Por Henrique Cézar e Maurício Daniel
Sol, céu azul, trilhas, montanhas, cavernas, correntezas e cachoeiras. O cenário não poderia ser melhor para quem procura se desligar da agitação proporcionada pelo cotidiano burocrático e contemporâneo da capital. Cercada pela Serra da Mantiqueira, a cidade de Socorro, no interior de São Paulo, representa mais que tranquilidade e natureza. Com relevo montanhoso, corredeiras acidentadas e clima ameno, há uma década a cidade tornou-se um dos principais destinos do Brasil para quem procura as mais diversas experiências provocadas pela prática dos esportes de aventura como boia-cross, arvorismo, rafting, acquaride, canoagem, rapel e trilhas de quadriciclos, entre outros, destacando-se por oferecer roteiros acessíveis, destinados a pessoas portadoras de deficiência ou mobilidade reduzida.
Localizada há apenas 130 km da capital São Paulo e 110 km da região metropolitana de Campinas, Socorro é uma das nove cidades que compõe o Circuito das Águas Paulista, conhecido por seu potencial hidromineral e turístico. O início das atividades de aventura na cidade se deu no final da década de 1990, com a operação do rafting. Rogério Bazani, empresário do setor turístico na cidade, foi pioneiro na exploração das atividades e conta que encontrou dificuldades para conseguir convencer a cidades sobre seu potencial. “As pessoas chegavam a dizer: ‘qual tonto vai descer o rio do peixe’”, relembra.
Com o passar dos anos, o desenvolvimento do turismo na cidade foi se aperfeiçoando por meio de um trabalho integrado entre Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), poder público municipal e empresários. Atualmente, de acordo com dados do Departamento Municipal de Turismo, 12 empresas atuam na exploração de atividades de aventura na cidade. Uma das práticas mais radicais procuradas pelos turistas, de acordo com as agências da cidade, é o rafting – descida pelas corredeiras do rio em botes infláveis.
De acordo com Bazani, o Rio do Peixe, rio que corta a cidade e onde é praticada a modalidade, é um dos melhores lugares no Brasil para a prática do esporte, oferecendo vários níveis de dificuldade. Em meio ao otimismo, o empresário alerta para um problema que pode comprometer a exploração da atividade. “Em 20 anos, nunca vi o Rio do Peixe tão baixo. Se não fizermos alguma coisa agora, será tarde”. Devido ao baixo nível de água no rio, a exploração da atividade ficou suspensa por alguns meses, sendo retomada apenas na primeira semana de dezembro (2015) com o aumento das chuvas.
Socorro costuma receber famílias que buscam tranquilidade e calmarias. Para esse público, as operadoras ofertam atividades como cavalgada, trilhas e caminhadas que possibilitam um intenso contato com a natureza. Para Luciano Peixoto, diretor da Rota Brasil, empresa especializada em consultoria no setor de turismo, Socorro tem clara vocação para o turismo e o desenvolvimento do destino está diretamente ligado as características naturais no município. “Qual o melhor remédio ao antiestresse? Voltar às origens, ou seja, voltar ao campo. Assim, Socorro é um lugar privilegiado, temos uma topografia favorável. O potencial natural desse lugar é muito mais que 90% do que as pessoas sabem. É fácil de chegar, temos as montanhas, uma cidade simpática, acolhedora”, ressalta.
ACESSIBILIDADE
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem hoje pelo menos 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. O expressivo número associado a determinações do Plano Nacional do Turismo de 2007, que indicava como objetivo específico o apoio a recuperação e a adequação da infraestrutura e dos equipamentos nos destinos turísticos, garantindo a acessibilidade aos portadores de necessidades especiais”, estimularam o desenvolvimento de um roteiro turístico acessível na cidade.
Atualmente, quase 100% dos hotéis estão adaptados para os mais variados tipos de deficiência, assim como bares e restaurantes e boa parte do comércio local, com rampas de acesso e banheiros acessíveis. Entre as mais de 20 atividades de aventura oferecidas em Socorro, dez já foram adaptadas e podem ser praticadas por cadeirantes.
Desde 2005, por meio de uma parceria entre empreendimentos turísticos locais e o programa Aventureiros Especiais, desenvolvido pela ONG Aventura Especial, em conjunto com o Ministério do Turismo, a cidade passou a ofertar diversas modalidades de Turismo de Aventura para pessoas portadoras de deficiência. Após a adaptação das atividades, uma nova parceria entre poder público municipal e Ministério do Turismo lançou o Socorro Acessível, projeto que permitiu a prefeitura investir na criação de um roteiro adaptado, que interliga dez pontos turísticos totalmente trafegáveis por turistas com deficiência, na região central da cidade, contemplando o Centro Histórico, o comércio local, o Mirante do Cristo e o Horto Municipal. “O apoio e as ações do MTur (Ministério do Turismo) e das instituições conveniadas motivaram os empresários e os moradores, criando uma forte sinergia sobre o tema no destino. Assim, os empresários passaram a oferecer atividades de Aventura completamente adaptadas para atender a esse público”, destaca relatório do Ministério do Turismo que avaliou o caso de Socorro como modelo em acessibilidade.
O resultado do trabalho garantiu a cidade como um dos 10 Destinos Referência em Segmentos Turísticos do Ministério do Turismo e, como reconhecimento internacional, Socorro recebeu no ano passado, na Espanha, o Prêmio Rainha Sofia de Acessibilidade, outorgado pelo Conselho Real para Deficiência, do governo espanhol.
Para André Bozola, Prefeito de Socorro, o tema da acessibilidade deve ser tratado como bastante cuidado. A arquitetura histórica da cidade com ruas estreitas e o relevo montanhoso impede uma acessibilidade completa nas calçadas da cidade, por exemplo. “Precisamos tomar cuidado. Há um grande esforço do poder público e da iniciativa privada para conseguir avançar na questão da acessibilidade e garantir a adaptação de todos os espaços públicos”, explica o prefeito.
ECONOMIA
Em período de dificuldades econômicas, o turismo vem despontando como importante atividade econômica capaz de minimizar os efeitos da crise na economia local. De acordo com Vitório Zucon, presidente do Conselho Municipal de Turismo de Socorro (COMTUR) e empresário na cidade, a crise econômica sentida em diversos setores da economia não atinge o turismo local. “Por enquanto a crise não chegou. O momento tem sido bom para o turismo socorrense”, afirma.
Com a disparada no preço do dólar nos últimos meses, viajar para o exterior tem ficado mais caro e cresce o interesse por viagens pelo próprio país. Um boletim divulgado em setembro (8) deste ano pelo Ministério do Turismo mostra que 78% das pessoas que pretendem viajar nos próximos seis meses desejam um destino nacional. “Com a alta do dólar, as famílias brasileiras estão optando por fazerem viagens locais, beneficiando as estâncias turísticas, como é o caso de Socorro” afirma André Bozola, presidente da APRECESP (Associação das Prefeituras das Cidades Estâncias do Estado de São Paulo) e prefeito de Socorro.
Para o diretor do Departamento de Turismo da Prefeitura de Socorro, Acácio Zavanella, o turismo tem assumido cada vez mais importância no tripé econômico de Socorro ao lado da agricultura e do comércio e malhas. “Neste momento difícil que o país vem passando, a gente tem notado que o seguimento turístico tem ajudado as cidades a superar as dificuldades econômicas”, destaca.
Estimativas do Departamento Municipal de Turismo apontam que o setor mantém hoje cerca de dois mil empregos fixos em Socorro, além de cerca de 700 temporários ao longo do ano. Cerca de 500 mil turistas visitam a cidade por ano.
CONSCIÊNCIA TURÍSTICA
Ampliar os resultados do setor turístico passa por uma estrutura que receba o turista cada vez melhor. Para Jesse Zerlin, proprietário da Doce Arte Café, localizada no Shopping de Fábrica, em Socorro, um atendimento diferenciado é mais que necessário. “Precisamos de uma boa gestão, treinamentos aos funcionários, atendimento agradável, produtos diferenciados. Mais que isso, temos que envolver as pessoas no seu sonho”, ressalta.
Ele pontua que muita coisa vem melhorando nos últimos anos, mas que ainda existe uma resistência local a respeito do turismo e ações precisam ser intensificadas para desenvolver a consciência sobre a importância do turismo para a cidade. Segundo empresários, a falta de mão de obra qualificada é um problema recorrente que prejudica a qualidade do atendimento no comércio de modo geral. Outro ponto destacado por Zerlin é a necessidade de ampliar o investimento privado, que deve estar acompanhado de um permanente investimento do poder público.
José Fernandes Franco, empresário do setor de hotelaria, chama a atenção para a necessidade de desenvolvimento do comércio local, principalmente aos finais de semana, que reúna produtos diferenciados que chamem a atenção dos turistas. “Os hotéis não conseguem segurar o turista em suas estruturas se tivermos um comércio atrativo e diferenciado”, defende.
Os relatos de empresários confirmam um cenário em que Socorro sofre de forma contundente com a falta de mão de obra qualificada, comprometendo a qualidade dos serviços prestados pelo comércio local. O diagnóstico exige conscientização integrada entre poder público e empreendedores no intuito de garantir condições de capacitação.
Quanto à acessibilidade, considera-se que as precariedades não são problemas que se resolvam de forma isolada. Como aponta relatório do Projeto Turismo Acessível, do Ministério do Turismo, apenas com o contínuo avanço na estruturação dos destinos turísticos, aumentando e aprimorando a qualidade das informações e dos serviços prestados, atingir-se-á o objetivo de garantir de forma democrática e igualitária o acesso a recreação e lazer, com determina a constituição federal. “É necessário fortalecer o relacionamento entre os destinos, empreendimentos e atrações turísticas com os operadores e agentes comercializadores e promotores do turismo. É necessário estabelecer estratégias e planos de posicionamento ou reposicionamento de produtos e destinos no mercado”, garante o relatório do Ministério do Turismo.
SAINDO DE | DISTÂNCIA | TEMPO |
Campinas | 110 km | 01h45 |
São Paulo | 132 km | 02h00 |
Sorocaba | 190 km | 02h40 |
Santos | 200 km | 03h30 |
Ribeirão Preto | 265 km | 03h45 |
Bauru | 310 km | 04h00 |
Fonte: Google Mapas