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Conheça mais sobre o mercado de moda vegana.

POR AMANDA FONSECA, LÍVIA LAGO, MARINA MOIA E WILLIAM ORIMA

Moda é mais que um conjunto de tendências passageiras. Muita gente, dentro e fora do meio, acredita que moda é uma filosofia. Para os veganos, a moda faz parte do seu estilo de vida. Não se trata de como você deve se vestir, mas sim com o que você deve se vestir. Uma questão de entender a origem dos produtos e os processos que levam a sua roupa até você.

Para entender a moda vegana, precisamos compreender do que se trata, afinal, o veganismo. A ação de evitar a exploração animal pode ser traçada há milhares de anos, mas a origem do termo “vegano” está associada ao The Vegan Society, grupo fundado no Reino Unido em 1944 por ex-membros da The Vegetarian Society, que deixaram o grupo anterior por diferenças ideológicas. Enquanto o vegetarianismo é classificado como um regime militar que exclui carnes e pode chegar a restringir todo alimento de origem animal em sua forma mais rigorosa, o veganismo é, nas palavras da The Vegan Society, “uma filosofia e estilo de vida que busca excluir – tanto quanto possível e praticável – todas as formas de exploração e crueldade com animais, seja por comida, vestuário ou qualquer outro propósito; e por extensão, promove o desenvolvimento e uso de alternativas livres de origem animal para o benefício de humanos, animais e meio ambiente”.

info veganismo

O número de adeptos ao veganismo vem crescendo nos últimos anos. A iniciativa do site Mapaveg tem documentado vegetarianos, veganos e simpatizantes por meio de um cadastro, visando o aperfeiçoamento das estatísticas deste nicho aqui no Brasil. Lá fora, o veganismo também conta com personalidades para difundir os ideais da causa. Nos Estados Unidos, o ator Woody Harrelson, a atriz Nathalie Portman, a apresentadora Ellen Degeneres, o ex-pugilista Myke Tyson e o ex-presidente Bill Clinton figuram entre os defensores mais famosos do movimento.

Ser vegano tem a ver com compaixão, saúde, sustentabilidade, ética e, dentre tantas outras coisas, tem a ver com moda. Excluir o fator animal da equação vestuário significa preferir tecidos vegetais e sintéticos, como algodão, linho e poliéster, em detrimento de peças de origem animal como peles, couro, lã e seda.

Girassol, símbolo do veganismo (Foto: Curiositysip)

Girassol, símbolo do veganismo. (Foto: Curiositysip).

Ao aderir ao veganismo, é inevitável a reforma no guarda-roupa e até mesmo nos cosméticos. Kamila Feldenheimer está em processo de transição para o veganismo há 2 anos e conta que teve que desfazer de vários itens de origem animal. “Eu tinha cobertores de lã e algumas roupas de lã também. Nunca usei couro ou pele de animal, pois antes mesmo dessa consciência vegana, eu não achava justo, mas alguns calçados tinham couro”, revela. Apesar do mercado vegano ainda estar em crescimento, Kamila afirma que não possui dificuldades para encontrar roupas que não possuem nenhum material de origem animal.

Quem também está em processo de transição é a estudante Ana Beatriz Alvarez, de 17 anos. Ela já é vegetariana e está aos poucos completando a mudança para o veganismo, sendo que já não usa nada de couro e nenhum cosmético que tenha sido feito com insumos animais ou que tenha sido testado neles. Apaixonada pela ideologia e pelo respeito com os animais, Ana Beatriz declara que “entender que os animais não estão aqui pra suprir nossas necessidades, ver que eles fazem parte do nosso ambiente e do nosso planeta como um todo e que tem tanto direito à vida como os humanos é essencial”.

Vegano desde 2012, Luis Godoy é pesquisar na escola de circo e artes Inhouse e comenta que a mudança do vestuário não veio à sua cabeça quando decidiu seguir a ideologia. Não pensei na moda, mas pensei no que eu usaria que não fosse proveniente da exploração animal. Eu fazia muita trilha e acampava, então tive de pensar em calçado a ser usado. Hoje não utilizo nada de couro, lã ou qualquer outro produto que derive diretamente da exploração animal”, relata. Assim como Kamila, Luis também afirma não ter dificuldades para encontrar roupas e produtos veganos. “Eu me visto muito bem, da maneira que me agrada e sou vegano”, diz.

O mercado brasileiro de vestuário vegano ainda é pequeno, mas tem conquistado seu espaço, seja com produtos artesanais ou produção em grande escala. Conheça algumas marcas que trabalham com produtos veganos, sustentáveis e com impacto ambiental mínimo.

Zerezes

A Zerezes é uma marca carioca de óculos, que procura utilizar materiais de baixo impacto ambiental e, por consequência, atualmente, pode ser considerada uma marca vegana, mesmo que essa não seja sua ideologia. “A Zerezes surgiu da observação para a cidade, num momento em que o Rio passava por grandes obras principalmente pela Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e revitalização da Zona Portuária. Desde a faculdade, sempre encaramos os processos produtivos e materiais envolvidos como premissas dos nossos projetos, muito mais do que atributos ‘extras’. Quando vimos que no meio dessa onda de construção conseguíamos obter matérias-primas nobres a um custo zero, reinserindo ao invés de extraindo-a, não tivemos dúvidas de que seria o caminho certo a ser seguido”. conta Luiz Eduardo Rocha, designer de produtos e um dos sócios da marca.

A Zerezes trabalha com materiais de baixo impacto ambiental (Foto: Divulgação)

A Zerezes trabalha com materiais de baixo impacto ambiental. (Foto: Divulgação).

Os produtos são feitos à base de madeira, serragens e acetatos, associados a uma resina extraída da mamona, peças metálicas, lentes de resina e embalagens que combinam papéis e tecidos.

Uma pesquisada no site pode fazer com que o consumidor fique um pouco assustado, afinal os preços dos produtos estão em uma faixa de R$400 a R$500. Uma soma considerável para quem depende do salário base no país. Mas Luiz afirma que o preço cobrado está abaixo dos custos de produção: “Existem óculos de todas as faixas de preço, e a Zerezes está posicionada em uma condizente com a percepção do consumidor brasileiro. Se fôssemos basear o valor dos nossos óculos apenas pelo seu custo e práticas envolvidas, os óculos deveriam custar mais caro, mas aí entram questões de consumo um pouco mais complexas”. Para ele, os brasileiros ainda cultivam a mentalidade de que os produtos importados têm mais qualidade. Isto parece dificultar o reconhecimento de marcas nacionais.

Rocha também acredita que um mercado que procura respeitar os materiais, processos e pessoas envolvidas têm uma importância enorme e faz algumas críticas: “em uma dinâmica de fast fashion, com produções massivas, escravização da mão de obra, maximização do lucro e descartes absurdos, toda e qualquer iniciativa com alguma relevância socioambiental deve ser olhada com carinho. Com essa onda ‘sustentável’ que está passando, muita gente tem se utilizado de argumentos verdes para promover vendas de produtos e/ou conceitos não tão legais quanto aparentam. De qualquer forma, é importante e necessário que repensemos e criemos novas maneiras de consumo. O mundo já deu inúmeros sinais disso”.

Loja online: http://zerezes.com.br/

Loja física: Fashion Mall no Rio de Janeiro, e outra em Trancoso, Bahia

Ahimsa

Já a marca de sapatos Ahimsa se define como vegana e tem em sua criação este princípio. O nome faz referência a um dos preceitos morais e éticos do Yoga, a cultura da não-violência.

ahimsa

A Ahimsa procura trabalhar com uma produção sustentável e sem causar danos ao meio ambiente. (Foto: Divulgação).

Seu criador é Gabriel Silva, ex-piloto de avião, se tornou vegano após o diagnóstico de uma doença e os questionamentos que surgiram sobre sua alimentação. Então, ele sentiu falta de um mercado que atendesse suas novas demandas: “Eu sou vegano e senti a necessidade de trazer esse tipo de produto para o mercado, já que enxerguei dificuldade em comprar para uso próprio. Como já trabalho na indústria, canalizei meus esforços para esse segmento, dando sequência em atividades similares as de anteriormente”. Segundo Gabriel, a empresa de calçados é a única no mundo a ser 100% vegana, sendo totalmente proibido qualquer material de origem animal na linha de produção.

A respeito dos materiais utilizados, existe também uma preocupação ambiental e de incentivo à indústria brasileira: “procuramos evitar o máximo qualquer insumo que cause poluição desnecessária em seu processo produtivo. Exemplo disso é nossa luta para evitar insumos oriundos da exploração de petróleo. Optamos também por utilizar apenas insumos feitos no Brasil”, conta.

Gabriel também revela que a produção vegana tende a ser mais barata. Contudo, algumas marcas aumentam o valor na hora da venda por causa da limitação do mercado. Mas na visão dele, é um setor em crescimento: “enxergamos um mercado em crescimento exponencial. O retorno que temos recebido de nossos clientes mostra que a demanda tende a crescer muito nos próximos anos, apresentando oportunidade real para as marcas já existentes no mercado e para outras também. Sinal disso é o foco que muitas marcas tradicionais estão dando a esse público. Como já aconteceu com outros segmentos, muito formadores de opinião estão migrando para a causa vegana, e isso trará muitos olhares para nosso trabalho”. declara.

Além de sapatos, a loja online também oferece carteiras, cintos e mochilas. O preço dos produtos está na faixa de R$90 a R$300.

Loja online: https://useahimsa.com/

Nicole Bustamante Vegan Goods

Nicole Bustamante é criadora da marca de roupas, acessórios e objetos de decoração, Nicole Bustamante Vegan Goods. Há quase 2 anos, a ilustradora e designer resolveu que era hora de seguir sua filosofia de vida também no espaço profissional: “Sou vegana há um tempinho, e quando trabalhava na indústria para outras marcas sempre ficava um tanto frustrada em às vezes ter que produzir para marcas as quais eu sabia que tinha um processo/procedimento de trabalho com os quais eu discordava redondamente. Me sentia conivente com várias praticas que eu repudiava, então resolvi fazer a minha própria marca. Com valores e estética que eu realmente acredito, um trabalho do qual eu me orgulhasse e que sentisse prazer em ‘varar a noite’ fazendo”.

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Nicole trabalha com roupas, acessórios e itens de decoração veganos. (Foto: Divulgação).

Ela se orgulha de não utilizar materiais tais como: couro, camurça, pele, seda, feltro de lã, lã, pérolas, osso, penas. E assim como Luiz Rocha, ela também critica a indústria da moda: “o mercado de moda vegana é importante porque o planeta e a sociedade não suporta mais o consumo nos moldes fast fashion, moda descartável,  obsolência programada. Precisamos, pra ontem, humanizar nossa produção e priorizar o aspecto ético dela e do modo de consumo. Apesar de não ser a indústria que mais polui e esgota os recursos naturais no mundo, essa indústria seria a de carne e laticínios, ainda é uma indústria extremamente poluente e anti ética (tanto para humanos e não humanos) e não precisa. As pessoas estão começando aos poucos a entender isso e ter empresas familiares, preocupadas com esses aspectos que as grandes indústrias negligenciam”, declara.

Ao contrário do Gabriel Silva, Bustamante afirma que existe uma elevação no preço do seu produto devido ao uso de matéria-prima orgânica, a preocupação com impacto ambiental mínimo, entre outras etapas do processo. Em sua loja online, Vegan Goods tem peças que variam de R$30,00 a R$150,00.

No entanto, ela acredita que isso tende a mudar: “agora cada vez mais pessoas estão criando coragem para abrir seu próprio negócio (vegano ou não) com a sua própria estética e conceito. Isso está gerando esse novo nicho de produtos artesanais de qualidade e está cada vez mais surgindo incentivo pra isso. As feirinhas, ‘flea markets’* e brechós de qualidade estão tomando conta das ruas e nunca se falou tanto em reuso/reaproveitamento/reciclagem de vestuário como se fala hoje. Isso é menos novo no exterior, mas nas metrópoles está tomando forma agora e tendo cada vez mais adeptos. Talvez não no ritmo necessário para uma diminuição relevante do impacto ambiental, mas já existe esse movimento que precisa cada vez mais de incentivo. O bacana é que ele não tem vindo de grandes marcas/lobbies industriais, e sim de um movimento espontâneo de pessoas  cansadas de reclamar das mesmas coisas e que tiveram coragem para investir em novas ideias e ideais”.

Loja online: http://nicolebustamante.iluria.com/index.html

https://www.facebook.com/nicolebustamantevegangoods/?fref=ts

e também pelo Whatsapp: (11) 9 7256 2689

Loja física: ocupam um espaço no Clube Vintage colaborativo na Rua Augusta, em São Paulo.

*flea markets: é uma espécie de bazar onde alugam um espaço para pessoas interessadas em vender ou trocar mercadorias.

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Redação

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