Escreva para pesquisar

Costurando Ideias

Compartilhe

A moda enquanto discurso dos que estão na ponta da cadeia criativa
Por Laura Fontana Novo

Os dados divulgados pelo último perfil do setor têxtil e de confecção brasileiros apontaram que, em 2014, o faturamento da cadeia têxtil girou em torno dos 53,6 bilhões de dólares e gerou 8 milhões de trabalhos diretos e indiretos, dos quais 75% são de mão de obra feminina. O Plano Nacional da Cultura apontou que “O Brasil tem um dos cinco maiores parques têxteis do mundo e está em posição de respectivo destaque no mercado global da moda”. O Plano ainda define moda como parte integrante e representativa da diversidade, devendo ser entendida como o diálogo entre valores culturais locais, nacionais e internacionais.

Infográfico Indústria Têxtil

O grande potencial de atuação no comércio exterior faz do setor têxtil brasileiro um poderoso segmento industrial. No entanto, a moda industrial com alma capitalista tal como conhecemos hoje, com coleções sazonais e todo o aparato publicitário, sustenta cadeias de produção cuja lógica desrespeita os significados sociais e culturais que a “escolha da roupa” traz consigo. Mas alternativas às grandes marcas existem e diversas ações empreendedoras comprovam que o potencial de criação da moda pode ser explorado de forma solidária.

“A velocidade estonteante das engrenagens da moda faz com que muitos pensem que é preciso ter sempre o novo. Mas, às vezes, nos esquecemos daquilo que somos e o que queremos construir”, afirma Flávia Vanelli, designer e sócia da empresa Ratoroi. A proposta da Ratoroi é ser um estúdio de design que trabalha com pesquisa técnica e desenvolvimento de novos produtos. Além disso, presta consultoria em moda e design, buscando promover a valorização do trabalho manual e o uso de elementos naturais e residuais, com foco na inovação e sustentabilidade.

“Acreditamos que quem produz com as mãos entende outra lógica do tempo, um tempo mais dedicado, feito com cuidado e qualidade. Procuramos essas pessoas e, a partir daí, tentamos construir uma relação de trabalho baseada na confiança e na vontade de fazer acontecer, gerar renda, melhorar o entorno, fazer parte de algo”. Do outro lado, Flávia afirma que trabalham com a indústria, onde se dedicam a explicar e oferecer novas possibilidades e materiais aos clientes.

Coleção Orquidário

O estúdio RATOROI desenvolveu, em parceria com artesãs catarinenses, a coleção “Orquidário”, uma coleção de porta-cartões, que respeita todos os pilares da sustentabilidade do selo Origem Sustentável (Foto: Divulgação Ratoroi)

O trabalho, que começou há 6 anos, buscava estudar as possibilidades estéticas do plástico pós-consumo e de excessos industriais, e a primeira aplicação foi na moda. Depois de aquecido e transformado em uma nova superfície, o plástico, recolhido pela Associação de Recicladores do Vale do Itapocu (SC), é trabalhado graficamente e ganha espaço na estamparia das coleções da Ratoroi.

Os porta cartões foram feitos com 14 KG de material excedente da indústria de calçados – resíduos de couro, tecidos e laminado sintéticos (Foto: Divulgação Ratoroi)

Os porta cartões foram feitos com 14 KG de material excedente da indústria de calçados – resíduos de couro, tecidos e laminado sintéticos (Foto: Divulgação Ratoroi)

Moda como discurso e criação sustentável

Danielle Ferraz, consultora de moda, trabalha há 15 anos com o universo da criação sustentável e acredita que sustentabilidade não diz respeito apenas à questão ambiental, mas às pessoas. “Em Pernambuco, grande pólo de moda sustentável no Brasil, pequenos artesãos se engajaram e se organizaram de forma a envolver a comunidade e promover mudanças na vida dos artesãos locais. A cearense Catarina Mina é a primeira marca a abrir todos os valores envolvidos no custo de produção artesanal em sua etiqueta de venda ou site – inclusive o quanto paga para cada artesã que tece suas bolsas feitas a mão”, lembra Danielle.

Outra grande diferença dos pequenos empreendimentos cujas lógicas se sustentam na economia solidária é a consagração da moda como peça chave para a construção da identidade, da ideia de pertencimento e diferenciação. “Ninguém precisa ter tudo, nem aderir a todos os modismos. É preciso preocupar-se em vestir sua essência e não em seguir tendências”, afirma Danielle.

E é justamente dessa ideia que a estudante de ciências sociais, Nátaly Neri, compactua. Nátaly é idealizadora da página Afros e Afins, que reúne conteúdos de moda e beleza, direcionados à mulheres negras. “Ter tido uma adolescência cheia de limites me fez criativa. Minhas roupas quando criança eram usadas, e eu sempre vi isso como motivo de vergonha. Por muito tempo, brechó foi uma das únicas formas que eu tinha de consumir moda, e por isso comecei a desenvolver algumas habilidades na costura para começar a modificar as roupas velhas. O que inicialmente foi algo que eu me envergonhava, com o tempo se tornou motivo de orgulho. Foi aí que me dei conta de que a última coisa que precisamos para nos vestir bem, é dinheiro”

Além da página, Nátaly produz vídeos com tutoriais em um canal do youtube que leva o mesmo nome Afros e Afins. “Os vídeos buscam oferecer autonomia às mulheres por meio de discussões sobre nossa realidade, vídeos sobre brechó, consumo consciente, algumas técnicas básicas sobre costura e tudo o que sei sobre cabelo afro (que atualmente é uma das minhas fontes de renda)”

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=QzenEfHjpPA]

E é justamente o potencial criativo da moda, inspirado na realidade de cada um, que permite que movimentos sustentáveis sejam estimulados, e que incentiva os consumidores a apreciar essa produção, que também possui um modelo de negócios, mas que respeita as individualidades e as necessidades de todos os envolvidos em suas cadeias produtivas.

Tags::
Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *