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EUA x China: como olhar para os temores de uma guerra comercial entre as maiores potências econômicas

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Entenda as últimas ações do presidente Trump e quais as motivações de cada país

Há muitos anos, a China e os Estados Unidos têm uma relação internacional complicada. Com a eleição do presidente Donald Trump e as ambições conflitantes entre os dois países essa relação conflituosa se intensificou e as duas potências econômicas chegaram perto de forjar uma guerra comercial.
O que motiva essa briga entre os dois países? Estamos realmente próximos de uma guerra comercial que pode afetar a economia mundial? Conversamos com dois especialistas no assunto para entender os últimos acontecimentos e avaliar a possibilidade de um conflito com maior impacto global.

Linha do tempo

Em fevereiro, líderes do FBI, CIA, NSA e outras três agências de segurança dos Estados Unidos pediram para que os cidadãos americanos não usem smartphones da Huawei, a fabricante chinesa que está entre as maiores marcas de celular do mundo. A preocupação dos EUA era que a Huawei usasse seus celulares para espionar americanos.
Logo depois, em março, o presidente Donald Trump reforçou a sua política de protecionismo americano “America First”, incentivando a indústria dos EUA em detrimento de produtos importados. Começou com a sobretaxa de 25% ao aço e 10% ao alumínio importados para os Estados Unidos, e a China foi um grande alvo. Segundo Trump, os EUA têm um déficit comercial de US$ 500 bilhões com a China.

 
 
Depois, foi a vez da fabricante chinesa ZTE. A fabricante foi sancionada pelo governo americano em maio por ter, em 2017, vendido tecnologias produzidas nos Estados Unidos para a Coreia do Norte e o Irã, como os microprocessadores encontrados nos celulares modernos. Essa prática viola a legislação americana, e por isso as empresas dos EUA foram proibidas de fazer negócios com a ZTE.
“Como a China ainda não é um produtor de chips [microprocessadores], essa decisão aleijou facilmente a ZTE”, segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. A agência de notícias Reuters estima que até 30% dos componentes usados nos smartphones da ZTE são de empresas americanas.
A medida fez com que a fabricante chinesa interrompesse suas operações globais, o que depois fez o presidente Trump revelasse que iniciou uma negociação com Xi Jinping, presidente da China, para encontrar um equilíbrio. Então, ainda no final de maio, o Trump tuitou os termos do acordo, exigindo que “a ZTE pague uma multa de US$ 1,3 bilhão, coloque funcionários de compliance dos Estados Unidos na empresa e mude sua equipe administrativa”.

Por que essa guerra comercial acontece?

Para entender por que os países vêm chegando perto de uma guerra comercial, conversamos com Lia Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) que estuda a política de comércio exterior dos Estados Unidos desde 1995.
Segundo Valls, a guerra comercial motivada principalmente pelo presidente Donald Trump tem dois caráteres: conjuntural e estrutural. O primeiro se refere à campanha do Trump, que falava muito sobre a retomada de empregos na economia norte-americana e enquadrava a China como uma ameaça.

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Fonte: Pexels.


“No geral, quando você tem interesses de empresas americanas no território chinês, você sempre atenuou muito a questão da ameaça chinesa. Mas o Trump levantou essa bandeira para atender o eleitorado e levou isso à frente. Era como na década de 1980, quando o Reagan [então presidente dos EUA] escolheu o Japão”, diz Valls.
A outra visão, estrutural, remonta à dificuldade dos EUA de incorporar a China em um cenário de comércio multilateral. “A China tem um histórico dentro dos Estados Unidos com práticas desleais, como a de desvalorizar artificialmente o câmbio. Mas existem muitas empresas americanas que estão nos EUA e utilizam componentes eletrônicos da China. No fundo, os americanos gostariam que houvesse uma negociação de ordenamento de mercado melhor”, explica a pesquisadora.
Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, também lembra a questão do déficit comercial. “Os EUA têm um grande déficit comercial com a China, o que quer dizer que eles importam muito mais do que exportam. No Brasil é o contrário, há um superávit”, diz Tang.
Inclusive, para Tang, essa guerra comercial entre EUA x China pode beneficiar o Brasil, já que o país pode “preencher a lacuna do fornecimento americano, principalmente a garantir a segurança do povo chinês. Os EUA são um grande exportador de soja, carnes, bovina, suína, e aí o Brasil preencheria essa lacuna”, completa Tang.

Quais as motivações de cada país?

O consenso entre os dois entrevistados é que não é de interesse da China uma guerra comercial, já que o país tem a meta de se internacionalizar ainda mais, em vez de fechar as portas para outros países, como é a estratégia de Trump.

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Fonte: Pexels.


“O Trump quer ter um trunfo eleitoreiro, mas mesmo entre os republicanos dá uma certa reticência em apoiá-lo plenamente. As eleições legislativas nos EUA vão ser um teste para ele; até que ponto seus eleitores querem continuar esse tipo de ação? Existe um sentimento anti-China nos EUA, que acham que a China precisa ser regulada. Esse canal do Trump, de imposição, não é algo que é apoiado plenamente por elites americanas”, explica Valls.
Do lado da China, há o plano de até 2025 fortalecer ainda mais sua indústria de tecnologia e reduzir a grande dependência dos Estados Unidos. A potência econômica, pelo plano Manufacturing 2025, quer ter até 70% dos componentes utilizados nas áreas espacial, cibernética e robótica, feitos exclusivamente por empresas chinesas.
Essa ascensão ainda maior da China em uma área que é dominada pelos Estados Unidos preocupa os americanos. “Os EUA não querem que a China leve a dianteira no desenvolvimento da alta tecnologia e inovação. De acordo com um estudo da PriceWaterhouse Coopers, a China vai ser a economia número 1 antes de 2030. Ninguém gosta de deixar de ser numero 1”, completa Tang.
Um fator que permeia os acontecimentos de hoje é como que os Estados Unidos vão lidar com a ascensão chinesa, classificada como “inevitável” por Valls. “É pouco provável que a China abandone essa estratégia [de internacionalização] por causa dos EUA. Quando os americanos questionam sua forma de desenvolvimento, aí eles não vão abrir mão de como eles entendem como deve ser seu estado de governança”, diz a pesquisadora.
Recentemente, os EUA fecharam um acordo com a China para os chineses comprarem mais mercadorias e consertar o que foi chamado de desequilíbrio comercial. Isso quer dizer, segundo Valls, que os EUA deram uma trégua na briga, chegando a um acordo que ainda não está muito claro.
“Os chineses comunicaram que saíram vitoriosos dessa conversa. Uma solução seria jogar a negociação para a OMC [Organização Mundial do Comércio], num âmbito multilateral em vez de bilateral. Jogar num âmbito multilateral que seria a melhor saída de todas, mas o Trump tem dificuldades para o fortalecimento da OMC. É uma situação de muita incerteza”, encerra Valls.
Imagem de capa: Imprensa/Casa Branca. Matéria: Jean Prado.

Redação

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