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A ascensão dos E-Sports no período de quarentena

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Não é novidade que os esportes eletrônicos estão crescendo, mas o período de isolamento trouxe ainda mais relevância para a modalidade

Por Julia Tonin

É certo que a quarentena trouxe inúmeras mudanças no dia a dia das pessoas, tanto no trabalho, como nos estudos, e também nos esportes e nas opções de lazer. E é por conta dessas duas últimas mudanças que devemos dar atenção à uma modalidade, que principalmente agora, vêm ascendendo de forma significativa: os E-Sports. 

O que são E-Sports

Os E-Sports, ou jogos eletrônicos, vêm dominando o mercado gamer, e crescendo cada vez mais no cenário esportivo. Tem como uma das suas principais características a competitividade. Nem sempre o jogador está competindo com outra pessoa, porém, mesmo que sozinho, terá que competir contra a máquina. Há poucos anos os E-Sports vêm buscando sua consolidação como modalidade esportiva oficial, ganhando relevância e grande investimento em eventos e competições de jogos on-line. Times grandes consolidados, como o Flamengo por exemplo, têm investido fortemente em E-Sports. Sem deixar de lado o quanto são capazes de mover dinheiro e gerar renda.

Segundo a Pesquisa Game Brasil de 2020, 73,4% dos brasileiros jogam algum tipo de jogo eletrônico, e esse número ainda teve um aumento no período de quarentena e isolamento social, tendo também uma grande aderência dos praticantes de esportes convencionais, que por conta da pandemia, estão impossibilitados de praticá-los. Surgiram diversos amistosos, campeonatos menores, que antes não aconteciam com tanta facilidade como uma partida de futebol, por exemplo. Inclusive, os games têm ganhado força dentro do âmbito universitário.

Em entrevista, Lucas Florindo, jogador e técnico do time de League Of Legends da UNICAMP, e que também desenvolve um projeto de pesquisa sobre o perfil de treinadores de LoL no Brasil, falou como trata a relevância dos esportes eletrônicos com base em uma cultura lúdica e, de certa forma, acessível. 

“Quanto mais o esporte eletrônico se torna acessível, mais ele vai representar a cultura lúdica de uma geração. O free fire por exemplo, é uma ascensão  gigantesca dentro do meio, justamente por ser um jogo da categoria mobile, que é muito mais acessível pro público brasileiro.”  (Lucas Florindo).

Ele considera que quando se consegue ter essa acessibilidade, os jogos não demandam tanta estrutura para um evento, se torna uma modalidade barata de ser realizada e mais fácil de ter mais adeptos, “no meio de uma pandemia, pessoas conseguem se reunir para competir esportivamente dentro desse modelo”.

Existe uma contradição entre adeptos dos E-Sports e praticantes de esportes convencionais, que é sobre os jogos on-line serem considerados ou não uma modalidade esportiva de verdade e não somente um lazer. Dentro dos jogos eletrônicos, mesmo não envolvendo nenhuma atividade física, os jogadores precisam de bastante treino, disciplina e dedicação, como em qualquer outro esporte convencional. Leonardo Passarini, representante de E-Sports da Atlética da Unesp de Bauru, em entrevista, ressaltou que “Tem torcida, tem pressão, tem estratégia, os jogadores que estão ali em cima, que estão jogando profissionalmente, estão dando tudo de si, estão dando o sangue deles para a partida, para aquela vitória”.

Evento de LOL, “IWCQ”, realizado em 2016 em Curitiba. (Imagem: Divulgação)

Como tudo funciona

Existem quatro pilares fundamentais para um bom funcionamento dos E-Sports: as empresas dos jogos eletrônicos, ou seja, os responsáveis pela elaboração dos jogos; os jogadores, ou atletas da modalidade; as ligas, responsáveis por organizar campeonatos, criando regras e buscando patrocinadores; e as plataformas de streaming, que transmitem os campeonatos na internet, grandes responsáveis por tamanha visibilidade dos jogos.

Lembrando que os jogadores podem inclusive seguir carreira profissional, tanto individual como em grupo, recebendo remuneração, tanto dos prêmios de campeonatos, quanto de times e patrocinadores. E, assim como atletas de outros esportes, os jogadores profissionais chegam a dedicar treze horas por dia em treinos que antecedem campeonatos importantes.

Principais jogos

League of Legends, Counter Strike, Rainbow Six, Fortnite e Fifa são os jogos mais populares atualmente.

Maior adesão na quarentena

Em entrevista, Ulisses Sandes, de 22 anos, estudante de Engenharia Elétrica, contou que antes da quarentena costumava praticar natação, corrida e ir à academia, e agora tem optado por modalidades em casa e jogos on-line, “Já jogava alguns jogos antes da quarentena, mas hoje é com maior frequência. Como não posso mais praticar esportes ao ar livre, não quero ficar só vendo TV nas horas vagas, acabei pegando gosto pelos E-Sports.”

E não é só para jogar que os E-Sports estão sendo utilizados no período de isolamento. Segundo uma matéria publicada na seção de Economia da UOL, no dia 23 de abril, 12,3 milhões de pessoas, de diferentes partes do mundo, se reuniram dentro do Fortnite, uma das modalidades de jogos eletrônicos, às 20h, para assistir um show do rapper americano Travis Scott. Numa aliança entre games e indústria do entretenimento, esse evento foi a prova de que os E-Sports conseguem, e vão, se consolidar como um grande nicho esportivo e de entretenimento. 

Imagem de divulgação do evento do jogo Fortnite, com show do rapper Travis Scott (Imagem: Divulgação)

Segundo Ulisses, parte dos seus amigos também aderiram aos jogos on-line, e juntos, utilizam a ferramenta de chat para interagir. “Com o Home Office e demandas da graduação, o formato de reunião para conversarmos acaba cansando. Optamos pelos jogos para conversar durante a partida, dar risada, trocar ideias, acaba sendo um bom momento de descontração, melhor do que as redes sociais por exemplo, que na minha opinião saturaram um pouco.”

Outro ponto a ser destacado, é a adaptabilidade dos esportes eletrônicos. Durante sua fala, Lucas Florindo explicou “Jogadores jogam de suas casas, apresentadores/narradores seguem atuando também de suas casas, o que não é novidade pro esporte eletrônico, pois essa já era a realidade das competições antes do crescimento E-Sport. Tudo é feito de maneira remota, da forma mais barata possível.”

Prática no ambiente universitário

Segundo o entrevistado Leonardo, para ele, pessoas que eventualmente jogavam e se afastaram dos games por conta da faculdade e trabalho, com a chegada do home office e obrigação de ficar mais em casa, se reaproximaram dos esportes eletrônicos. Lucas pontua que além do aumento da adesão, aumentou também o tempo que as pessoas têm disponível para os jogos, “Nos campeonatos e jogos que eu atuo deu pra sentir uma grande diferença no quanto surgiram novos jogadores e como os torneios tem aparecido com mais frequência também, inclusive os universitários.”

Logo do time de E-Sports da Unesp Bauru (Imagem: Divulgação)

Dentro dos times universitários, existem algumas regras como o time todo ser parte de uma universidade, sendo parte ou não da instituição Atlética. Na Unesp de Bauru, a qual Leonardo é representante, o time é uma instituição a parte, conhecida como “Texugods”. Ainda dentro da Unesp, recentemente foi lançado o TEU, Torneio de E-Sports Unespianos, exclusivamente para alunos e times da Unesp, de todos os campus. 

Em jogos universitários, como o InterUnesp, os E-Sports são uma modalidade experimental. Para Leonardo, a modalidade deveria ser somada na pontuação também, “primeiro pelo tamanho dos esportes eletrônicos e pelos números que estão alcançando no mundo inteiro, e também pela parte econômica, porque para um treino dessa modalidade, você gasta muito pouco ou nada. Já faz muito tempo que está como experimental e as pessoas já viram que dá certo”. Para um campeonato de E-Sport ser realizado, o custo é baixo, já que os jogadores não precisam se locomover, promovendo uma integração entre times de baixo custo.

Os três entrevistados não vêem os esportes eletrônicos como uma substituição aos esportes convencionais, porque cada modalidade tem o seu público e já existe uma estrutura muito bem consolidada. Ulisses citou também que “acho bem legal o incentivo por parte das universidades, já que se torna uma opção para pessoas que não se dão bem ou não gostam de esportes convencionais também participarem de jogos e competições”. Para Leonardo, para quem gosta de torcer, o esporte eletrônico vale com uma alternativa para o momento. E para quem tem curiosidade de conhecer e interesse em aprender, essa é a hora de se aventurar.

Redação

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