante o transcorrer dos séculos XIX e XX, a definição de ideologias políticas e as causas de lutas de cada uma delas foram mudando. Hoje no séc. XXI, em uma sociedade líquida descrita por Zygmunt Bauman, há até uma complexidade em dizer se alguém pertence ou não à esquerda ou à direita, que fazem essas nomenclaturas entrarem em decadência. Apesar disso, vivenciamos hoje uma grande guinada do mundo à direita e, principalmente, ao conservadorismo.

Jessé Souza em aula magna na Universidade Federal do ABC diz que: “a classe é montada como todo ser humano afetivo, emocionalmente e moralmente. Os seres humanos se tornam o que eles são ao incorporarem as pessoas que eles amam”. Se buscarmos a origem da definição que surgiu no século das luzes, veremos que havia uma luta entre a nobreza e a burguesia. Havia uma identificação de defesa e motivo para permanecer no poder e tomar o poder em cada uma delas.

Porém, durante todo o processo e desenvolvimento de ideologia e luta, cada classe buscou melhorar a forma de viver dela. Quando a burguesia toma o poder no séc. XVIII, vemos a busca por uma certa justiça social, já que a nobreza se apoiava financeiramente nos impostos pagos pela classe trabalhadora (algo não muito diferente do que vemos nos dias atuais). Partindo para o séc. XIX, a burguesia que tomou o poder agora explora os trabalhadores que antes eram camponeses e partiram para a cidade em busca de emprego, essa nova classe social que vive nas fábricas e em subúrbios são os atores da nova esquerda, que antes todos os burgueses faziam parte.

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A crise econômica provocada em 2008 pelos Estados Unidos e a subsequente falta de empregos fizeram as ideologias políticas se voltarem mais para o quesito econômico do que para o social. O professor Marcos Lisboa junto com Samuel Pessoa em artigo publicado na Folha de S. Paulo defende que: “os economistas tradicionais preferem as evidências dos dados, como na academia internacional. Já com a heterodoxia, a história é outra. Parte-se da conclusão. A visão de mundo determina os principais aspectos de funcionamento das economias”. E continuam: “No Brasil a diferença entre direita e esquerda decorre de diferentes maneiras de entender o funcionamento da economia. Trata-se, portanto, de diferenças de natureza positiva (como o mundo funciona), e não normativa (qual é o mundo desejado), ao contrário das divergências nos países desenvolvidos”.

Observamos isso no quadro político brasileiro claramente durante e após as eleições presidenciais de 2014. Com a recessão econômica do final do governo da presidente Dilma Rousseff somada às inúmeras acusações envolvendo o seu Partido dos Trabalhadores, que até então estava há 12 anos no poder, boa parte da população viu uma saída na figura do candidato Aécio Neves, do PSDB, novamente travando a clássica batalha dicotômica entre esquerda e direita clássica da política nacional representada entre os dois partidos.

Após o impeachment de Dilma e a subida de Michel Temer ao cargo de presidente, os dois lados se viram desolados e não representados pela política econômica adotada pelo governo, se tornando o governo com menor nível de aceitação pela população desde a redemocratização do Brasil. Ainda assim, o governo é marcado pelo avanço de pautas de viés conservador, como as polêmicas reformas trabalhistas, propostas pensadas principalmente para o empresariado e o crescimento das bancadas da bala, evangélica e ruralista, resultando em um freio para as pautas progressistas que há alguns anos estavam sendo discutidas na Câmara, como o aborto.

Faltando menos de um ano para as eleições presidenciais, os dois maiores pré-candidatos refletem a postura conservadora tanto para a direita quanto para a esquerda. Mesmo ainda sendo uma incógnita devido às eternas investigações da Operação Lava-Jato, a candidatura do ex-presidente Luiz “Lula” da Silva é tida como a única esperança para a esquerda no Brasil e principalmente para o PT, segundo o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali, em entrevista à BBC Brasil: “Ainda não é uma ideia ótima. O que isso mostra é a total falência do partido, que não conseguiu produzir uma nova geração de líderes que possa tomar a frente e fazer coisas melhores. Eles dependem do velho líder de São Paulo. Mas se (a candidatura de Lula) for feita de uma forma não apenas para se vingar, mas para reconstruir a política e fazer coisas boas, quem sabe?”. Ainda segundo Ali, o passo mais importante seria unir a esquerda à parte da imagem desgastada do Partido dos Trabalhadores: “Por isso seria interessante chegar a um acordo sobre um candidato de esquerda que não seja Lula, e que o PT possa apoiar”, apontando a fragilidade de renovação.

Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, fala sobre a existência de uma esquerda sazonal que aparece durante os anos eleitorais para induzir o eleitor: “Por volta no mês de agosto dos períodos pré-eleição presidencial, aparecem cerejas muito vermelhas, quase protorevolucionárias, vindas de árvores governistas que pareciam há muito dar apenas os conhecidos frutos amargos da austeridade. Então, quase que em um passe de mágica, começamos a ouvir na campanha eleitoral discursos com sabores proibidos de luta de classe, diatribes contra o sistema financeiro, promessas de investimento massivo em educação pública. Mutações incríveis ocorrem, como governos que permitiram os mais fantásticos lucros bancários da história, alimentando o sistema financeiro com títulos da dívida pública e juros exorbitantes, apresentarem os bancos como inimigos do povo. Tudo muito bonito. Infelizmente, a estação das cerejas vermelhas termina de forma abrupta no dia 27 de outubro, logo após a consagração do segundo turno das eleições presidenciais. Então as árvores voltam a dar os frutos cinzas que todos conhecem. Esta é a situação cômica na qual a política brasileira atualmente se encontra. Os mais sagazes sabem que as eleições presidenciais se ganham flexionando o discurso à esquerda”.

Indo contra a afirmação de Safatle e alinhado completamente à direita surge a imagem do deputado carioca Jair Bolsonaro como pré-candidato à presidência. Em segundo lugar nas intenções de voto no primeiro turno das futuras eleições (atrás de Lula), Bolsonaro se apoia em discursos polêmicos (muitas vezes de cunho homofóbico e machista) e principalmente em sua imagem de “político ficha-limpa”. O seu conservadorismo é mostrado no saudosismo pela ditadura militar, incluindo métodos de tortura, e suas propostas de governo que incluem segundo ele, acabar com o estatuto do desarmamento, diminuir o poder do Estado e a militarização de colégios públicos. Sua proposta quanto à economia é quase inexistente, a não ser por uma fixação no minério Nióbio e em sua exploração por outros países.

A popularidade de Bolsonaro se deve grande parte ao apelo que tem nas redes sociais, onde é exaltado como “Bolsomito” e “Messias” em uma infinidade de páginas e memes que circulam na internet que criam a imagem de um líder exótico e salvador da pátria. Consequentemente, o público jovem é o que tem maior tendência em votar no candidato, de acordo com uma enquete feita entre os eleitores.

Da mesma forma, os Estados Unidos acharam o seu líder exótico também na figura de Donald Trump, nas eleições de 2016. Munido de um discurso xenófobo e sexista, Trump acabou com o favoritismo de Hillary Clinton e durante o seu mandato oferece uma abordagem belicista, principalmente quando se trata da Coreia do Norte. Encorajados pelas falas e ações de Trump, grupos supremacistas brancos resolveram sair da toca em que se escondiam e tomar as ruas, como foi visto em agosto na cidade de Charlottesville, Virginia, em um comício conhecido como “Unite The Right” (Unir a Direita).

A crescente onda da direita também atingiu a Europa. Primeiro a decisão inglesa de deixar a União Europeia em 2016, pautando a fragilidade das suas fronteiras devido ao alto fluxo de imigrantes e refugiados da guerra síria. Durante as eleições francesas, em maio de 2017, a candidata da extrema-direita Marine Le Pen ficou em segundo lugar, perdendo para Emmanuel Macron, que também representa a direita, porém com uma abordagem menos rígida. O caso mais surpreendente, no entanto, veio nas eleições alemãs que viu pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, um partido de extrema direita conseguir representantes dentro do parlamento.

Não são por coincidência que os movimentos de direita crescem no mundo, apesar de cada país ter as suas particularidades. Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da PUC de São Paulo e autor do livro “O Pensamento Neoconservador em Política Externa dos EUA” elenca os motivos principais para isso, em entrevista ao jornal Nexo: “A primeira é de ordem econômica, derivada das transformações na estrutura econômica dos países desenvolvidos que têm feito desaparecer os empregos que exigem menor grau de instrução. Isso tem aprofundado a distância não apenas econômica mas espacial e cultural entre o topo e a base da pirâmide social nesses países, o que ajuda a reforçar os impactos de uma segunda razão, que me parece a mais importante: o processo de transição demográfica em países desenvolvidos, derivado da baixa taxa de natalidade combinada com altos índices de imigração. Nesse processo, “maiorias” vão gradualmente tornando-se “minorias”, o que gera um sentimento de deslocamento econômico-social e de perda de laços identitários, abrindo espaço para forças políticas que articulam uma narrativa nativista, construindo o estrangeiro como inimigo. Finalmente, uma terceira razão é a ascensão das redes sociais e de novas formas de consumo e de produção de informação, o que permitiu a difusão de ideias que de outra forma seriam bloqueadas pelos canais de comunicação tradicionais”.

O conservadorismo se mostra como uma forma de escudo, barrando as mudanças que algumas vezes são inevitáveis em uma sociedade, a fim de manter uma ordem que rejeita o multiculturalismo e mantém o Estado longe de promover políticas igualitárias.

Por fim, em palestra concedida a Casa do Saber, Vladimir Safatle define as duas correntes: “Eu definiria esquerda como igualdade radical e soberania popular, ou seja, é uma perspectiva que vai insistir a nossa vida social vai ser pautada por uma nossa radical de igualdade e todo poder é um poder que se faz em nome da soberania popular e ela tem direito de se apresentar em qualquer momento. A esquerda partiu para um lado compensatório que defende a minoria. Direita é uma defesa absoluta do princípio do livre mercado e uma elevação da ideia de indivíduo a ser elementar da vida social. E eu combato brutalmente os dois princípios. Eu acho que a ideia de livre mercado ela é uma ideia que deve ser limitada a um horizonte da vida e a gente percebe que essa ideia vai se generalizando e sendo um padrão racionalidade da vida social. Não só no campo da economia, mas no campo da cultura, no campo da política, no campo das artes, no campo da relação a si mesmo. A ponto das pessoas olharem para si mesmo e acharem que elas são empresárias de si. Os indivíduos têm relações entre eles baseados no medo porque eu tenho meus interesses e você tem os seus”.

 

Redação

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