Hortas comunitárias ganham força e aliam qualidade de vida à sustentabilidade nos grandes centros
Por: Priscila Belasco e Thais Daniel Benedicto
Já pensou em produzir seu próprio alimento de forma natural e acessível sem precisar para isso adquirir um pedaço de terra? E em produzir esse alimento de forma democrática, dividindo o espaço urbano com a comunidade que, junta, cultiva de modo sustentável uma horta comunitária? Esse uso coletivo da terra é o que o conceito de horta comunitária busca difundir principalmente nas grandes cidades, aliando a necessidade de uma alimentação saudável com o contato com a terra, aproximando natureza e população.
Hortas comunitárias são espaços de convívio social em que os moradores das cidades cultivam coletivamente os produtos que irão consumir. Esses espaços verdes geralmente estão localizados em terrenos desaproveitados, e passam, também, a ser ambiente de lazer e aprendizagem, que possibilita a interação e a troca de experiências entre os moradores da região.
As hortas coletivas abastecem com legumes, verduras, ervas medicinais e aromáticas o grupo de pessoas que cuida e mora próximo àquele espaço. Entre outros benefícios, melhora a qualidade da alimentação das pessoas, abastece escolas e famílias de baixa renda da região com hortaliças, além de oferecer alguma atividade aos desempregados, sendo um exercício de cidadania.
“A horticultura precisa ganhar mais espaços, pois é uma solução simples diminuir os custos alimentares e melhorar o clima da cidade atenuando ilhas de calor. Também é uma alternativa gratuita de lazer, aumenta a permeabilidade do solo, reduz as emissões de gases do efeito estufa (pois evita o transporte motorizado de alimentos) e inaugura espaços práticos de educação ambiental”, diz Cláudia Visoni, jornalista e principal representante do coletivo Hortelões Urbanos da cidade de São Paulo, grupo que reúne cerca de quatro mil integrantes na internet, que trocam experiências sobre o cultivo doméstico de produtos orgânicos.
Entretanto, pensando em uma cidade como São Paulo, de urbanização densa, pode ser que não haja espaços disponíveis para essa finalidade em todos os bairros. Para driblar essa condição, o shopping Eldorado passou a cultivar sua horta urbana no teto do prédio e aproveita os resíduos da praça de alimentação para adubar o que é cultivado. Os itens colhidos são distribuídos para os funcionários do local, entre os itens encontram-se alface, quiabo, camomila, tomate, cidreira etc.
Outro exemplo em São Paulo é a Horta do Ciclista, criada em 2012 com a proposta do uso equitativo da terra. Lúcio Caparroz Santos é um dos responsáveis pelo espaço e segundo ele a horta foi criada por um grupo de ciclistas e ativistas que resolveram produzir ali, pois a praça estava abandonada e malcuidada. “Temos um mutirão uma vez por mês; nos outros dias fazemos manutenção para manter o lugar. Qualquer um pode colher; este é o espírito coletivo e comunitário”, diz Lúcio.
Fora do Brasil, a necessidade de ressignificar o espaço urbano também está presente. Na Suíça, Alemanha e Rússia, mais de 72% das famílias que moram nas cidades plantam seus alimentos nos próprios jardins. Só em Berlim, são cerca de 80 mil “fazendeiros urbanos”, segundo o site ciclovivo.com.br.
Iniciativa no interior paulista
Em Bauru, a própria prefeitura conduz um projeto para a implementação de hortas comunitárias no espaço urbano. Chamado de Programa de Agricultura Urbana, a iniciativa é comandada por Mário Augusto Camargo, da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento. De acordo com ele, o programa surgiu há mais de três anos com o propósito de ajudar as pessoas a produzirem o próprio alimento, com o foco na comunidade e em pessoas necessitadas.
O programa auxilia a população desde o interesse na plantação, passando por doação de mudas e insumos, até a assistência técnica e financeira para que os donos da horta consigam cuidá-la por conta própria após o período de adaptação, ou seja, o período de ajuda dos funcionários do programa. Tudo é feito de forma gratuita para a população.
Os donos das hortas podem utilizar os alimentos para consumo próprio, distribuir para a comunidade, e mesmo vender o excedente para manter os gastos das mudas e da manutenção.
As hortas são feitas em escolas, igrejas, casas de apoio, em terrenos que estavam abandonados e até em quintais de casas. Como o programa é voltado à comunidade, a assistência no plantio ocorre somente em terrenos maiores (não incluem quintais de casas pequenas). Porém, o próprio Mário Augusto dá cursos toda semana para ajudar as pessoas interessadas em terem suas próprias hortas.
O grupo Hortelões Urbanos foi criado em 2011 para possibilitar a troca de experiências entre os integrantes. Eles debatem sobre produção orgânica, plantio doméstico e compartilham experiências no campo para inspirar as pessoas da cidade a cultivarem também. No grupo do Facebook não existem coordenadores ou representantes, apenas moderadores que controlam a entrada de perfis falsos na rede social.