A exemplo de Joinville, com o maior festival do planeta, arte se expande de diferentes maneiras ao redor da região metropolitana de São Paulo.
Idealizado por Carlos Tafur, bailarino e diretor da maior escola de dança de Joinville-SC, o Festival de Dança de Joinville surgiu em 1983, com o objetivo de reunir a arte local e, alguns anos depois, a do país. Com o sucesso, em 2004, o livro dos recordes Guiness Book concedeu ao evento o título de maior festival e competição do ramo no mundo. Tal repercussão fez com que a ideia se expandisse, nas décadas de 1990 e 2000, para além da região Sul e começasse a ser replicada, principalmente, no interior do estado de São Paulo.
Com premiações em dinheiro e vagas para oportunidades internacionais, estes eventos são almejados por grupos de centros culturais públicos e, principalmente, escolas de dança particulares. Neste cenário, se destacam o Passo de Arte, em Indaiatuba, o FestCampos, em Campos do Jordão, o Dançarte, em Salto, entre outros, que possibilitam que bailarinos de todas as regiões do estado ampliem seu contato com os principais representantes da arte.
Érika Ramos, é uma das idealizadores de uma dessas competições, o Campinas Festival Dance, sediado na metrópole a 92 km da capital, e explica, em entrevista ao portal Campinas.com, a motivação para o funcionamento do espetáculo anual: “O objetivo do festival é valorizar a interpretação e a criação da dança em todas as modalidades e transmitir de forma natural e educativa o resgate das manifestações expressivas de nossa cultura”.
Agindo com os mesmos princípios das competições, a principal cidade do Centro-Oeste paulista, Bauru, abriga desde 2012 a Companhia Estável de Dança comandada pelo bailarino Sivaldo Camargo. Por lá, a iniciativa pública é aprovada pela Câmara Municipal e garante oportunidades de bolsas de R$ 607 por mês para os seus bailarinos que cumprem 20 horas semanais entre ensaios e aulas.
Sendo assim, o grupo é um dos responsáveis pelo movimento cultural de Bauru e região: “A companhia quebrou um pouco aquele paradigma de pai, mãe e namorado irem ver o aluno de escolas particulares se apresentar”, conta o diretor responsável pelos bailarinos. “Hoje, o pessoal da cidade sai para ver a companhia e somos uma referência na região, nos apresentando todos os anos em cidades como Barra Bonita, Botucatu, Ourinhos, Lençóis, Garça, Marília”.
Sivaldo destaca que esse é um dos pilares que movimentam a Companhia, que ainda tem como princípio formar bailarinos para o mercado profissional sem precisar sair de Bauru. Assim, permite-se que o interior possa promover e participar de audições em igualdade com o renomado eixo Rio-São Paulo.
Apesar disso, o bailarino aponta que não há a participação da iniciativa pública nos festivais particulares como as competições. Para ele, existem empecilhos para que a prefeitura invista recursos nesses eventos: “os bailarinos da companhia vêm de uma classe baixa e média, estão fora dessa elite e não podem sempre pagar hotel, palestra, inscrição. E a prefeitura como serviço público não tem como pagar. Como fica, para a população, eu pegar dinheiro público e pagar a inscrição de um festival particular? As bolsas são pagas com dinheiro do contribuinte de Bauru. É aqui que está o nosso compromisso!”
Por isso, o diretor destaca a importância de haver uma movimentação cultural local, com espetáculos gratuitos e que permitam valorizar a história da cidade e suas principais figuras. Segundo ele, Bauru ainda está um tanto isolada desse circuito mais popular da dança que se encontra em cidades como Joinville e no interior paulista. Apesar do sucesso internacional, o festival que ganhou destaque no Guiness Book não é tido por Sivaldo como modelo: “Era tão diferente da concepção que existe hoje. Antes o que mais importava era trocar essa experiência, conhecer o trabalho do outro, pouco importava se era o melhor bailarino. E hoje isso virou o foco principal”.