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Incentivo do governo e investimento privado são as grandes fontes de renda para os atletas brasileiros, mas o que é preciso para chegar à maior competição esportiva do mundo?
Por:  Mariana Kohlrausch e Marília Munhoz

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Troféus da Associação Bushidô em Bauru. (Crédito: Mariana Kohlrausch).


As Olimpíadas do Rio de Janeiro foram alvo de críticas desde a decisão da cidade sede. Durante a preparação para receber o evento, diversos problemas foram foco da mídia internacional, como a poluição da Baía de Guanabara, a segurança pública e o zika vírus. Mas o evento começou, terminou e superou as expectativas dos turistas. Segundo pesquisa do Ministério do Turismo com visitantes domésticos e internacionais, 87,7% dos estrangeiros que vieram ao Rio de Janeiro para as olimpíadas têm a intenção de voltar ao Brasil.
Além de superar as expectativas do público, foi na Rio 2016 que o país teve seu melhor resultado na história das Olimpíadas, apesar de não atingir a meta do comitê olímpico de ficar entre os 10 melhores países no ranking. No fim, o Brasil conquistou um total de 19 medalhas, sendo sete de ouro, e alcançou a 13ª posição.
Muito desse resultado se deve aos investimentos feitos no esporte visando os jogos olímpicos no Brasil. Segundo levantamento do UOL, nesse ciclo olímpico – de 2012 a 2016 – o governo investiu R$3,19 bilhões em estrutura, capacitação de profissionais e salários de esportistas. Mais que no ciclo anterior, que teve investimento de quase R$2 bilhões.
Para um atleta que tem o sonho de alcançar uma olimpíada, ver esse tipo de investimento crescer dá esperança de continuar no esporte e um dia representar o país. Além disso, o impacto de sediar o maior evento esportivo do mundo e bater seu recorde de medalhas em casa traz para os atletas brasileiros a esperança de um dia estar entre os grandes nomes do esporte.
Para Rudá Franco, jogador da seleção brasileira masculina de polo aquático, nascido em Bauru, competir nas olimpíadas do Rio valeu todo o esforço. “Sensação maravilhosa, era a realização de um sonho. Nós treinamos, sofremos e abdicamos de tudo para chegar lá, mas quando entramos no Maria Lenk e vimos que estava lotado e todo mundo estava nos apoiando, valeu cada segundo do nosso esforço. Foi uma sensação única representar o Brasil no maior campeonato do mundo e em casa!
Para os jovens atletas que ainda almejam chegar a uma Olimpíada, a Rio 2016 mostrou que o país tem esportistas com potencial e os investimentos têm crescido. De acordo com  Rudá, “o esporte de alto rendimento requer muita disciplina, dedicação diária e muitas vezes temos que abdicar de tudo para chegar ao nível mais alto, mas tudo vale a pena quando você tem um sonho”. Mas além de dedicação e amor pelo esporte, o que mais é preciso para ser atleta profissional no Brasil?
Programas do governo, Forças Armadas e Lei de Incentivo ao Esporte
Uma das maiores dificuldades para os atletas é a questão financeira. Para viver do esporte e se dedicar totalmente a ele, os incentivos do governo e patrocínios privados são essenciais na formação de um competidor de alto rendimento.
O Programa Bolsa Atleta, conhecido também como Bolsa Pódio, por exemplo, foi fonte de renda para a maioria dos esportistas brasileiros na Rio 2016. Dos 465 classificados para os jogos, 77% são beneficiados pelo programa e, das 19 medalhas conquistadas nessa olimpíada, apenas duas não contaram com dinheiro do programa – o ouro do futebol masculino e o bronze de Maicon Siqueira no Taekwondo.
O Bolsa Atleta teve início em 2005 e hoje é o maior programa de patrocínio individual do mundo, segundo o Ministério do Esporte. Ele conta com seis categorias: Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paraolímpico e Pódio. A categoria Bolsa Pódio foi criada em 2012 para beneficiar os atletas que possuíam chance de medalhas na Rio 2016, depois da escolha da cidade como sede dos jogos. Após as olimpíadas, muitos atletas temem o fim do Bolsa Pódio, mas o encerramento do benefício ainda não foi confirmado.
Os atletas que fazem parte do programa, em todas as categorias, recebem ajuda durante um ano, com possibilidade de renovação. De acordo com o Ministério do Esporte, a prioridade é para atletas de modalidades que fazem parte dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, depois para as não-olímpicas, que são competidas nos Jogos Pan-americanos ou não fazem parte dessas competições. Para conseguir o benefício, é preciso ter bons resultados em qualificatórias e manter-se treinando, independente da condição econômica do competidor.
Outra saída encontrada pelos atletas para continuarem se dedicando ao esporte é usar o apoio das Forças Armadas. Depois de muitos atletas brasileiros prestarem continência no pódio, chamou-se atenção para o fato de que cerca de 30% da delegação brasileira é militar – 145 dos 465 atletas que competiram pelo Brasil.
Os esportistas começaram a ser recrutados para treinarem para os Jogos Militares de 2011 e, desde então, o Programa Atletas de Alto Rendimento cresceu e atualmente conta com investimento em torno de R$ 18 milhões ao ano. O resultado disso tudo chegou na Rio 2016, quando 12 das 19 medalhas foram conquistadas por atletas do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Para conseguir o benefício, é preciso se candidatar por meio de um edital e ser aprovado. Aceito no programa, o atleta se torna um militar temporário, por 8 anos, e entra com a patente de terceiro sargento, com salário em torno de R$ 3 mil.
No entanto, não são apenas os programas do governo e das Forças Armadas que colaboram para os atletas brasileiros. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, 90% da delegação brasileira tem apoio de programas governamentais ou de empresas públicas, como Petrobrás, Furnas e Correios. Dessa porcentagem, a metade conta também com patrocínio de empresas privadas. Dos 349 atletas consultados pelo jornal, 49,8% declararam ter apoio privado.
Para aumentar os patrocínios de empresas no esporte, o governo federal criou, em 2006, a Lei de Incentivo ao Esporte. Ela permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam no Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte. Até 1% desse valor pode ser investido por empresas e 6% por pessoas físicas.
Para que um projeto seja aprovado e receba os patrocínios, o mesmo deve comprovar regularidade fiscal nas esferas municipal, estadual e federal, além de emitir certidões negativas de INSS e FGTS. Também é preciso se enquadrar nas manifestações esportivas exigidas pelo Ministério do Esporte.
Histórias
Os ex-atletas olímpicos brasileiros mostram as diferenças entre chegar a uma olimpíada hoje e nos jogos anteriores. Mário Sabino, judoca bauruense que representou o país em Sydney e em Atenas, nos anos 2000 e 2004, mostra que sua trajetória para ficar entre os melhores atletas do mundo foi bem diferente da realidade atual. Ele explica como funcionava o processo de seleção para os atletas de judô.
“No meu caso, peguei duas gestões da confederação. A primeira, do Joaquim Mamede, não tinha tanto apoio financeiro. Nós tínhamos as seletivas nacionais, que eram várias fases. A gente tinha o apoio só do comitê olímpico e só no ano de Olimpíadas. Peguei essa fase quando fui para Sydney, em 2000. Em 2001, mudou a gestão, que hoje é do Paulo Wanderley. Em 2004, quando fui para Atenas, já foi outro processo. A confederação começou a ir atrás de patrocínios e começou um novo sistema de seletivas. Não eram seletivas nacionais, era um sistema ranqueado. No ano do ciclo olímpico foi enxugando a seleção pré-olímpica até ficarem dois atletas que trabalharam até as Olimpíadas. Então, eu peguei essas duas fases.”
Desde 2010, Sabino trabalha como auxiliar técnico da seleção brasileira de judô, assim, participou dos jogos olímpicos de Londres e do Rio. Ele explica que a seleção atual define um ou dois atletas para competir na Olimpíada em cada categoria do judô de uma forma diferente do que era na sua época. “Hoje o ciclo olímpico é assim: a confederação, no final do ano, faz uma seletiva e alguns atletas são indicados. Por exemplo, entra o campeão brasileiro e o campeão Troféu Brasil. Hoje a confederação dá bastante espaço para as categorias de base também, então entra o campeão brasileiro júnior, da seleção sub-21”, explica Sabino.
Esses atletas selecionados pela confederação de judô são levados para competições fora do país, nas quais lutam para ganhar pontos e ficarem bem no ranking mundial. Só continuam no próximo ano os atletas que alcançarem posições entre os 22 melhores do mundo no masculino e 16 no feminino. Desse modo, vão diminuindo os atletas para um ou dois que seguirão para os jogos olímpicos.
Na questão financeira, Mario explica que, quando competia, era atleta do Sesi e tinha apoio da instituição para lutar fora do país, mas o auxílio da confederação brasileira de Judô vinha apenas no ano de Olimpíadas. Hoje, a maioria dos atletas da confederação é beneficiada pelos programas Bolsa Atleta ou Pódio. Além disso, a própria confederação tem seus patrocinadores privados e, assim, paga salário para alguns judocas. Outros, normalmente medalhistas, possuem patrocínio exclusivo de algumas marcas ou empresas, como o judoca Rafael Silva, que recebe apoio da Petrobrás.
Mas, mesmo com todas as possibilidades de patrocínio e incentivos do governo, muitos atletas ainda precisam ir atrás das Olimpíadas por conta própria. Mario Sabino é coordenador da Associação Bushidô Judô Pais e Amigos, no bairro Mary Dota em Bauru, onde treinam crianças e competidores de alto rendimento. Lá, eles não contam mais com patrocínios e levam os atletas para competições com o dinheiro arrecadado em eventos organizados pela Associação.

Para Sabino, o Brasil ainda precisa pensar melhor nas políticas de valorização do esporte. “Eu acho que o Brasil ainda não tem uma política esportiva, a gente depende muito da iniciativa privada. O governo auxilia? Sim. Mas eu acho que tudo deve ser pensado mais ao longo prazo. Fazer um trabalho em cima das categorias de base, conjunto com município, estado e governo federal, para dar continuidade.”
Ele ainda deixa o recado para as novas gerações e jovens que têm o sonho de serem atletas profissionais: “Um atleta que hoje almeja chegar a uma Olimpíada, deve acreditar, treinar muito e se dedicar, porque é possível chegar. Eu, treinando aqui no interior e em São Paulo, acreditei e consegui chegar em duas Olimpíadas”, conta o judoca bauruense.
Ficha do atleta
Cláudio Roberto Sousa, do estado do Piauí, medalhista olímpico no atletismo e apaixonado pelo esporte, participou das Olimpíadas de Sydney, em 2000 – quando foi prata no revezamento 4x100m – e Atenas, 2004. Foi vice-campeão mundial no revezamento 4x100m no Mundial de Atletismo em 2003, em Paris. Com uma carreira totalmente dedicada ao esporte, conduziu a tocha olímpica na passagem por Jahu, onde mora atualmente e comanda a equipe de atletismo do Projeto Cidadão Olímpico – Correndo na Frente.
Claudinho, como é conhecido na cidade, ensina os conceitos do esporte que mais lhe traz orgulho, para crianças e adolescentes. Os resultados do amor e dedicação ao atletismo estão estampados nos pódios das competições, como no 17º Pré-Regionais de Atletismo, ocorrido em junho, em que a equipe conquistou cinco medalhas: duas de ouro, uma de prata e duas de bronze.
Confira entrevista com o atleta:

 
Educação física: o primeiro contato do atleta com o esporte
O destaque esportivo que o Brasil obteve nos últimos quatro anos, por ter sediado a Copa do Mundo e as Olimpíadas, leva a uma reflexão sobre o rumo do esporte no país.  As Olimpíadas despertaram a curiosidade de crianças e adolescentes, principalmente por terem ocorrido no Brasil e por terem sido divulgadas pelos governos federal, estadual e municipal.
A passagem da tocha olímpica nas cidades brasileiras, o incentivo das escolas em convidar os alunos para participarem do momento, bem como o esforço dos professores de Educação Física em convidar atletas para conversar com os alunos e a produção de material sobre os jogos, acenderam o interesse sobre o espírito esportivo que se instaurou no país.
Estimular e valorizar o ensino da Educação Física nas escolas, além de incentivar a apropriação do esporte por parte da criança ou adolescente, diminui os riscos de traumas relacionados às atividades, possibilita o contato com outras modalidades e contribui para que se despontem talentos.
O esporte na disciplina é mais que um conteúdo, é ensinar os alunos a se apropriar das diferentes modalidades. “É uma manifestação da cultura corporal, como a dança, a luta, as ginásticas, os jogos e brincadeiras. O jovem aprende que o esporte não é só aquele que passa na televisão, não são somente aqueles que passam nas Olimpíadas. A Educação Física possibilita que os alunos não fiquem apenas nos esportes de massa, trabalhados para vender, criar marcas”, conta o professor de Educação Física, Leandro Fernandes Garcia.
Atividades extras, como competições e projetos esportivos são importantes para a descoberta de aptidões e é no ambiente escolar que o aluno demonstra suas capacidades esportivas. Quando incentivadas e direcionadas às federações e clubes por um profissional, aumentam-se as chances de futuramente se tornarem atletas de rendimento.
O trabalho com os alunos vai além das quadras e centros de treinamento. Leandro explica que o professor de Educação Física precisa saber trabalhar com o emocional das crianças no dia a dia, tem que saber ouvir os problemas que elas enfrentam em casa. Na maioria das vezes fica a cargo do profissional fazer um trabalho psicológico com os alunos.

Os acompanhamentos mais específicos são feitos em atletas de alto nível, que precisam desenvolver aspectos emocionais e comportamentais para que dentro e fora das competições saibam agir respeitosamente e com responsabilidade.
No entanto, o saber perder e ganhar são trabalhados desde cedo, mesmo quando os indivíduos não se tornarão atletas, pois os ensinamentos do esporte são aplicáveis para a disciplina na vida pessoal, conforme conta o professor. O trabalhar em grupo é um dos principais aspectos estimulados na Educação Física, já que a maioria das atividades da disciplina é desenvolvida em grupos.
Participar de competições possibilita ao aluno a vivência da prática profissional do esporte mais próximo do que ele vê na escola. “Eles jogam com alunos de outras escolas, ganham, perdem, passam por dificuldades, vão jogar em ambientes em que a torcida é contra ou a favor. Isso faz com que vivenciem o esporte de maneira mais geral”, relata Garcia.
O interesse pela especialização no esporte se dá, muitas vezes, em ações externas às aulas de Educação Física, em competições de atletismo, por exemplo. Os alunos demonstram, no âmbito escolar, admiração por atletas já consagrados, mas procuram centros específicos para desenvolverem experiência no esporte.
Ao ser questionado sobre as expectativas para os jogos de Tóquio, em 2020, Leandro acredita que serão feitos esforços para que os novos esportes tenham mais visibilidade. Terá destaque, principalmente, o Karatê, por ter origem japonesa e participar da primeira olimpíada em casa.
 

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Redação

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