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Flip tem homenageado negro pela primeira vez na história

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Além de contar com mais vozes femininas do que masculinas na composição das mesas, a edição deste ano da tradicional Festa Literária Internacional de Parati ainda terá o escritor Lima Barreto como o grande homenageado

 
Por Laís Cordão e Lívia Cadete

Às margens do rio Perequê-Açu no dias 26 a 30 de julho, acontece a FLIP (Festa Literária Internacional de Parati). Um festival literário realizado anualmente na cidade de Paraty-RJ, que reúne autores reconhecidos internacionalmente para atividades e debates envolvendo temas como literatura, história, jornalismo, religião e ciência.

A ideia principal do evento é inserir o Brasil no roteiro internacional dos principais festivais, e acabou tornando-se uma vitrine da cultura brasileira para o mundo. A feira promete não só um evento, como uma manifestação cultural e propagação da vivência brasileira para o mundo focando sobretudo na diversidade.

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Festa Literária Internacional de Parati (Foto: Reprodução)

Toda ano a FLIP conta com um autor homenageado e a escolha de 2017 foi o autor do romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto. Segundo a curadora da feira, Joselia Aguiar, o motivo da escolha de autor  já estava sendo cogitada há tempos . “Lima Barreto era já um dos nomes cogitados pela Flip como possível Autor Homenageado. Ele é um escritor que, nesse momento, nos permite discutir muitas das questões mais contemporâneas da literatura e também do Brasil atual”, conta ela.

Apesar da constante busca por diversidade, a feira ainda possui um caráter elitista. Ngugi wa Thing’o, autor queniano convidado do ano de 2015, conta em entrevista ao El País que se sentiu estranho ao chegar em Paraty e não se deparar com nenhum negro. “O que eu vi em Paraty é que não tem negros na rua. E na plateia da Flip também não”, conta o autor de Um grão de tigre, considerado hoje um romance clássico da literatura africana.

Já Mauro Munhoz , diretor da Casa Azul que organiza o evento, explica que a escolha dos homenageados não leva em conta raça ou gênero, e sim a qualidade e relevância de sua literatura. “Todos os autores que estão na Flip estão na programação não porque são negros e mulheres, mas porque estão trazendo coisas valiosas para nós podermos resolver nossos problemas” conta Munhoz na coletiva em que anunciou a programação da Flip 2017.

Para este ano tem-se o que fora considerado fora do padrão, uma vez que esta será a primeira vez em 15 anos que teremos uma Flip mais negra e feminina. Segundo Josélia Aguiar, jornalista e curadora da Flip 2017, “não dá mais para ter uma programação toda de homens brancos, com uma mesa de mulheres, uma de negros, uma de indígenas”. Mesmo ainda com pouca representatividade, de acordo com a organização, o evento terá 30% de autores negros entre homens e mulheres. E para a grande homenagem da edição a escolha de Josélia fica para Lima Barreto, autor negro e pobre que teve sua trajetória marcada pela marginalização.

Lima Barreto: negro e anarquista

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Lima Barreto, autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma (Foto: Reprodução)

Afonso Henrique de Lima Barreto ou Lima Barreto apenas, filho do tipógrafo Joaquim Henriques de Lima Barreto e da professora Amália Augusta, ambos mestiços e pobres, foi vítima de racismo e discriminação sua vida toda em um Brasil que mal acabara de abolir oficialmente a escravatura. Jornalista e um dos maiores escritores brasileiros — considerado o principal antecedente do modernismo — obteve fama não somente por sua excelência literária, mas também pela trágica biografia. Nascido no Rio de Janeiro em maio de 1881, Lima Barreto perdeu sua mãe ainda na infância, mas seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto, lhe garante uma educação escolar de qualidade.

Seus primeiros estudos aconteceram na cidade de Niterói, transferindo-se mais tarde para a única instituição pública de ensino secundário da época, o conceituado Colégio Pedro II, que ficava no centro do Rio de Janeiro e era frequentado pela elite econômica. Aos dezesseis anos foi admitido no curso de engenharia e ingressou na Escola Politécnica, no Largo de São Francisco. Apesar de seu esforço precisou abandonar os estudos, pois se viu na obrigação de cuidar da família e sustentar os três irmãos, uma vez que seu pai enlouquecera em função de problemas psiquiátricos.

Desde então passou a conciliar o jornalismo — colaborava com quase todos os jornais cariocas — à sua entrada no serviço público, exercendo a função de amanuense na Secretaria da Guerra. Nesse momento Lima Barreto dava início aos seus primeiros romances, publicando artigos e crônicas em periódicos de grande prestígio, como Correio da Manhã, além de revistas literárias. Após uma série de dificuldades ele consegue editar aquela que seria sua estreia: “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1909).

O texto é marcado por críticas sociais e as dificuldades presentes nas primeiras décadas da República. Diferentemente dos letrados tradicionais, Lima explora um estilo livre e despojado, desvinculado dos padrões da época. A obra narra a trajetória de um jovem mulato que vem do interior e sofre sérios preconceitos raciais. Fazendo uma alusão explícita a algumas pessoas da sociedade, inclusive poderosos da imprensa, o autor recebe severas críticas, gerando as mais diversas recriminações, e vê importantes e influentes jornais fazendo silêncio ao seu romance.

Em 1911 Lima Barreto publica em folhetins aquela que se tornaria a sua mais célebre obra. “Triste Fim de Policarpo Quaresma” conta o drama de um velho aposentado patriota que luta pela salvação do Brasil, cujos ideais lhe custam a própria vida. Nosso Dom Quixote brasileiro ganhou até uma adaptação para o cinema, porém quase um século depois (1998). Com dificuldades em editar o romance em livro, o autor consegue sua publicação final somente quatro anos mais tarde. Nesse momento Lima já está com seu estado de saúde em declínio, passando por crises relacionadas à depressão e ao consumo excessivo de álcool e que provocam sua primeira internação em um hospício em 1914.

Escrito imediatamente após sair do hospício, o romance “Numa e Ninfa” é publicado pelo jornal A Noite em 1915. Entre 1915 e 1919, Lima retoma as atividades literárias e passa a colaborar com obras e textos jornalísticos em diversos periódicos — na mesma época o escritor se aposenta do trabalho na Secretaria da Guerra por invalidez. Em 1919 volta a ter alucinações, é mais uma vez diagnosticado como alcoólatra e então retorna ao Hospital Nacional dos Alienados. Nesse mesmo ano, inspirado no Barão do Rio Branco, ele publica a sátira Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.

Os períodos de sua segunda internação resultam na criação de diversos diários, além do livro inacabado Cemitério dos Vivos — que possui trechos publicados em 1921 e reúne suas experiências desta passagem pelo hospício. Extremamente infeliz e esgotado, Lima Barreto abandona o sanatório pouco tempo depois. Nessa altura ele já estava sendo reconhecido como um dos escritores brasileiros mais importantes de sua época, publicando seus cinco livros finais: Histórias e Sonhos, Feiras e Mafuás, Marginália, Bagatelas e Clara dos Anjos.

Com a saúde debilitada, Lima vem a falecer no dia primeiro de novembro de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, em decorrência de um colapso cardíaco. Ele deixou uma obra de dezessete volumes, sendo que grande parte de seus escritos, entre eles romances, crônicas, contos, memórias e críticas literárias, foram publicados após a sua morte.

Redação

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