Rio 2016 concentrou mais de 200 delegações em uma mesma cidade
Mara Carvalho e Mariane Ribeiro
Em 2016 o Brasil foi sede dos Jogos das Olimpíadas (olímpicas e paralímpicas). Reuniram-se aqui, atletas de 161 países, com mais de 200 delegações que disputaram um total de 22 provas. O evento ficou conhecido como Rio 2016, pois os jogos aconteceram na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 7 e 18 de setembro. Para o evento foram disponibilizados cerca de 3,3 milhões de ingressos para os jogos Paralímpicos e 7,5 milhões Olímpicos.
Nas “Olimpíadas Rio 2016”, no quadro de medalhas, os atletas Paralímpicos brasileiros tiveram melhores resultados comparados aos atletas Olímpicos. Mesmo com alto desempenho, o primeiro, recebeu uma cobertura midiática inferior ao segundo. A Olimpíada foi transmitida ao vivo pela maioria das emissoras de tevê aberta, já a Paralímpiada teve espaço apenas na TV Brasil, em outros canais recebeu apenas cobertura jornalística e, passou em programas de esportes. Esse exemplo mostra a baixa cobertura da mídia aos esportes adaptados.
No resultado final das olimpíadas, o Brasil ficou com a 8ª posição nos jogos Paralímpicos, contando com 72 medalhas no total. Em contrapartida no Olímpico ocupou a 13º posição, contabilizando um total de 19 medalhas. Porém, durante as competições as mídias deram destaque aos jogos Olímpicos.
Os Jogos Paralímpicos atraíram 243 mil turistas ao Rio de Janeiro. Durante o período a movimentação gerou R$ 410 milhões em renda. Além de gerar receita para a cidade também contribuiu para um local mais acessível, 2.600 ruas receberam urbanização e acessibilidade, outros locais também foram contemplados com rotas acessíveis. Para as melhorias houve um investimento de R$ 2 bilhões, onde 59 bairros foram beneficiados, em especial na zona norte e zona oeste do Rio de Janeiro.
O Brasil traçou metas para conquistar o maior número de medalhas e ficar entre os 10 melhores dos Jogos Olímpicos e os cinco dos Paralímpicos. Por essa razão, os atletas passaram a ter maior apoio por parte do governo Federal. A Bolsa Atleta, a Bolsa Pódio e outras iniciativas passaram a fazer parte da realidade dos esportistas.
Para ser contemplado, o atleta deve atender critérios definidos na lei, como estar situado entre os 20 melhores do ranking mundial ou na prova específica da modalidade. Após cumprir os critérios e ter sido indicado por sua confederação esportiva, em conjunto com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), ou pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o atleta precisa enviar um plano esportivo para análise dos membros do COB (ou CPB), da confederação e do Ministério do Esporte. Depois de aprovado em todas as frentes, o contemplado tem seu nome publicado no Diário Oficial. Uma vez que o atleta é aprovado, passa a ter direito ao benefício por 12 meses e só ao fim desse prazo é feita a reavaliação de sua permanência.
Fora os programas criados pelo governo federal, os atletas sofrem com a falta de apoio e, o extravio dos investimentos também é outro problema. Essa realidade não se aplica apenas aos paratletas, pois a dificuldade de patrocínio atinge a todos os esportistas. Maria Zeferina Baldaia, atleta Olímpica, relatou em entrevista a Rogério Miranda, locutor esportivo, que o maior problema é conseguir patrocínio e apoio para continuar a prática esportiva. Ela contou ainda que, o governo faz investimentos, mas até chegar o dinheiro percorre-se um longo caminho e a grande parte acaba se perdendo. O recordista mundial de natação das paralímpiadas, Daniel Dias, também participante da entrevista coletiva no SESC Bauru, concordou com Maria Zerefina Balbaia.
Felipe Mateus, produtor de jornalismo da TV Unesp fala sobre atletas e patrocínio.
O esporte adaptado no interior paulista
Cidades menos populosas tem uma realidade midiática diferente ao do Rio de Janeiro que ganhou a concessão para sediar o evento Olímpico. A divulgação do esporte adaptado nas mídias fica ainda mais distante quando são no interior dos estados. André Carvalho, chefe de jornalismo da emissora Record Paulista, atua em Bauru, a pouco mais de um ano e meio e fala que a escassa divulgação se dá ao baixo número de atletas Paralímpicos e que, a realidade do interior é diferente da capital paulista. Justifica as poucas exibições nos meios de comunicação a essa realidade. “Fizemos somente uma matéria sobre atleta Paralímpico e ele nem era brasileiro, era um venezuelano que treinava aqui”, afirma Carvalho.
O interior tem dificuldade de formar atletas. Ouça a Diretora Técnica da APAE sobre o assunto.
Para Felipe Mateus, produtor de jornalismo da TV Unesp, a dificuldade em pautar o esporte Paralímpico é devido a falta de release disponível por parte das instituições. “Não ficamos sabendo de competições, a informação nem sempre chega, ela não fica tão acessível. São raros os eventos que acontecem em Bauru, eles têm pouca visibilidade e ocorrem menos que o esporte não adaptado”, afirma Mateus. O jornalista menciona que, quando fica sabendo de eventos com atletas com deficiência procura dar prioridade para a matéria, porque o acontecimento em si sai do comum, envolve questões de superação. Inclusive, um dos objetivos é contribuir para a visibilidade desse tipo de esporte. De acordo com o produtor, sua maior cobertura foi na universidade Unesp, pois a instituição tem Projetos de Extensão voltado a esse público e, alega desconhecer iniciativas parecidas pela prefeitura, mas menciona o Bauru Tênis Clube (BTC). “Um professor que é, ou era, da organização tem um time de tênis para cadeirante”, finaliza o jornalista.
Praticar esportes é importante para todo ser humano, pois contribui para melhoria na saúde e no dia a dia do indivíduo. Laís Martins é a professora do projeto Natação para Pessoas com Deficiência da Unesp e, enfatiza que o principal ponto é saber ver, “o cuidado especial é enxergar a partir das potencialidades dos alunos e não das deficiências”. Completa dizendo, “nem todo profissional está preparado para lidar com os deficientes e são poucos os lugares que oferecem atividades aquáticas para esse público”, conclui.
Laís, conta que a prática esportiva proporciona o aumento da autoestima e da qualidade de vida dos alunos, e ela faz uma crítica às mídias, acha que o esporte adaptado deve ser mais divulgado pelos meios de comunicação. Acredita que com a ampla divulgação, tal modalidade deixaria de ser vista como algo fora do comum. “Paralímpiadas Rio 2016 contribuiu para uma maior visibilidade desse tipo de esporte, porém o caminho para conquistar o mesmo espaço do esporte Olímpico ainda é longo”, finaliza.
Além dos projetos desenvolvidos pela Unesp e pelo BTC, tem instituições que cuidam de pessoas com deficiência e reconhecem os benefícios das atividades esportivas e por essa razão promovem a integração e o desenvolvimento dessas pessoas por meio dos exercícios. Associação de Pais Amigos Excepcionais de Bauru, APAE, oferece uma estrutura para a prática de exercícios. O local conta com duas piscinas adaptadas, uma aquecida para hidroginástica e hidroterapia e, a outra mais voltada para o treino de esportes. Para os mais de 400 alunos é disponibilizado um grupo de três professores. Salete Regiane Monteiro Afonso, Diretora Técnica da APAE informa que não são todos os alunos que participam das Paralimpíadas. “Neste ano participamos de dois eventos, um em Bauru e o outro em Bebedouro”, afirma Saleta e, esclarece que é comum a promoção de campeonatos entre as APAES.
De acordo com a Diretora Técnica, a parceria com as esferas Federal, Estadual e com a Secretária de Educação Municipal é fundamental para a manutenção da instituição, inclusive, a verba recebida ajuda nos pagamentos de alguns professores. Salete salienta que o esporte é importante para a vida de qualquer pessoa, porque contribui com a socialização, reintegração e igualmente com a autoestima. O quadro de funcionários colabora para o bom resultado da APAE com alunos.
Devido o Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas, Salete menciona que este ano foi especial e comenta, “a mídia local, sempre quando solicitada tem dado o apoio necessário”. Ao mencionar sobre a cobertura nacional, acha que falta mais espaço ao esporte Paralímpico e confessa que gostaria que a cobertura dos meios de comunicação fosse maior, porque assim aumentaria a visibilidade dos atletas com deficiência e mais pessoas poderiam conhecer o potencial e as histórias de superação desses indivíduos.
É importante que os esportes adaptados tenham espaço na mídia para que sejam mais difundidos na sociedade e ajudem a desmistificar a ideia de que uma pessoa com deficiência é incapaz. “A deficiência ainda está vinculada a dó, a pena, e é importante desassociar esses adjetivos a pessoa com deficiência, porque ela é eficiente e capaz”, afirma Salete.
A Diretora de Divisões reconhece que, embora a instituição tenha investindo em infraestrutura, mas falta investir mais em seus atletas. Além dos campeonatos entre as APAES, em junho deste ano, Felipe Augusto foi um dos participantes do primeiro evento promovido pelo Lions Clube, a Olimpíada Especial em Bauru, voltado os portadores com deficiência. Os alunos classificados competiram com atletas das instituições Afapab (Associação dos Familiares Amigos e Pais dos Autistas de Bauru), da Apiece (Associação de Pais para a Integração da Criança especial) e da Sorri. Augusto além de competir, também comandou o coro dos alunos em quanto aguardava os resultados.
Mariana Noronha é mãe de Gregório (autista), ele tem sete anos e estuda na Afapab. Ela conta que antes do filho entrar na instituição tentou colocá-lo para praticar atividades físicas, mas ele não se adaptou. Já há dois anos estudando na instituição Gregório passou a praticar esportes e melhorou muito, relata a mãe.
Mariana menciona a Olimpíada Especial em Bauru, “foi maravilhoso, porque por meio dela incentivou ainda mais o meu filho ao esporte. A medalha que ganharam no final deixou os participantes maravilhados”, se emociona ao relembrar.
De acordo com Mariana, a Fapab não tem investimento e nem apoio para manter a escola, quanto menos para a prática esportiva. “Não tem assistência da prefeitura, nenhum repasse para manter a escola. A manutenção do espaço se dá com doações de empresas, de pais, enfim. Não temos as terapias que os alunos da APAE. Temos essa carência de ter um locar para levar as crianças”, desabafa Mariana. Completa, “onde levei o Greg para fazer natação não restringiram minha interação com ele, até porque eles não eram especializados ao trabalho com alunos com deficiência. Queriam ajudar, mas não tinham capacitação”.
Segundo Mariana, a Fapab tentou fazer mais divulgação da instituição, com o intuito de atrair as mídias para acompanhar o trabalho deles, mas foram poucas que realizaram a cobertura. Para ela, quem tem interesse nessa parte de saúde especial é geralmente quem tem casos na família, quem conhece como é a luta.
Wagner Teodoro, editor de esportes do Jornal da Cidade de Bauru, aponta que a falta de cobertura é uma questão de demanda, “a única demanda que existe no Brasil é por futebol, de fato o esporte mais popular do mundo. Isso abrange modalidades do desporto e paradesporto”. Teodoro explica que a demanda acaba gerando muito conteúdo sobre futebol.
O prefeito Clodoaldo Gazzetta (que fará investidura do cargo em janeiro), foi procurado juntamente com suas Secretárias para falar dos investimentos na área do esporte adaptado e as políticas de acessibilidade voltadas a cidade, porém até a conclusão da matéria não retornaram o contato.
Salete, diretora de divisões da APAE Bauru fala sobre acessibilidade na cidade.
A abertura dos jogos “Olímpicos e Paralímpicos” encantaram os que estavam no evento e os que acompanharam pelas mídias. Inclusive, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério do Turismo, a imagem do Brasil para a imprensa estrangeira melhorou após os Jogos Olímpicos Rio 2016. Entre os profissionais que vieram ao país para cobrir o megaevento, 59,7% afirmaram que suas próximas matérias sobre o Brasil deverão ser positivas, crescimento de 62% em relação ao percentual entes dos Jogos, de 36,8%. Diante de tal conjuntura, a torcida é para que a mídia nacional e local também desperte seu olhar para o esporte Paralímpico e seus praticantes.