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Crise no preço do combustível e a conjuntura nacional: como o contexto geopolítico nos afeta?

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Conflitos com países exportadores de petróleo fazem com que o preço do combustível se mantenha instável

 

Texto: Michel F. Amâncio e Victória Linard

Tem sido um enorme desafio entender as dinâmicas da política e economia no Brasil. Com o histórico de crises das instituições democráticas e a proximidade das eleições, há um claro aumento da polarização política no país. Esse antagonismo ficou evidente nos últimos dias em meio à crise dos caminhoneiros, na qual os impostos praticados e a política de preços dos combustíveis da Petrobrás foram colocados em xeque.

Após assumir a presidência, Michel Temer e o ex-presidente da Petrobrás, Pedro Parente, definiram que o preço praticado nas bombas de combustíveis seguiria os preços no mercado internacional. Na prática, isso significa que quanto maior o preço do barril de petróleo, maior o preço do combustível repassado ao consumidor final. A subida dos preços dos combustíveis também provoca o encarecimento de bens de consumo, uma vez que estes dependem fortemente do modal rodoviário no Brasil.

Por conta da malha de transportes predominantemente rodoviária, o movimento dos caminhoneiros atingiu proporções catastróficas. O desabastecimento tomou conta de diversas cidades brasileiras e fez com que o governo atendesse a importantes demandas do movimento – dirigido, em parte, pela classe de donos de transportadoras, que reivindicavam menos impostos sobre o óleo diesel.

Mesmo com toda a agitação e mudança no cenário político do diesel no Brasil, a política de preços da Petrobrás se manteve. Pedro Parente pediu, em 1º de junho, a renúncia do cargo de presidente da estatal. Entretanto, quem assumiu o posto foi Ivan Monteiro, executivo que, de acordo com analistas do mercado, dificilmente vai alterar a equiparação de preços dos combustíveis ao mercado internacional.

A questão permanece, portanto, como fonte de incertezas. O petróleo é uma das matérias-primas de maior relação com as questões geopolíticas desde o início do século XX, quando se estabeleceu como a principal fonte de energia da humanidade. Inglaterra e França, antes mesmo das Guerras Mundiais, disputavam o controle sobre o Oriente Médio e o dividiram conforme seus interesses na exploração do petróleo na região.

Na década de 1970, o mundo se viu diante da maior crise do petróleo até então, provocada por conflitos envolvendo Israel e países árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Em resposta ao apoio ocidental às ações de Israel, a OPEP eleva artificialmente o preço do barril de petróleo no mercado internacional, provocando uma crise de abastecimento em todos os países dependentes do combustível fóssil.

Hoje, apesar do desenvolvimento de fontes alternativas de energia, o petróleo continua no centro de questões econômicas e geopolíticas. A instabilidade de regiões exportadoras altera o preço do petróleo comercializado e atinge países importadores, como o Brasil. Ainda que tenha grandes reservas de petróleo em seu território, o Brasil possui uma capacidade de refino bastante limitada. Por conta disso, derivados do óleo cru são geralmente importados de países como Estados Unidos. A situação se torna desfavorável ao país uma vez que o barril de petróleo é comercializado mundialmente em dólar, moeda estadunidense.

Nos últimos meses, pode-se observar uma instabilidade mundial quanto ao preço do barril de petróleo. Para o professor de geopolítica do cursinho comunitário da Unesp, Henrique Storniolli, o que aconteceu foi o seguinte: “Nos últimos meses, a gente teve algumas mudanças geopolíticas bastante profundas e uma das principais foi a possibilidade do fim do acordo nuclear entre Estados Unidos com e Irã. O Irã é um país localizado numa região riquíssima em petróleo e assinou um acordo em 2015 com os Estados Unidos que visava diminuir a produção de armar nucleares”.

Ainda de acordo com Henrique, a instabilidade vem crescendo com os contínuos conflitos causados pelo presidente Donald Trump. “Ele [Trump] já indicou que quer dar fim a esse acordo, o que vai causar, com certeza, instabilidade nos preços do petróleo, uma vez que o Irã é um grande exportador. Além disso, a Venezuela passa atualmente por uma grave crise socioeconômica, e também é um dos maiores países exportadores de petróleo. Essa crise faz com que o preço do barril de petróleo aumente”, completa.

Redação

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