Por Henrique Cézar e Mauricio Daniel
Pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apontou em 2015 que o café é a segunda bebida mais consumida no Brasil, perdendo apenas para a água. Um consumo crescente e cada vez mais diversificado, principalmente após o aumento, nas últimas décadas, dos cafés especiais no mercado nacional e internacional. Dados recentes da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA – sigla em inglês) mostram que a demanda pelos grãos especiais cresce em torno de 15% ao ano e o segmento representa hoje cerca de 12% do mercado internacional da bebida, proporcionando novos negócios e experiências.
Tomar um simples café para começar o dia, por exemplo, tem ganhado um novo significado para os clientes da Doce Arte Café, cafeteria localizada no shopping Moda de Fábrica, em Socorro (SP), localizada no Circuito das Águas Paulista. Um novo espaço inaugurado recentemente tem proporcionado aos apreciadores de café a oportunidade de conhecerem ainda mais sobre as características da bebida, técnicas de degustação e viver um “momento cafeinado”.
De acordo com a BSCA, o Brasil conta hoje com 12 principais regiões produtoras de café, entre elas a Mogiana-SP, onde se localiza o Circuito das Águas Paulista. Socorro possui cerca de 700 propriedades que realizam o cultivo do café, evidenciando um forte potencial do município no setor. “O potencial da cidade de Socorro para o cultivo do café é gigante. Porém, a grande parte ainda é refém do mercado de commodities, das variações das bolsas. É aí que surgem os cafés especiais, que possuem maior valor agregado e dão novas opções ao produtor”, afirma Jesse Zerlin, proprietário da Doce Arte Café.
Apesar de um pouco mais caro que os comuns – o valor de venda para alguns cafés diferenciados tem um sobrepreço médio que varia entre 30% e 40% do café convencional, podendo ultrapassar a barreira dos 100% – os cafés especiais se destacam pelo processo seletivo que percorre a seleção das mudas, o manejo, técnicas diferenciadas de colheita, adubação e formas de secagem. O resultado é um café de mais qualidade, com sabores, nuances e outras peculiaridades que surpreendem o paladar dos amantes da bebida. Segundo Vanusia Nogueira, presidente da BSCA, a produção de café especial está diretamente ligada a alguns fatores. “Os principais são a escolha correta do cultivo, a localização, a topografia e o microclima da região e, posteriormente, os tratos e o manejo antes, durante e após a colheita”, explica.
A região do Circuito das Águas tem se destacado nos últimos anos na produção de grãos especiais. O café especial “Obatã”, produzido no sítio Santa Rosa, na cidade de Serra Negra (SP), esteve entre os finalistas do 12º Concurso Nacional ABIC 2015. O casal Paulo Rogério e Regina Marchi, proprietários do sítio, afirma que a participação no concurso que escolhe os melhores produtos do Brasil é uma grande conquista. “Estamos muito felizes, só de estar entre os finalistas já em um grande resultado”, afirmam. O resultado foi uma importante conquista para o grupo de produtores que integram o projeto de Identidade Regional do Café, na valorização do café produzido no Circuito das Águas. Para a equipe de Agronegócio do Sebrae-SP Campinas, os resultados de produtores da região representam o reconhecimento do Circuito das Águas Paulista como região produtora de cafés de qualidade pelos agentes do setor cafeeiro. “Esse reconhecimento fortalece a atração do público interessado em conhecer e gerar negócios na cafeicultura. Orienta, portanto, na construção de ações voltadas para a projeção e fortalecimento da região e no desenvolvimento de novos mercados e relacionamentos”, ressalta Sizínio Neto, consultor do Sebrae. O Projeto de Identidade Regional do Café é uma parceria entre a equipe de Agronegócios do Escritório Regional do Sebrae-SP Campinas e Sindicatos Rurais, Casas da Agricultura, Conselhos rurais, Prefeituras, Associações e Cafeicultores da região.
Outra conquista foi alcançada pela proprietária da Fazenda Fronteira, também em Socorro (SP), Ellen C. Souza Pinto Fontana. Ela conquistou o troféu de prata na edição 2015 do Prêmio Mulher de Negócios. Há 20 anos ela comanda a Fazenda Fronteira onde se dedica à produção de café em uma área de 20 hectares. Há três anos passou a produzir o café especial. Segundo Ellen, mesmo com as dificuldades em decorrência da chuva no período de colheita, a marca de 2014 foi superada. Em 2014, um terço da produção foi de café especial e em 2015 chegou a 50%. “O prêmio representa o reconhecimento do nosso esforço para continuar a atividade. Queremos colocar no mercado um produto diferenciado, com preço justo e o prêmio é como um selo que fortalece nossa empresa e transmite confiança para o mercado”, avalia a produtora.
A região tem atraído a atenção de investidores. Bernie Ecclestone, conhecido como o chefão da Fórmula 1, é proprietário da Celebrity Coffee, propriedade especializa no cultivo de café gourmet em Amparo (SP), também no Circuito das Águas. A intenção é ampliar as vendas nos próximos anos. “Foi feito o investimento necessário para melhorar a estrutura de processamento do café, pois a fazenda tem tradição no produto há mais de 140 anos”, afirmou Fabiana Flosi Ecclestone, esposa de Bernie Ecclestone.
Com o intuído de apresentar a diversidade dos grãos especiais, a cafeteria Doce Arte ganhou um novo espaço que vem recebendo o carinhoso nome de “laboratório do Café”. “Queremos apresentar essa nova tendência do mercado de café aos nossos clientes, uma possibilidade para novas experiências, ou como a gente costuma chamar, desfrutar dos momentos cafeinados”, destaca Jesse Zerlin.
Diversas pesquisas apontam que beber café pode aumentar a produtividade no trabalho, bem como relaxar e estimular diversas outras sensações. Pensando nesses benefícios, é cada vez maior o grupo de pessoas que reservam uma parte de seu dia para curtir um momento cafeinado. “O momento cafeinado é um pequeno tempo em que a pessoa dá uma pausa no seu cotidiano para buscar um relacionamento, pensar na vida, buscar equilíbrio, incentivar novas ideias. E neste sentido, a Doce Arte tem buscado proporcionar esse ambiente para Socorro”, explica o empresário socorrense.
O espaço laboratório do café conta com grãos de Socorro (SP), Sul de Minas Gerais, Circuito das Águas Paulista e outras regiões, explorando diversos métodos de extração como o tradicional coado, prensa francesa e aeropress. A prioridade neste primeiro momento tem sido a aproximação com o cliente para a apresentação da nova tendência. “A cafeteria é mais dinâmica, o cliente já sabe o que quer, não há muita aproximação. Queremos fazer com que ele leve essa experiência para a casa e ofereça para amigos e familiares”, ressalta Jesse Zerlin. O espaço também tem a intenção de contribuir para o desenvolvimento do mercado local de cafés especiais.
Buscando ampliar a distribuição dos cafés especiais comercializados na Doce Arte, já está em fase de desenvolvimento o projeto Meu Café Clube, por meio do qual as pessoas poderão adquirir seus produtos pela internet ou ainda participar dos planos de café por assinatura. Quem desejar mais informações sobre o clube do café especial pode acessar o site www.meucafeclube.com.br, que já está em período de testes.
PRINCIPAIS CATEGORIAS DE CAFÉS ESPECIAIS
Café de origem certificada
Está relacionado às regiões de origem dos plantios, pois alguns dos atributos de qualidade do produto são inerentes à região onde a planta é cultivada;
Café gourmet
Grãos de café arábica, com peneira maior que 16 e de alta qualidade. É produto diferenciado, quase isento de defeitos;
Café orgânico
É produzido sob as regras da agricultura orgânica. O café deve ser cultivado exclusivamente com fertilizantes orgânicos e o controle de pragas e doenças deve ser feito biologicamente. Apesar de ter maior valor comercial, para ser considerado como pertencente à classe dos cafés especiais, o café orgânico deve possuir especificações qualitativas que agreguem valor e o fortaleçam no mercado;
Café fair trade
É aquele consumido em países desenvolvidos por consumidores preocupados com as condições socioambientais sob as quais o café é cultivado. Nesse caso, o consumidor paga mais pelo café produzido por pequenos agricultores ou sistemas de produção sombreados, onde a cultura é associada à floresta. É muito empregado na produção de cafés especiais, pois favorece a manutenção de espécies vegetais e animais nativos. (Fonte: Associação Brasileira de Cafés Especiais – BSCA)