Victor Carrapato conquistou vagas na USP, Unicamp, Unesp e Unifesp
Por Flávia Gasparini
Era 24 de janeiro de 2020 quando peguei meu celular com as mãos trêmulas. Fazia tempo que não me sentia assim. O frio na barriga ao ver o nome na lista de aprovados da USP me fez sentir um enorme alívio. Alguns dias mais tarde, Unesp. Depois? Unifesp. E por último, mas não menos importante, Unicamp.
Não, a aprovada não era eu, mas meu melhor amigo Victor Carrapato (20). Após um ano intenso de estudos em casa, no início de 2020, ele surpreendeu a todos (ou quase todos) ao ser aprovado em quatro dos principais vestibulares para medicina do Estado de São Paulo.
Nesta entrevista, você vestibulando (a) confere algumas dicas de estudo em casa para obter a tão sonhada vaga na faculdade.
Victor com a boina da USP de Ribeirão Preto. Item é uma tradição da Universidade e é presentado a todos os calouros (Foto: Acervo pessoal)
Por quais motivos decidiu estudar em casa para o vestibular?
Victor: Eu queria ter uma maior flexibilidade nos meus estudos, sem seguir aquela rotina rígida de horários e aulas já pré-estabelecidos ou “perder tempo”, por exemplo, vendo aulas que eu já tinha conhecimento da matéria. Além disso, eu também achei muito importante para organizar a minha saúde mental e o meu tempo da maneira que eu achava melhor.
Como escolher o melhor cursinho preparatório?
Victor: Hoje em dia a internet está repleta de possibilidades de tipos de estudo. Existem vários professores no YouTube, com canais gratuitos e que disponibilizam aulas. Também tem os cursos pagos, que ofertam aulas e exercícios, além de livros, PDFs e listas que são encontrados no Google. Eu acho que, com essa gama de possibilidades, o mais importante é escolher o que atende as suas necessidades. Se você é uma pessoa que prefere aulas mais longas, mais explicativas, escolha cursinhos com esse tipo de conteúdo e assim por diante.
Como era a sua rotina de estudos?
Victor: A palavra-chave da minha rotina era “flexibilidade”. Em todo final de semana, eu planejava o que ia fazer durante a semana, quais matérias eu ia priorizar, as redações que eu ia fazer e até mesmo qual simulado eu ia treinar no final de semana seguinte. Eu tinha os horários fixos, mas não era uma coisa que eu necessariamente seguia à risca. Caso eu não conseguisse fazer algo, não ficava chateado ou estressado. Eu sempre deixava muitos horários vazios para caso ocorressem imprevistos. De manhã e à tarde eu estudava duas horas de uma matéria, tirava um intervalo, duas horas de outra matéria e fazia uma pausa. De noite eu descansava, ou fazia redação, exercícios ou deixava para suprir algum momento da rotina que eu não tinha conseguido fazer algo.
Quais são as principais vantagens de estudar em casa?
Victor: As principais vantagens são a flexibilidade nos estudos, preço (os cursinhos online são mais acessíveis do que os presenciais, tanto em questão de mensalidade como locomoção e alimentação), poder fazer sua própria rotina, mudar as aulas para o que você achar melhor e adaptar as necessidades do seu corpo. Além disso, por causa da organização, sobrava mais tempo para sair com os amigos, para poder ficar um pouco com a minha família ou para ter tempo pra fazer outras coisas que não fossem o cursinho em si.
Quais foram as suas principais dificuldades?
Victor: Acho que o primeiro ponto é o respeito da família. É muito fácil que as pessoas da sua casa acabem te interrompendo, comecem a conversar com você enquanto está estudando ou entrem no seu quarto. Isso tem que ser resolvido com uma boa conversa. Sentar e esclarecer as coisas, por mais que seja difícil. Além disso, outra dificuldade era achar resoluções de exercícios que eu tinha dificuldade. Mas isso era algo menor, já que hoje em dia a internet está cheia de exercícios com respostas. Outra coisa que eu queria abordar é a saúde mental. A falta de contato com outras pessoas, estar o dia inteiro sozinho e não ter muita noção da concorrência, pode ser um pouco prejudicial, mas não é tão difícil de lidar assim.
Victor celebrou as conquistas em um “trote” preparado pelos amigos (Foto: Flávia Gasparini)
Quais dicas você daria para alguém que está ou pretende estudar em casa?
Victor: Tenha calma. Não escute o que as outras pessoas falam para você sobre estudar em casa, que é “impossível” ou coisa de “vagabundo”, que é uma coisa que nunca vai conseguir… pois não é! As pessoas vão tentar desencorajar mas, não as escute, escute você. Só você sabe o que é o melhor para você. Só você sabe que está fazendo a coisa que vai te fazer levar aos seus sonhos, que vai te fazer conseguir a chance e a vaga na faculdade. Siga o seu corpo, siga os seus limites, descanse, saia, espaireça a cabeça, converse com os amigos. Sobre os estudos, se desafie, se arrisque e saia da casinha. Não fique no senso comum que o cursinho presencial traz muito. Vá atrás das coisas e aproveita o ano.
E a saúde mental? Como aliar os cuidados com a rotina?
Victor: É muito importante a gente priorizar nossa saúde mental durante o cursinho. No primeiro ano, eu acabei desprezando, não liguei muito para mim como pessoa e sim para mim como estudante. Isso me fez muito mal, sabe? Eu acabei o ano muito cansado, muito desanimado, desmotivado pra estudar e desmotivado para fazer as provas. A gente precisa aliar sim, estar bem e ficar bem. E eu acho que é possível aliar os cuidados com a saúde mental com a rotina. Manter uma flexibilidade, escutar o seu corpo, sair, ver um filme e não se culpar por isso. Não se culpe, é muito mais importante você chegar nas provas descansado, bem, confiante e sabendo que você deu o seu melhor durante o ano, do que chegar muito cansado. Algo que eu fiz ano passado foi aliar esportes com a rotina de estudo e buscar coisas que me faziam bem durante a semana. Até aprendi técnicas de respiração para ficar calmo, tentar relaxar durante a prova e nos momentos que eu estava mais nervoso durante minha rotina.
Agora com o coronavírus e os estudos EAD, você sente que é a mesma coisa de quando estava se preparando para o vestibular? Consegue manter a mesma rotina? Se não, o que mudou?
Victor: Com a faculdade EAD, muita coisa mudou. Mas, acho que o que mais sofreu transformações foi a minha percepção. Em termos de rotina, de como eu estava me preparando para o vestibular, eu sinto que é muito parecido. Ela é basicamente a mesma, mas é sem a saída, sem a convivência com amigos e tudo mais. A maior mudança é em relação ao conteúdo estudado, né? Agora são coisas que eu tenho mais interesse para aprender, eu sinto mais vontade de saber. Outro ponto importante é a frustração que acabamos sentindo. A gente luta para passar no vestibular, para entrar na faculdade e agora, quando passa, precisa fazer as coisas EAD. Mas é uma fase, vai passar e vai dar tudo certo.