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A vitalidade como fonte da juventude

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Espírito Jovem. FOTO: Reprodução

Ser velho é muito mais um estado de espírito, a velhice não está no corpo, está na cabeça

Por Bruna Moura, José Miguel Toledo, Stephany Mello e Yara Lombardi

A questão da trajetória do ser, dos primeiros aos últimos passos em vida, abrange histórias, algumas vezes associadas à idade. Idade é um número, tido e imposto como limite. Entretanto, tal armadura é facilmente dissociável quando se há a energia e a força de viver. As histórias e individualidades de cada um seguem sempre direcionando uma vida repleta de surpresas e emoções.

Confira a seguir o relato de duas histórias muito bem vividas nos arredores de uma cidade conhecida como Piracicaba (SP).

A trajetória de vó Lurde, de Piracicaba, serve de inspiração para os dias de hoje

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Vó Lurde. FOTO: Stephany Mello

Em uma casinha branca e verde, localizada no bairro Jardim Tatuapé em Piracicaba, mora há trinta anos Teresinha de Oliveira Jesus, mais conhecida como Vó Lurde. Uma senhora de 85 anos, bisneta de escravos, viúva, mãe de Bernadete de Oliveira Jesus, que lhe dera 3 netos antes de falecer há 10 anos.

Vó Lurde, depois de trabalhar como roceira e professora de datilografia, leva sua vida em função de ajudar quem precisa. Em sua casa vivem sete pessoas, todas sem qualquer vínculo familiar com ela, e estão ali porque em algum momento apareceram em busca de ajuda. “Se for contar dá umas setenta pessoas que eu tirei da rua, tirei da droga”, diz ela. Além dessas, há outras tantas que a procuram para receberem massagens e orações de cura.

Dentre os moradores da casa, estão: uma mulher e seus dois filhos pequenos, vindos do Rio de Janeiro há 9 meses, um menino de 20 anos, largado aos berros em frente a sua casa há 19 anos e uma menina de 6 anos de idade aproximadamente, que já é a terceira geração que Lurde ajuda a criar. “Pego todas as crianças e ponho na escola”, relata a vó.

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Crianças de Vó Lurde. FOTO: Stephany Mello

Esse desejo de ajudar, além de fazer parte dos princípios de sua família, é um dom recebido por ela quando criança, “foi um dia em que senti ter que sair no quintal ver uma jabuticabeira, era um dia de sol bonito, a casa que sempre estava cheia não tinha ninguém, quando cheguei no quintal escutei uma voz lá do céu ‘eu te escolhi’, eu procurei não entendi direito, ai falou meio rindo ‘eu te escolhi’, mas eu não conhecia nem bíblia nem nada, então desceu meio que dois anjos, anjos mesmo com aquelas asas que arrastavam no chão, até arrepia, pararam do meu lado”, e segundo ela, disseram que Jesus era quem havia lhe dirigido a palavra. A partir de então única coisa que queria era saber quem era Jesus e aprender tudo sobre ele. Depois de arrumar um livro sobre sua vida, não se passaram 20 dias e estava pregando sua palavra. Até hoje vó Lurde diz sentir intensamente uma presença de luz e é o que a motiva a fazer o bem.

“Ser missionária pela igreja Adventista foi um reflexo desse dom. Admiro muito apóstolo Paulo e tenho dois grupos de adventista que eu formei, sou missionaria mesmo, gosto da missão, por isso que o povo gosta de mim, não por causa da massagem, mas por causa da oração”, diz ela.

Segundo vó Lurde, a vontade de curar as pessoas, quando criança, só aumentou, isso foi o que a impulsionou a estudar massagem e enfermagem em São Paulo. Com o certificado, ela diz poder confirmar suas habilidades a qualquer um que a procura. E complementa, “eu não cobro. As pessoas se gostarem e quiserem me ajudam com mantimento, dinheiro […] Eu sobrevivo com isso e tem um tanto que recebo por mês do governo”.

Nascida na Vila Rezende, em Piracicaba, ela conta que seus bisavós fizeram parte dos últimos escravos que trabalhavam para os barões. E toda família têm uma relação muito forte com o Engenho Central, famoso cartão postal da cidade, pois trabalharam por muitos anos para os senhores de engenho.

“Minha bisavó chamava Perpétua e tinha quase 130 anos quando morreu”, a vó, muda a feição, se levanta e interpreta Perpétua com veemência. “Eu já foi da escravidão eu cozinhava lá eu não apanhava não, Perpétua era tratada aqui ó. E eu fazia aquela comida memo gostoso pos home e acabava comida nego queria mai”. E nessa intensidade a vó narra também o casamento arranjado entre Perpétua e Serafim, um escravo forte e bonito, que foi escolhido para dar bons escravos. “Naquele tempo tinha que casar com quem aqueles véio queria, não era com quem ocê queria não. E eu gostava de Serafim. Serafim era aquele negro bonito, dos zóio grande. Já sei com quem você vai casar com aquele lá, e não era Serafim. Não ocês querem que eu case com esse aqui memo… a ta bom. Quando é daqui a pouco, não é melhor com Serafim, acho que dá um par mais bonito ele é forte, você também é forte, dá uns escravos bonito bem arrumado. Serafim eu não quero! Eu falava que não, mas era esse memo que eu queria. Não eu não quero esse home não. O que que eu vai faze com esse home. Eu não quero. E eu piscava pra Serafim. É com ele mesmo que você vai casar. Ai fizeram meu casamento com Serafim e ai nóis foi feliz que seis tão ai com nossas coisas… ai vivi bem com Serafim.”

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Em atendimento. FOTO: Stephany Mello

Quanto a sua família, todas as mulheres estavam a disposição de ajudar os outros. Sua mãe mesmo deixara 9 crianças para ela cuidar quando faleceu. Todo esse sentimento de compaixão parece estar enraizado em sua essência. Para vó Lurde o desejo de curar o sofrimento do outro é sempre o que mais importa.

Na dança, o segredo da vitalidade

Nascido em um sítio em Potirendaba, Ambrósio Martins Caldeira, de 86 anos, vive o melhor da vida sem dores e solidão.

Ao chegar pela manhã em seu apartamento fui recebida com um grande sorriso e em poucos momentos uma cerveja já estava na mesa. Seu Ambrósio, um senhor boêmio de Piracicaba, tem um cronograma noturno animado, que se inicia na quinta-feira e acaba no domingo com um bom forró.

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Seu Ambrósio. FOTO: Stephany Mello

A dança, uma de suas maiores paixões, está em quase todas suas saídas, “a dança me faz bem é uma terapia sabia? É melhor do que caminhar. Aprendi a dançar vendo meu pai e minha mãe dançando. Quinta-feira normalmente vou no Sesc ‘Quintas de Canto’, sexta vou para o bar do João, sábado, quando estou descansado, vou para o bar Colombina e domingo tem forró no Estação”, diz Seu Ambrósio. “Sempre gostei de sair, mas antes quando minha esposa era viva era mais com casais. Hoje sozinho saio por aí sem hora pra voltar, pra sair tem mas pra voltar não tem, mas sem extrapolar.”

Transferido para Piracicaba, em seu posto de escrevente de cartório, Ambrósio chegou com sua esposa em 1955 e só se mudou para Santos por dois anos quando se aposentou em 1982, com 52 anos. Ele relata, que sua esposa faleceu muito jovem, com 54 anos, deixando 2 filhos. Por esse motivo teve que aprender a viver sozinho cedo. Sobre a solidão seu Ambrósio expõe que nos dias em que sai ela corre dele que nem diabo corre da cruz. E um dos segredos para sua boa condição está, segundo ele, em não fazer inimigos e evitar carnê, “se tem dinheiro compra, se não tem, não. Preocupação de carnê estressa. Me alimentando bem e com uma noite de sono boa, não sinto dores, não me lembro de ter sentado em frente ao médico. Claro, tive que fazer dentadura e ir ao oftalmologista, mas só.”

Devido a sua boa saúde, seu sobrinho cardiologista quer saber o porquê está tão bem, pois fuma e bebe socialmente, seu Ambrósio então o questiona que como um bom médico ele é quem deveria saber, e a resposta de seu sobrinho sempre está pautada em um “bom” problema genético.

 Seu Ambrósio comenta que ao contrário dele, aposentado que fica em casa fechado o dia todo e não sai, tem tendência a depressão e outros problemas de saúde. “Quando alguém não conhece gente, não bate papo e nem dança fica doente mais fácil.”

Essa sua fama boêmia o levou ao carnaval. O sambista Juca Ferreira, o dono do bar Colombina Pablo e a professora Vanessa, o usaram de inspiração para fundar o bloco “Cordão do Mestre Ambrósio”, que conta com sua ilustre presença há oito anos. Este ano em sua nona edição, o bloco saiu no dia 25/02 às 17h da praça da Boyes, e percorreu a avenida Beira Rio até chegar ao largo dos Pescadores, que recebeu na sequência o samba de Juca Ferreira e Amigos e a apresentação da Escola de Samba Unidos da Rua do Porto.

Seu Ambrósio diz que com o bloco ele ficou mais conhecido e que todos podem participar, “o bom que vai criança, jovem, velhinhos. Tem uns parceiros de minha idade, mas estão com dificuldade de chegar lá em baixo”, complementa com ar de riso.

Quanto a relacionamentos, o mestre diz estar muito bem solteiro. “Uma vez fui ao saudosista, um clube de terceira idade. Uma senhora, a mais nova de lá, dançou comigo umas duas vezes e quis ir para minha casa. Chegando lá abriu a janela e falou ‘nossa eu queria morar aqui’, mais do que de pressa falei ‘aqui não! aqui sai uma entra outra’, ela ficou brava até me chamou de radical.”

Seu Ambrósio relata que um dos fatores que o mantém solteiro é o fato de ser muito difícil ir ao baile e dançar com apenas uma mulher. E normalmente essas as mulheres são mais jovens, pois as senhoras de sua idade não frequentam os mesmos lugares que ele.

Com uma vitalidade inquestionável e histórias fantásticas de vida, seu Ambrósio finaliza a entrevista, com o mesmo sorriso que começou, ressaltando o quanto a vida é boa e como adora viver.

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Boêmio de Piracicaba. FOTO: Stephany Mello

Redação

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