Escreva para pesquisar

Longe de casa

Compartilhe

Brasileiros relatam a vivência da pandemia no exterior

Por Maria Eugênia Martelli

A pandemia da Covid-19 trouxe inúmeras mudanças na rotina da população brasileira e na maneira como nos relacionamos, sejam essas relações profissionais ou pessoais. Tais mudanças, decorrentes do isolamento social, alternativa adotada pela maioria dos países do mundo para a contenção da disseminação do vírus, podem ser sentidas em maiores proporções por brasileiros que estão vivendo ou viveram essa realidade fora do Brasil. 

Além da necessidade de lidar com a nova rotina, com a solidão e com as incertezas do período, esses brasileiros encontram-se em países com hábitos e uma língua materna diferentes, muitas vezes longe de seus familiares e amigos, vivendo diferentes desafios e descobertas.

As diversas realidades existentes no mundo podem ser facilmente observadas durante a pandemia do novo coronavírus. Matteo Dell’Agli Tatoni é estudante de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e está desde março morando em Munique, na Alemanha, fazendo um intercâmbio pela faculdade. O estudante conta que, apesar da cidade de Munique estar na Baviera, região que foi o epicentro do vírus no país, a situação foi bem controlada.

Segundo Matteo, “houve, entre a segunda semana de abril e o dia 18 de maio, uma série de medidas impostas pelo governo da Baviera para impedir aglomerações. Reuniões com mais de duas pessoas foram completamente proibidas e qualquer tipo de aglomeração também, ainda que esportes individuais estivessem liberados durante todo o período”. Apesar disso, o país lidou bem com a pandemia e foi um dos primeiros da Europa a realizar a reabertura.

Após o dia 18 de maio, a Alemanha iniciou retorno gradual às atividades e Matteo destaca que, diferentemente do Brasil, o país, segundo suas percepções, acabou saindo desse período de crise mais unificado do que entrou, iniciando a reabertura com um clima de solidariedade entre os cidadãos. Tatoni destaca que “diferenças políticas foram relativizadas e projetos importantes foram adotados, dois importantes pacotes de incentivos econômicos foram colocados em prática e uma série de diretrizes para o desenvolvimento de empresas sustentáveis foram a eles atreladas”. 

 Diferentemente do Matteo, que viveu esse período de isolamento social em uma das regiões da Europa em que a pandemia esteve mais controlada, a estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Beatriz Moraes de Andrade, está residindo em Milão, na Itália, país que foi o epicentro do vírus na Europa. A estudante foi para a Itália com o intuito de fazer  um intercâmbio em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Politécnica de Milão.

Beatriz conta que, atualmente, a situação do país em relação ao coronavírus é mais satisfatória. A Itália encontra-se na fase três da reabertura, em que os negócios e comércios foram abertos, ficando fechadas somente baladas, discotecas, escolas e instituições de ensino. Para chegar à essa fase atual, porém, o país viveu, durante mais de cinquenta dias, uma quarentena rígida e totalmente restritiva. A estudante de Arquitetura e Urbanismo destaca que “quando a quarentena foi decretada, fecharam todos os comércios e as únicas coisas que puderam permanecer abertas eram a farmácia e o  mercado”. Segundo ela, a fiscalização foi rígida e “ impuseram uma multa de mais de 200 euros, caso você fosse parado na rua por um oficial e não estivesse indo a um desses lugares ou tivesse uma emergência de saúde”. 

Beatriz Moraes de Andrade em Firenze, na Itália, antes do período de quarentena domiciliar obrigatória. (Imagem: arquivo pessoal)

Na opinião de Beatriz, a fiscalização nas ruas, para evitar que pessoas saíssem sem necessidade, e o suporte fornecido pelo governo italiano, para que as pessoas pudessem ficar em casa, foram medidas essenciais na contenção do vírus. Moraes acredita que tais realizações proporcionaram uma quarentena rígida, diferentemente do que ocorreu aqui no Brasil. Segundo a estudante, “no Brasil, temos outros problemas que a Itália não teve que enfrentar, e o auxílio  não está sendo, nem de perto, o auxílio que os italianos receberam. Isso dificulta, pois não dá para você pensar na possibilidade de ter todas as restrições que tivemos aqui sem um auxílio decente, que possibilite que a pessoa passe por uma quarentena totalmente restritiva”. 

O processo de repatriação

Se por um lado, brasileiros como o Matteo e a Beatriz escolheram continuar no exterior durante a pandemia do novo coronavírus, outros optaram pela volta para a casa. Segundo o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), órgão do Poder Executivo responsável pela política externa e relações internacionais do Brasil, até o dia 05 de maio, data da última divulgação, 20.746 brasileiros foram repatriados com o apoio das Embaixadas e Consulados.

O Ministério das Relações Exteriores tem trabalhado para auxiliar brasileiros que estão no exterior nesse momento de pandemia. Entre as medidas tomadas pelo órgão estão o fretamento de voos de repatriação com tudo pago pelo governo, em casos de extrema vulnerabilidade, viabilização de embarques e liberação de vistos emergenciais, porém a situação é extremamente crítica e muitas pessoas ainda esperam ajuda no mundo todo.

(Infográfico: Maria Eugênia Martelli)

A volta para o Brasil, na maioria das vezes, é um processo difícil e cheio de entraves. Rafael Zoli é professor de música e artista e esteve na Itália por três meses durante a pandemia. Em busca da realização de um processo de dupla cidadania, Rafael optou por voltar antes do previsto, pois tornou-se impossível dar continuidade ao processo, já que as prefeituras e os cartórios estavam fechados e não havia uma previsão da volta desses processos burocráticos.

A viagem de volta foi longa e complicada. Após três voos cancelados no mesmo mês, Rafael conseguiu voltar, mas relata que foi uma viagem exaustiva.“Não havia voo direto e escalas fáceis e precisei ficar mais 10 horas no próximo aeroporto, em outro país, até voltar para o Brasil. No total, foram quase dois dias de viagem com muita tensão e medo de pegar o vírus ou até mesmo passar por algum desconforto por estar viajando nessa fase”, conta. 

Rafael salienta também que trocou e-mails com o consulado de Milão, mas que, durante um mês de conversas, o Itamaraty não conseguiu realizar um voo de repatriação. “Eu senti como se houvesse o esforço deles, mas era uma situação que estava além do alcance”, destaca Zoli.

Estudante de Jornalismo da Unesp, Larissa Chaves Placca morou por quatro meses em Córdoba, na Argentina. A estudante foi para o país com o intuito de realizar um intercâmbio na Universidad Nacional de Córdoba (UNC), através de um programa oferecido pela Unesp em parceria com outras universidades da América Latina, porém teve aulas na modalidade online e teve que voltar antes do previsto. 

Larissa pretendia voltar ao Brasil em julho, mas após a aprovação de um decreto na Argentina em que nenhum voo internacional entraria ou sairia do país até o dia primeiro de setembro, a estudante resolveu antecipar a volta. “Voltei mais ou menos 3 semanas antes que com certeza fariam a diferença, porque a Argentina está recém recuperada do vírus. A cidade que eu morei estava na fase quatro da reabertura, então tinham acabado de liberar as caminhadas ao ar livre, alguns comércios”, conta.  

 Larissa retornou ao Brasil em um ônibus de uma empresa privada. A viagem durou cerca de três dias e os custos da viagem foram arcados por ela mesma. A falta de apoio do governo brasileiro, segundo a estudante, interferiu na qualidade e segurança da viagem. “Como a repatriação foi feita por uma empresa privada, sem apoio do governo, não sabemos ao certo se o preço foi justo e, além disso, as medidas preventivas não foram tomadas, por exemplo: troca de máscaras obrigatória a cada 4 horas de viagem e distância de, pelo menos, uma cadeira entre os passageiros”, destaca.

Até a última atualização do Itamaraty, em cinco de maio, 20.746 brasileiros foram repatriados com o apoio das Embaixadas e Consulados. Orientações aos brasileiros no exterior afetados pela pandemia podem ser encontradas no Portal Consular do Itamaraty.

A estudante Larissa Placca em frente à Universidad Nacional de Córdoba, onde ela teria aulas presenciais antes da pandemia. (Imagem: arquivo pessoal)

Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *