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A Era Plástica: o desastre natural causado pelo consumo desenfreado de plástico

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As indústrias de itens plásticos cresceram exponencialmente nas últimas dezenas de anos. O aumento de produção se deve principalmente ao consumo, também crescente, de alternativas descartáveis e rápidas para o cotidiano humano em um mundo industrializado.
Mesmo pouco correta ecologicamente, a produção mundial de plástico tomou proporções gigantescas em todo o mundo: em 1950, a produção era de 2,3 bilhões de toneladas anuais, enquanto em 1993 esse número já subia para 162 bilhões de toneladas. Em 2015, a produção de plástico no mundo já contava com 448 bilhões de toneladas de produtos feitos todos os anos. E esse número continua a crescer.
Atualmente, o segmento da indústria de plásticos que abrange maior consumo e produção é o setor de embalagens. A durabilidade do plástico o torna um item prático e, ao mesmo tempo, terrível, já que mais de 450 anos é o tempo necessário para a decomposição deste material.
Números impactantes comprovam a dimensão do consumo humano desenfreado a este material tão maléfico para o meio-ambiente. Por exemplo: cerca de um milhão de garrafas de plástico são vendidas a cada minuto em todo o planeta, de acordo com um levantamento feito pela National Geographic.
O tempo de uso desses materiais também é destaque de consumo inadequado. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) mostram que 89% do plástico que se encontra nos oceanos do mundo são itens de uso único, ou seja, descartáveis, como sacolas, canudos, utensílios diversos e embalagens, itens pouco úteis e extremamente desnecessários.

Lixo plástico

(Foto: Randy Olson/National Geographic)


Em comunicado à imprensa, a UNEP alegou que realizou um estudo e que sacos de lixo foram descobertos na trincheira oceânica mais profunda do mundo, a Marina Trench. A região se estende por mais de 10 mil metros abaixo da superfície da água. “Encontrar plástico no fundo do oceano revela a ligação devastadora entre a atividade humana na terra e as consequências da vida marinha abaixo da água”, revelou o programa das Nações Unidas.
O biólogo Cláudio Gonçalves Tiago, professor do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP), destacou em entrevista à BBC a necessidade de educar a população: “O plástico revolucionou a humanidade e nos permitiu um avanço considerável de desenvolvimento. Não devemos vilanizá-lo”.
Cláudio lembra que o problema, em si, é o destino errado que damos a este material. “Precisamos ensinar as pessoas como descartar esses objetos e pressionar por novas tecnologias biodegradáveis”, reforçou.
Oceano Plástico
Em 2015, quase sete bilhões de toneladas de detritos e lixo plásticos foram geradas no planeta, e apenas cerca de 9% deste volume foram destinados à reciclagem, 12% foram incinerados e o restante, 79%, é mantido em pedaços de terra destinados ao acúmulo de lixo ou despejado incorretamente no meio-ambiente.
Exemplo de irresponsabilidade ambiental, o descarte indevido deste material impactou nos mais de cinco trilhões de pedaços de itens de plástico que já flutuam nos oceanos do planeta, segundo informações da Nat Geo. Em todo o mundo, 73% de áreas litorâneas já são contaminadas por itens como caixas de cigarros, garrafas, tampas, embalagens, sacolas e outros objetos.
O presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Peter Thomson, destacou em comunicado que, atualmente, o equivalente a um caminhão de lixo repleto de plásticos está sendo despejado nos oceanos a cada minuto.
Plástico no oceano

(Foto: Randy Olson/National Geographic)


Esses dejetos são transportados nos oceanos por correntes marítimas, podendo acabar sendo aglomerado em grandes quantidades em porções de terras não habitadas por seres humanos. Nesta situação, quem sofre diretamente com a irresponsabilidade humana é a vida animal.
A ONU estima que 90% das aves marinhas já ingeriram plástico alguma vez em suas vidas. Jennifer Laves, cientista que estuda a vida de aves marinhas, relatou à ONU que “276 pedaços de plástico já foram encontrados dentro de um filhote de frango de 90 dias. O peso do plástico era equivalente a 15% do corpo daquele pássaro. É uma estatística assustadora que (…) se traduzirmos isso em termos humanos, seriam cerca de 6 a 8 quilos de plástico no estômago”.
Mobilização mundial
A responsabilidade ambiental está batendo na porta das nações que impactaram de forma agressiva na produção e no consumo de plástico em todo o mundo. Decisões de grande simbolismo para o ativismo ecológico estão sendo tomadas, e a criação de alianças internacionais também surpreende a união de potências e países emergentes na luta contra a morte dos oceanos.
 
Todos os continentes do planeta estão se mobilizando. Aos poucos, o impacto tende a ser reduzido e maior conscientização sobre a temática deve mudar, de forma lenta e gradual, os hábitos de consumo desses países.
O primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, apresentou neste mês plano ambicioso contra a poluição ambiental: ele se comprometeu a eliminar o uso de materiais de plástico descartáveis até 2022. O intuito é diminuir o impacto causado pelos desperdícios gerados pelos 1,3 bilhões de habitantes do país.
Já no Canadá, após relatório apontar que os canadenses utilizam cerca de 57 milhões de canudos plásticos descartáveis em um único dia, o plano de redução Zero Waste, em Vancouver, busca reduzir pela metade níveis de resíduos sólidos destinados a aterros ou incineradoras.
No futuro, a proibição deve ser aplicada também em recipientes descartáveis ​​de isopor e copos plásticos, diminuindo cada vez mais o impacto ambiental.
Aguardando apenas aprovação do prefeito Marcelo Crivella, a cidade do Rio de Janeiro pode ser a primeira no Brasil a vetar o uso de canudos plásticos em estabelecimentos alimentícios. Com uma multa prevista de até R$ 3 mil aos locais que descumprirem a lei, o projeto está em sincronia com a crescente movimentação global de combate ao lixo plástico.
Até mesmo uma das maiores potências mundiais pode banir canudos plásticos descartáveis em seus restaurantes. A cidade de Nova Iorque, nos EUA, está cogitando o banimento deste item em projeto de lei que circula na Câmara Municipal.
Relatório recentemente divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra também que o Quênia é outro país que deve proibir localmente o uso de sacolas plásticas. Além disso, o Sri Lanka pretende banir o uso de isopor e a China deve adotar em larga escala uso de sacolas biodegradáveis como alternativa ao plástico.
Diante das maiorias das proibições, legislações locais estão aplicando multas com valores consideravelmente altos para aqueles que infringirem as restrições em prol de decisões ecológicas.
Animais marinhos

Os animais marinhos sofrem muito com a poluição plástica. (Foto: Justin Hofman/National Geographic)


Ativismo e alianças pela mudança
A Aliança de Oceanos Limpos da Commonwealth (CCOA) busca ajudar nações em desenvolvimento a gerenciar e melhorar o manuseio de resíduos e lixos que influenciam na poluição plástica dos mares. O recente acordo entre países como Reino Unido, Nova Zelândia, Sri Lanka, Vanuatu e Gana atuará na aplicação de medidas significativas na redução de lixo e, consequentemente, poluição plástica.
O investimento britânico à Aliança é de 61,4 milhões de libras, sendo que 25 milhões irão apenas à pesquisa científica, econômica e social sobre poluição plástica marinha. Já outros 20 milhões serão repassados aos países parceiros, na redução do uso de material. E 16,4 milhões de libras serão utilizados para melhorar a gestão de resíduos em níveis municipal e nacional.
Em comunicado à imprensa, a primeira-ministra do Reino Unido. Theresa May, contou: “[A poluição por plástico marinho é] um dos desafios ambientais mais significativos que o mundo enfrenta atualmente, é vital que abordemos essa questão, para que as gerações futuras possam desfrutar de um ambiente natural mais saudável do que o encontramos atualmente”.
Já sobre campanhas, uma recente da Nat Geo chamada “Planet or Plastic?” (Planeta ou plástico?) reúne imagens impactantes e informações completas sobre a destruição ambiental e o sofrimento de animais marinhos diante dos impactos diretos que o consumo humano desenfreado gera no ecossistema terrestre.
Ainda, a National Geographic Society planeja uma expedição em 2019 para providenciar informação com base científica, em prol de “investir mais efetivamente e implementar alternativas inovadoras” nesta batalha contra os resíduos plásticos.
Engajada em causas ligadas à preservação ambiental, a ubermodel Gisele Bündchen é uma das celebridades que entrou no hall de famosos ativistas contra o plástico utilizado de forma irresponsável.
Com influência global, a modelo de 37 anos é protagonista na defesa do meio ambiente, e recentemente divulgou em seu Instagram uma campanha da UNE, sigla em inglês do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que chama atenção para o uso desenfreado de sacolas.
Mudanças nos hábitos de consumo
Com desejo de mudanças após tomar consciência do impacto do plástico no meio ambiente, a estudante de Relações Públicas Jade Mustafa conta que parou de consumir copos plásticos e canudinhos. “Comecei o processo [de mudanças de hábito de consumo] para não contribuir com o aumento de descarte plástico no mundo. A mudança inicial foi levar caneca para o estágio para não utilizar copinhos, por exemplo”.
Há quatro anos, a bióloga Barbara Mello também restringiu o uso de plásticos em sua vida, mas em grande escala. Ela conta que expandiu sua consciência sobre essa temática durante sua graduação, e ressalta que “existem muitas coisas que usamos que são desnecessárias na rotina, mas que causam um impacto enorme na natureza”.
Após ter aprendido ideias de estilo de vida sustentável em uma ecovila, decidiu começar a remanejar resíduos e rever prioridades de consumo em sua vida na cidade. “Existe uma grande diferença entre necessidade e comodidade. Eu e meu companheiro sempre discutimos sobre o consumo, e tentamos fazer da forma mais consciente possível”.
A bióloga não utiliza canudos e sacolas plásticas, evita guardanapos de papel, separa o lixo orgânico do reciclável e, dentre os recicláveis, conta que ainda reaproveita os materiais para criar brinquedos para seu filho.
“Às vezes sou chata porque tento fazer a galera pensar. Para comer você só precisa das mãos e um guardanapo, que pode ser de tecido”, reiterou Barbara, chamando atenção para o lixo desnecessário e excessivo criado em apenas uma rotineira refeição em uma lanchonete qualquer.
Lixo plástico

(Foto: Randy Olson/National Geographic)


Para diminuir o impacto
O tempo previsto para a decomposição de itens plásticos vai de cerca de 450 anos até períodos indeterminados. Sendo assim, a utilização de itens de uso único e rápido é irresponsável já que sacrifica a natureza com uma poluição centenária apenas por segundos de utilidade e conveniência com embalagens.
É esperado que a produção desse material triplique até o ano de 2050, juntamente com o aumento populacional no planeta. Neste ano, é estimado que haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.
Infelizmente, apenas uma pequena fração do plástico produzido ao redor do mundo é destinada à reciclagem.
Alternativas pessoais, de baixo impacto, para menor impacto na natureza são a utilização de canudos, talheres e copos feitos de material inoxidável, que podem ser lavados e reutilizados conforme necessário, sem ser obrigatório o descarte. O hábito de carregar consigo materiais substitutivos ao plástico deve ser visto como rotina na luta contra esses resíduos.
No documento que consta decisões tomadas por líderes mundiais na Conferência sobre os Oceanos da ONU de 2017, está previsto: “Impulsionar ações para prevenir e reduzir significativamente a poluição de todos os tipos, particularmente de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos, plásticos e microplásticos”.
O documento salienta que implementar estratégias invasivas e de longo prazo para reduzir o uso de plásticos e microplásticos, “particularmente sacolas plásticas e plásticos de uso único”, estão previstas como plano de ação internacional da ONU.
A bióloga Barbara Mello finaliza: “No atual sistema em que vivemos, a felicidade gira em torno do consumo material. Praticamente toda atividade rotineira tem desperdício de materiais mas, na realidade, a gente precisa de pouco para viver”.
Com tantas ações globais juntamente com mudanças de hábitos da população e decisões e legislações ao redor do mundo para diminuir o impacto, é possível que alternativas de reciclagem e incentivo ao menor consumo em quantidade sejam opções a serem agregadas em milhões de vidas humanas, podendo impactar de menor forma a natureza e salvar milhares de vidas animais.
Foto de capa: Randy Olson/National Geographic 

Redação

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