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Agtechs do estado de São Paulo sobrevivem à pandemia por meio de tecnologias inovadoras

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Startups do agronegócio conseguiram se manter no mercado durante a quarentena com soluções que tornam possível o distanciamento social

Por Geovana Caroline Alves

Porapak Apichodilok/Pexels)

Antes de começar uma plantação, o produtor sempre busca ter certeza de que a terra escolhida é a mais adequada para o seu cultivo. Da mesma forma agem os fundadores das agtechs quando elas ainda são apenas uma ideia em suas cabeças. 

Ao contrário do que alguns imaginam, essas empresas tecnológicas e inovadoras do agronegócio não surgem do nada. Elas são fruto de extensas pesquisas de mercado e validações de problemas, porque a proposta é que os serviços oferecidos por elas sejam realmente úteis para os clientes. 

Para alcançar esse objetivo, os desenvolvedores constroem uma versão simplificada, conhecida como produto mínimo viável (MVP), com os recursos necessários para entregar a principal proposta de valor da ideia. 

Ao finalizar essa etapa, o ideal é divulgar a solução para parceiros e clientes potenciais, como explica o engenheiro agrônomo e fundador da SarDrones, Luis Gustavo Silva Scarpari. 

“Envolver os clientes-chaves no processo de desenvolvimento, não só na pesquisa de mercado, foi um grande aprendizado, porque percebemos que ainda precisávamos melhorar em alguns pontos”, disse o engenheiro agrônomo. 

(SarDrones/Divulgação)

Foi com essas informações que a agtech sediada em Ribeirão Preto  melhorou seu protótipo, entrou em operação, começou a fechar contratos e, consequentemente, a faturar. 

Agora, dois anos após sua fundação, a SarDrones está presente em propriedades do Goiás, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais e de São Paulo.

Controle biológico por meio de drones

A startup possui uma frota de drones trabalhando como dispensers inovadores de agentes biológicos, como cotesias, trichogrammas e telenommus, que são liberados já eclodidos em sachês oxibiodegradáveis.

Para garantir que esse serviço seja preciso, o time da SarDrones faz análises técnicas das coordenadas da área em que o equipamento irá fazer as aplicações. Assim, eles conseguem elaborar planos de voo de forma precisa, com grande rendimento operacional e respeitando o número de pontos por hectare solicitados pelos clientes. 

(SarDrones/Divulgação)

Atuação durante a pandemia

Como todas essas etapas permitem certo distanciamento, a empresa continuou a prestar seus serviços normalmente durante a pandemia do novo coronavírus. Contudo, Scarpari explica que contratos que estavam para começar em março foram adiados e as negociações foram afetadas.

“Era um faturamento que eu entendia que ia acontecer e acabou não acontecendo. Algumas negociações que eu estava conduzindo pessoalmente foram adiadas, outras foram transformadas em online, mas não é a mesma coisa”, disse o fundador da SarDrones. 

Ainda segundo o engenheiro agrônomo, a startup conseguiu se sair bem da situação e aprendeu muito com os acontecimentos. A expectativa agora é encontrar um investidor para expandir o atendimento.  

Na mesma direção está a AgriConnected, que precisou intensificar sua comercialização por meio dos canais online após as feiras de agronegócio regionais e nacionais serem canceladas durante a quarentena.

A medida foi necessária porque a agtech com sede em São Paulo realizava a maioria das vendas nos eventos e registrava poucas entradas online desde a sua fundação em 2017. 

AgriConnected/Divulgação

Agora o cenário é outro e até mesmo as demonstrações são realizadas de forma remota, como explica a head de desenvolvimento de negócios da AgriConnected, Barbara Seixas.

“Com a pandemia, a gente teve que intensificar a comercialização nos meios digitais. Tanto entrar em contato com clientes, quanto realizar a própria venda e fazer demonstrações da ferramenta online”, disse Seixas.  

Ainda segundo ela, os outros processos não foram afetados, porque o modelo de negócios da empresa é todo remoto. Eles preparam o dispositivo, fazem a montagem e enviam pelos correios. Na sequência, o treinamento e acompanhamento são feitos online. 

Por oferecer esses diferenciais, a AgriConnected conseguiu aproveitar bem o aumento da procura por ferramentas que fazem a gestão das fazendas de maneira remota. A empresa até mesmo precisou contratar um novo profissional para a área comercial. 

Sistema universal

Outro ponto de destaque é a universalidade da solução, que funciona em máquinas agrícolas de todas as marcas, modelos e anos de fabricação. O preço do dispositivo também é mais acessível do que os oferecidas no mercado. 

AgriConnected/Divulgaçã

De acordo com Seixas, essa somatória de fatores permite que eles atinjam diversos perfis de clientes e atuem em fazendas de diversos cultivos, como soja, café, citrus, abacate e uva.

“O que acontece hoje em dia é que as tecnologias estão disponíveis, mas para as máquinas modernas e mais caras, e a gente leva isso para o pequeno e médio produtor também”, explicou a head de desenvolvimento de negócios

Atualmente, a startup tem clientes em 14 estados brasileiros e atua em todas as regiões do Brasil. A AgriConnected também está presente na  Argentina, no Paraguai e na Colômbia.

As agtechs em números

O Brasil possui 1.125 agtechs, de acordo com o estudo “Radar AgTech Brasil 2019: Mapeamento das Startups do Setor Agro Brasileiro”. Destas, 17,3% estão inseridas na categoria de antes da fazenda, 35,2% dentro da fazenda e 47,2% depois da fazenda. 

Os segmentos que mais se destacam em números de startups são: de alimentos inovadores e novas tendências alimentares (246), seguido de sistemas de gestão agropecuária (122) e plataformas de negociação e marketplace de vendas (95). Já as categorias aquicultura, diagnóstico de imagem, indústria 4.0 e sementes e mudas possuem menos de 10 empresas cada. 

Radar AgTech Brasil 2019/Reprodução

Do total de 1.125 agtechs, 66% estão localizadas na região sudeste do Brasil, sendo que o estado de São Paulo tem o maior número de startups do agronegócio (591), seguido de Minas Gerais (99), Rio de Janeiro (41) e Espírito Santo (9). Por outro lado, o mapeamento mostrou que apenas 1,5% tem sede na região Norte, com destaque para o estado do Pará (6).

O estudo também indicou que, das 18 cidades que se destacaram pela quantidade de startups, seis são do estado de São Paulo. Juntas, elas somam 409 empresas que oferecem muitas inovações para o mercado.

O perfil das startups do agronegócio

O pesquisador Marcelo Mendes da Silva Donda analisou o perfil inovativo das agtechs do estado de São Paulo, durante o mestrado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Tupã. 

Por meio de entrevistas e questionários, o pesquisador pôde perceber que a maioria das startups do agronegócio paulista está no mercado entre três há quatro anos, tem sede própria e possui entre seis a oito funcionários.

“É interessante a diferença das formações dos fundadores, porque a gente tem administradores, jornalistas e especialistas em marketing. É um espaço muito miscigenado, porque temos diversos profissionais e ideias diferentes atuando e criando inovações importantes para o mercado”, explicou Donda.  

Helena Lopes/Pexels

Durante a pesquisa, ele também analisou as correlações entre as informações de faturamento e produtos das agtechs. Com isso, Donda viu que as empresas que têm maior faturamento nem sempre são as que mais disponibilizam produtos. 

O mesmo foi observado na relação entre tempo de mercado e inovações, mas, apesar disso, as agtechs despontam em quantidade de produtos e inovações disponíveis no mercado, tanto no âmbito nacional quanto internacional.

Dificuldade em comum  

Ainda assim, o pesquisador conseguiu traçar algumas semelhanças entre as empresas da área, como as dificuldades em alavancar os projetos e pouco investimento no setor. 

“As agtechs surgem a partir do meio tecnológico e necessitam de investimento, porque os projetos são caros. Eles não têm muitos recursos e precisam ser financiados, mas isso nem sempre é possível”, disse Donda.

Esse processo pode acontecer por meio de pessoas físicas que aplicam entre 5% a 10% de seus patrimônios em negócios com alto potencial de retorno. Nomeados como anjos, esses investidores não têm posição executiva na empresa, mas apoiam o empreendedor atuando como um conselheiro.

Contudo, são as aceleradoras que mais investem nas startups, sejam com recursos financeiros, mentorias ou criação de networking para gerar oportunidades de negócios para as empresas. O apoio dessas organizações pode ser prestado em todas as fases de modelação do empreendimento.

Burst/Pexels

Hackathons

Como as aceleradoras podem ajudar desde o estágio inicial das empresas, elas frequentemente são parceiras de jornadas de desenvolvimento de soluções complexas, conhecidas como hackathons. 

Nestas competições, um time de profissionais multidisciplinar busca resolver problemas reais de diversas áreas. A ideia é que os projetos sejam criativos, originais, aplicáveis e tecnológicos, como explica Donda.

“Nesses eventos, há essa troca de informações, inovações e ideias. Não só no agronegócio, mas em outras áreas também. Eles são muito importantes, porque os participantes podem receber investimento e desenvolver suas ideias”, disse o pesquisador. 

Devido à esses fatores, os hackathons estão entre as principais origens das agtechs do estado de São Paulo. Seus principais desafios envolvem o desenvolvimento de soluções tecnológicas que aumentem a eficiência da produção, que diminuam as dificuldade de acesso ao crédito e que modernizem a agricultura no Brasil. 

Não é por menos que os gigantes do agronegócio começaram a ganhar a visibilidade dos jovens ao patrocinar esses eventos nos últimos anos. A proposta principal é que mais profissionais se interessem pela área ao se aprofundarem na resolução dos problemas. Contudo, ainda é preciso estabelecer melhores condições para as empresas que já existem se estabelecerem e darem lugar às novas.  

Redação

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