Por Bruna Sciarini
O surgimento de diversos casos de pneumonia foram os primeiros sinais do SARS-CoV-2 notificados pelas autoridades chinesas a Organização Mundial da Saúde, OMS, no dia 31 de dezembro de 2019. A alerta veio de Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes, e, desde então, os números não param de subir.
Com um alto poder de propagação, o que dificulta o controle de novas infecções, o coronavírus já atinge países em todos os continentes, totalizando mais de 10 milhões de contaminados no mundo. O cenário no Brasil não é diferente, em maio, o país se tornou o epicentro da doença, registrando mais de 1 milhão de doentes confirmados, liderando o ranking de países com mais novos casos.
Apesar de não apresentar um padrão, os sintomas mais comuns da doença são tosse, febre e fadiga, assemelhando-se aos da gripe. De acordo com o Ministério da Saúde, o coronavírus pertence a um grupo de vírus que causa infecções respiratórias que variam de grau leve a grave. Para conter a disseminação da doença, as pessoas foram instruídas a ficarem em casa e lavarem as mãos constantemente, caso seja necessário sair, sempre usar máscara.
Além dos efeitos da pandemia na saúde pública, segundo o relatório de perspectiva global realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia mundial sofrerá neste ano, 6% de contração. No Brasil, os reflexos da crise já começaram a aparecer, em maio de 2020 os pedidos de seguro-desemprego subiram para 53% em relação ao mesmo período de 2019, acumulando quase um milhão de solicitações.
Como medida de contenção, o Governo Federal criou o “Auxílio Emergencial”, um programa de suporte financeiro para os trabalhadores informais, microempreendedores, autônomos e desempregados. Inicialmente, o apoio seria fornecido por 3 meses no valor de R$600 reais, mas o governo confirmou o prolongamento do benefícios por mais 2 meses.
Nesse contexto de incertezas, algumas campanhas foram criadas buscando amenizar os impactos gerados pela crise do Covid-19. No mercado brasileiro, os negócios mais afetados pela pandemia são as micros e pequenas empresas. O Transforme SP, uma iniciativa da Federação de Empresas Juniores do Estado de São Paulo (FEJESP), foi criada para ajudar os pequenos negócios em meio a crise econômica. “Nós vimos que hoje o que grupo mais afetado (pela quarentena) são os microempreendedores e eles são os que empregam a maior parte das pessoas e possuem um percentual do PIB do estado de São Paulo muito grande. Então, acreditamos que nós, como FEJESP, precisávamos ser um meio de gerar conexão e de dar o auxílio para essa galera”, explica André Bombonati, um dos responsáveis pela campanha.
Na plataforma, é possível realizar qualquer valor de doação, porém há alguns metas estipuladas para alcançar um número grande de empreendedores. As arrecadações serão investidas em projetos de consultoria realizados pelas empresas juniores para as MPEs paulistas inscritas, que não terão nenhum custo de aquisição do serviço. Thuany Gilberti, responsável pela frente de assessoria de imprensa, conta que a captação das MPEs foi realizada em conjunto com os responsáveis da FEJESP pelas região de Bauru, Campinas, São Carlos e São Paulo.
Uma das colaboradoras da campanha é a Mecatron, empresa júnior de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Estadual de Campinas. Luiz Gustavo Guedes, membro da empresa júnior, conta que o motivo da Mecatron participar do Transforme SP é que eles “acreditam no potencial transformador do Movimento Empresa Júnior na vida de muitas pessoas, ainda mais nessa crise que estamos passando”.
Um dos serviços já realizados pela empresa júnior foi para a Terzius, plataforma de Ensino e Formação em Saúde. O projeto de programação usa alguns sensores para identificar o lugar em que o cateter se encontra e, dependendo da posição, abre uma imagem correspondente ao formato de onda do eletrocardiograma em uma tela de computador. “Utilizamos da tecnologia para transformar um processo ineficiente e que não possuía uma boa ilustração da realidade em um processo que simula uma situação real da rotina de médicos, fazendo com que esses profissionais aprendam muito mais no treinamento e, consequentemente, reduzindo as chances de erros em um cenário realista”, descreve Luiz Gustavo.
No dia 20 de junho, o Brasil atingiu o marco de 50 mil mortes por coronavírus. Por causa da evolução do Covid-19 no país, diariamente somos expostos a um grande número de gráficos e registros dos casos e, apesar de uma parte dos brasileiros permanecer em quarentena, o número de isolados ainda não é o suficiente e a quantidade de infectados está cada vez maior. Nesse contexto, nasceu o Inumeráveis, um memorial dedicado a história das vítimas de coronavírus no Brasil, com o propósito de impedir que as pessoas se tornem apenas estatísticas.
De acordo com a ciência, a memória é a formação e armazenamento das informações, sendo uma atividade muito complexa para o ser humano. Esse processo é dividido em dois tipos: memória de procedimento e a declarativa. A segunda engloba a memória episódica, ou seja, a responsável por arquivar os fatos e, em conjunto com a memória de longo prazo, gravar todas as vivências de uma pessoa.
Para reunir todas essas memórias, o projeto que foi idealizado pelo artista Edson Pavoni, conta com a colaboração Rogério Oliveira, Rogério Zé, Alana Rizzo, Guilherme Bullejos, Gabriela Veiga, Giovana Madalosso, Rayane Urani, Jonathan Querubina, além dos jornalistas, escritores e os voluntários. As histórias são contadas pelos familiares e amigos das vítimas que respondem um questionário, posteriormente enviado para os jornalistas e, a partir disso, a memória de cada uma delas é transformada em um texto tributo.
Samara Lopes, estudante de jornalismo e uma das apuradoras do Inumeráveis, decidiu fazer um teste antes de participar do projeto para avaliar sua capacidade de ouvir os relatos e escrever sobre eles, sem afetar sua saúde mental. “Na minha primeira história, fiquei muito sensibilizada e pensei que talvez não fosse aguentar, mas recebi uma mensagem de muito carinho da filha do Sr. Manoel, falando que o meu texto foi um acalento para a dor dela.”
Nesse momento, o memorial não é voltado apenas para homenagear as vítimas, mas também serve de acalento para os familiares e amigos que estão enfrentando o luto e busca dar uma identidade para que essas pessoas permaneçam vivas em nossas memórias. “O Inumeráveis pretende dar o devido valor à essas vítimas, trata de falar ‘Ei, essa pessoa não é só um número. Ela foi o amor de alguém e ela precisa ser descrita da forma que merece!’”, afirma Samara.
Apesar dos projetos possuírem objetivos diferentes, ambos contribuem para amenizar as consequência da crise no Brasil. Para Thuany, “mesmo que as metas de doações ainda não tenha sido batida, a cada consultoria atendida, aos poucos pequenas sementinhas vão sendo plantadas, fazendo com que surjam mais cases de sucesso”, assim, diminuindo o impacto financeiro e alavancando a economia do estado através da manutenção de empregos.