Mau desempenho da economia do país praticamente não afeta pequenos produtores rurais
Por Julia Gottschalk, Marina Machuca e Thales Valeriani
Ledilna Prado, 30, é pequena produtora rural há dois anos. Conheceu o manejo de pequenas propriedades por causa do pai, que faleceu há 18 meses. Ledilna conta que trabalhou nove anos em um escritório de contabilidade, mas diz que ‘não tem vantagem em ficar na cidade, no stress’. Mudou-se para o campo e junto mudou de profissão.
Mora com irmãos e mãe em um mesmo lote rural. Moram em casas separadas dentro da propriedade. Ledilna conta que no total trabalham em oito e fazem doces de abóbora, mamão e goiaba de frutas plantadas na roça. Mas que o forte mesmo é a venda de carne de frango caipira e linguiça de porco.
A pequena produtora rural lamenta o mau desempenho da economia do país. Diz que o custo de produção subiu muito. O açúcar, usado para fazer os doces, o adoçante, para os produtos diet, e a tripa, para a linguiça, subiram a ponto de fazer a produção dar prejuízo. Sem alternativa, repassou o aumento para o consumidor. Se consola dizendo que ninguém reclamou do aumento, afinal, tudo subiu, como seria diferente com os seus produtos?
No ano de 2015 a economia do Brasil encolheu 3,7% e teve uma inflação um pouco acima de 10%, um quadro que representou o pior resultado dos últimos 25 anos. Em 2016, segundo projeções do Banco Central, a economia deve retrair mais de 3% e a inflação deve ficar em torno de 7%.
As projeções econômicas não são otimistas. Mas não abalam Cláudia Bueno, 35, pequena produtora há três anos. Claudia nasceu e se criou na cidade, mas a paixão dos filhos por animais a fez começar a trabalhar no campo, para onde acabou se mudando.
Por trabalhar com hortifrútis orgânicos, diz que o seu custo de produção não aumentou, utiliza materiais que o seu lote oferece. Sobre a crise econômica, não se sente afetada, afinal, comida todos precisam e compram, comemora.
Cláudia conta que trabalha acompanhando o sol. Se levanta logo que ele nasce, se recolhe para sua casa quando ele está a pino ou quando ela já está com fome, e volta quando o calor está mais ameno. Não trabalha com horários rígidos e vai para a plantação conforme a necessidade.
Diz que escoa sua produção em feiras e entregas em marmitarias e restaurantes. No período de férias leva sua filha mais nova com ela, conta que não tem com quem deixar e menina. Leva também o filho mais velho, de 16 anos, para ajudá-la. Além dos filhos de Cláudia ficam na feira crianças que são filhos e filhas de outros feirantes ou vizinhos do lote rural.
Entre as barracas de feira encontram espaços para brincarem e se divertirem. Indiferentes a dados e projeções econômicas. Assim como alguns que ocupam espaços não formais da macro economia parecem estar.