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Assédio no cinema: a realidade da mulher por trás das telas

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Entenda como grandes atrizes estão derrubando figurões do império hollywoodiano

por Bruna Hirano, Caroline Mazzer, Geizi Polito, Maria Beatriz

Em 1985, com a exibição de L’Arrivée d’un Train à La Ciotat, dos irmãos Lumière, o cinema inicia sua história, que evolui com o tempo, se tornando, atualmente, uma indústria multibilionária e com grande importância cultural.

E hoje em dia, pode-se dizer que há todo um certo glamour quando se trata das produções cinematográficas e, sobretudo, das produções hollywoodianas. Seja pelos altos investimentos, ou pelas megaproduções, carregadas de efeitos especiais, o cinema hollywoodiano criou uma estética própria, dotada de ação e cenas rápidas, que se tornou referência para as produções audiovisuais do mundo todo.

Nem só de glamour e popularidade vivem as produções do cinema. Há também neste contexto, machismo e diferenças de gênero, que podem ser explícitas tanto pelo baixo número de mulheres como editoras ou produtoras de filmes, quanto pelo salário inferior recebido por muitas atrizes quando comparado ao salário de seus colegas do sexo masculino.

Um exemplo disso é o caso da atriz Jennifer Lawrence, que escreveu em 2015, um artigo no qual denuncia o recebimento de um cachê inferior do que a de seus colegas de trabalho do sexo masculino, pela gravação do filme “A Trapaça”. Lawrence recebeu como pagamento apenas 7% dos lucros obtidos pelo filme, enquanto os atores Bradley Cooper e Christian Bale receberam 9%.

E este não é um caso isolado. Neste ano, em entrevista à revista Marie Claire, Natalie Portman evidenciou que a diferença salarial entre gêneros é absurda, e é ainda maior em Hollywood do que em outros setores. De acordo com a atriz, para cada 1 real pago aos atores masculinos, as atrizes recebem apenas o equivalente a 30 centavos.

E além dos problemas envolvendo questões salariais, a desigualdade de gênero no cinema também perpassa por outras questões, como exigência de padrões físicos femininos, maior número de nudez nas cenas e até mesmo assédio e casos de estupro de atrizes por parte de colegas de trabalho.

Tendo em vista esse machismo e evidente sexismo no cinema hollywoodiano, a empresa “New York Film Academy” analisou os 500 filmes com maior visibilidade lançados no período de 2007 e 2012. E os resultados comprovaram essa evidente desigualdade de gênero na indústria do cinema. Dá só uma olhada:

23772268_10210199418478859_2089099060_n.jpgEdição e Arte: Caroline Mazzer

Dessa forma, fica claro que mesmo nem sempre de forma escancarada, o machismo continua a existir nessa indústria cultural.

Mariana Boico trabalha como atriz há seis anos, e comenta sobre o machismo nas produções audiovisuais. “Acredito que o machismo é cultural e está presente em todos os campos, muito mais do que só o audiovisual. Mas como estou mais no meio do teatro, sei que construímos um respeito e alteridade muito forte e estamos conseguindo alcançar uma representação feminina muito maior. Agora no cinema e na TV acredito que há muito mais para se conquistar, basta olhar os nomes dos maiores diretores, são muito homens e poucas mulheres”, pontua ela.

Larissa Pelúcio é doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos e pós-doutora pelo Pagu-UNICAMP. Suas pesquisas abordam, dentre outros temas, a questão de gênero. A pesquisadora comentou a questão da historicidade do machismo, que segundo ela, não se pode generalizar práticas, e sim contextualizar brevemente o local e o período do qual se pretende analisar. Tendo em vista que estamos na contemporaneidade e falamos sobre uma visão ocidental, Pelúcio evidencia que, “atualmente, o machismo tem uma visibilidade maior, pois agora existem termos específicos para qualificar, analisar e denunciar determinados comportamentos que antes estavam naturalizados”.

Daí a importância das atrizes exporem e denunciarem cada vez mais esses casos de machismo e assédio, levando termos como assédio sexual, desigualdade e violência de gênero, para a grande mídia e, consequentemente, para a população em geral.

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E o assédio?

Definido como crime pelo Código Penal brasileiro, o assédio sexual determina toda e qualquer ação realizada por alguém que está em posição superior contra a vontade de outra pessoa. Porém, a ausência de dados sobre o assédio nos diferentes ambientes de trabalho é a prova de que esse ainda é um crime que acontece de maneira velada.

No cinema não poderia ser diferente. Por trás das telonas existe um grande jogo de poder onde as indicações e os testes de aptidão e talento constroem um cenário de disputa de poder simbólico e político. Há uma cultura extremamente negativa de assédio sexual em Hollywood, muitas vezes justificada pelo “bem da arte”, mas vale lembrar que a arte cinematográfica também é, antes de tudo, um trabalho e situações abusivas devem ser abolidas de qualquer ambiente, independente de qual seja. Nesse sentido, a presença maciça de homens em detrimento das mulheres gera um desequilíbrio de forças e uma consequente violência masculina nos espaços de poder.

O assediador aproxima-se de maneira sedutora e faz de tudo para envolver a vítima que é destituída de sua subjetividade e torna-se assim um mero objeto, conforme aponta a professora Marlise Matos, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG em entrevista para o Portal Uai.

Em 5 de outubro, a atriz Ashley Judd em entrevista para o jornal New York Times acusou o produtor Harvey Weinstein de assédio sexual e esse foi o gatilho para que nas semanas seguintes diversos outros casos de assédio, antigos e recentes, surgissem dentro dos corredores de Hollywood. Weinstein era dono de uma das produtoras que mais levou seus atores e atrizes aos palcos do Oscar, da qual foi demitido.

Porém, Weinstein não foi o primeiro a abusar de sua posição dentro da indústria cinematográfica. A lista de nomes de produtores, diretores e atores que foram acusados de agressão, assédio ou abuso sexual por diversas atrizes como Angelina Jolie e outras profissionais da área é extensa e conta com grandes nomes do cinema como: Casey Affleck, Mel Gibson, Woody Allen, Roman Polanski, Josh Brolin, Christian Slater, Sean Penn, Johnny Depp, Charlie Sheen, Nicolas Cage, Sean Connery, Michael Fassbender, Bryan Singer, Bill Murray, Terrence Howard, entre outros.

As denúncias das atrizes, na opinião de Marlise, são importantes, mas somente o constrangimento público não é o suficiente, pois é necessário a responsabilização criminal, penal e financeira para que assim exista o encorajamento de outras atrizes e que elas saibam que também podem denunciar. A falta de punição efetiva está enraizada socialmente e isso faz com que as mulheres queiram denunciar cada vez menos os assediadores, principalmente quando este exerce alguma influência em sua vida.

Vale lembrar que, com o avanço da internet, as pessoas passaram a se posicionar mais e as denúncias começaram a ganhar mais espaço na mídia, já que há anos uma pessoa que não está em contato direto com os holofotes jamais conseguiria denunciar um famoso e fazer com que sua declaração ganhasse visibilidade como aconteceu no início deste ano com José Mayer, aqui no Brasil.

Assim, campanhas sobre igualdade de gênero, assédio moral e sexual têm se destacado como soluções imediatas para essas situações. No Brasil, as atrizes globais lançaram a campanha “Mexeu com uma mexeu com todas”, após o ator José Mayer ser acusado de assédio pela figurinista Susllem Tonani. No twitter a atriz Alissa Milano lançou uma campanha para alertar a respeito da frequência com que situações de assédio acontecem, pedindo para que todas as mulheres que já passaram por alguma situação de assédio sexual ou abuso utilizassem a hashtag #metoo e compartilhassem seu relato. A atriz Kristen Stewart fez um discurso alertando para os casos em que maquiadoras e diretoras de fotografia também são assediadas.

Diferentes situações mostram que o assédio está presente em todos os lugares e não é menos grave em nenhum deles. Por isso, produções e campanhas que mostram o quanto o assédio está enraizado nas mais diversas situações cotidianas são tão importantes. Como exemplos dessas produções, podemos citar o documentário Precisamos falar do Assédio, da produtora Mira Filmes, que mostra o relato de vítimas, e a série de curta-metragens para a campanha “That’s Harassment”, do inglês “Isso é assédio”, produzida pelo ator David Schwimmer, da série Friends, e que também mostra situações cotidianas em que o assédio sexual pode estar presente e nem sempre ser notado.

Nesse sentido, o grande enlace entre o cinema e o assédio está no machismo existente na forma com que as mulheres costumam ser retratadas, quase sempre em papéis secundários ou objetificadas. Isso se dá, justamente por que a escolha dos papéis é feita, na maioria das vezes, por homens. Segundo uma pesquisa divulgada pela Ancine no início deste ano, das 2.583 obras audiovisuais registradas no ano passado, apenas 17% foram dirigidas e 21% roteirizadas por mulheres. Na Europa, apenas 16,3% dos filmes lançados entre 2003 e 2012 foram dirigidos por mulheres e nos Estados Unidos essa porcentagem corresponde a 9% das produções de maior bilheteria, segundo dados divulgados pela jornalista Luisa Pécora.

Em 2015, a atriz Reese Whiterspoon conhecida por seus papéis românticos mostrou que a mulher pode ser muito mais em seu discurso pela premiação Woman of the Year. A atriz apontou claramente o poder que as mulheres podem ter a partir do momento em que elas ocuparem os diferentes ambientes na qual estão inseridas e decidirem por si mesmas o que devem fazer.

https://www.facebook.com/glamour/videos/10155637551490479/

Reese Whiterspoon em seu discurso no prêmio Woman of the Year 2015

Desde 2006, a atriz está investindo em sua produtora, Pacific Standard, e busca dar às mulheres papéis diferentes da posição estigmatizada que elas costumam ocupar, como de destaque e de liderança. A atriz fez questão de quebrar o tabu de que personagens femininas não rendem bilheteria, e engatilhou as produções de Livre, Garota Exemplar e Big Little Lies – série produzida para a rede HBO – que foram aclamadas pelo público e indicadas à diversas premiações.

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Redação

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