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Mesmo com potenciais cancerígenos, alimentos não saem do prato brasileiro
Por: Francielle Kuamoto e Jaqueline Galdino
Ela é temida e perigosa. Eles são deliciosos e queridinhos. O câncer e os alimentos embutidos estabelecem uma relação conflituosa e que deixa o coração de muita gente dividido. Desde outubro, quando a OMS classificou opções como bacon, salsicha e linguiça como causadores de câncer, ou seja, engrossam a lista de alimentos cancerígenos. Esses alimentos entram no grupo 1 da Organização, mesma categoria de risco do tabaco, a fumaça de diesel e o amianto. Isso não significa que comer esses alimentos seja tão nocivo quanto fumar, por exemplo.
Para entender melhor é preciso saber reconhecer que a OMS define como carne processada “qualquer tipo de carne que tenha sido transformada com sal, fermentação ou defumação, para melhorar o sabor e preservar o alimento”. Simplificando, fazem parte dessa lista, além dos alimentos citados acima, outros frequentes na mesa do brasileiro como presunto, blanquet de peru e hambúrguer feito com carne moída e não fresca. Muitos desses produtos reúnem, além de carnes bovina e suína, ingredientes como sangue e vísceras.
Alimentos embutidos fazem parte do cardápio do brasileiro, devido, principalmente, ao seu baixo custo, por isso é difícil substituir essas carnes no dia a dia. Os estudos promovidos pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa do Câncer) concluiram que ingerir uma porção de 50g de carne processada por dia pode aumentar em 18% o risco de câncer colorretal. A quantidade é pouca, considerando que esse peso equivale a 1 salsicha, 3 fatias finas de presunto, 7 fatias de salame. Uma linguiça chega a pesar 100g, o dobro do consumo recomendado.
Carnes embutidas e processadas: o novo vilão. (Foto: Marcelo Camargo/ABr)
Quando a OMS emitiu um alerta sobre o consumo excessivo de açúcar no ano passado, vimos uma queda nas vendas de açúcar, o que pode ser um indicador do que está por vir para este mercado das carnes vermelhas após os últimos alertas emitidos pela organização.
A endrocrinologista da Endoquali, Viviane Christina de Oliveira esclarece o que faz associar a carne velha à uma das doenças mais temidas pela humanidade. “Primeiro, há os nitratos, que são conservantes adicionados a algumas carnes processadas e essa combinação produz compostos causadores de câncer. Outro possível fator é o processo de defumar, realizado em muitos produtos de carne processada. Essas carnes podem conter hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são compostos que se desenvolvem no calor elevado e são considerados cancerígenos. Estes e outros produtos químicos chamados aminas heterocíclicas são formados quando a carne é cozinhada em fogo e podem danificar o DNA”, explica.
Apesar da nova classificação não é preciso parar de comer carne vermelha, uma vez que a carne vermelha fresca, não processada, é um componente importante da alimentação e o consumo adequado traz benefícios para a saúde. Outras recomendações já existentes sugerem limitar carne vermelha e comer mais alimentos de origem vegetal, peixe, carnes brancas, ovos, dentre outros. O que pode ter benefícios significativos para a saúde.
A Agência de Normas Alimentares do Reino Unido (FSA) também publicou um estudo com alerta para os riscos causados por uma substância cancerígena, a acrilamida, que pode ser encontrada em alimentos submetidos a altas temperaturas em seu preparo, como torradas e batata assada e outros produtos ricos em amido. A acrilamida é associada aos riscos de danos no sistemas nervoso e reprodutivo. Se consumida em excesso, aumenta o risco de câncer.
A acrilamida é classificada pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS), na mesma categoria da carne vermelha, ou seja, como um alimento provavelmente cancerígeno para humanos. Os efeitos nocivos do consumo de acrilamida foram analisados em laboratório através de testes em animais e, de acordo com a FSA, em humanos o efeito depende basicamente da quantidade de consumo.
A recomendação da Agência, porém, não é para que o consumo desses alimentos seja excluído do cardápio, mas que algumas medidas sejam tomadas ao se preparar alimentos como pães, biscoitos crocantes, batatas assadas ou fritas, cereais, e até mesmo café, e assim tentar evitar a formação da acrilamida. “Algumas dicas são não deixar alimentos passarem do ponto ao fritá-los ou aquecê-los. Ao fritar batatas, retirá-las do óleo quando estiverem levemente douradas e as torradas devem ser consumidas quando ainda estiverem com uma cor clara”, indica a nutricionista Gabriela Chamusca, coordenadora de nutrição da Ztrack Esporte e Saúde.
| Novos na lista | Suspeitos | Integrantes antigos |
| Carnes processadas -como bacon, salsichas, presuntos, linguiças, carne seca e charque. | Carne vermelha, ou seja, proveniente da musculatura de mamíferos como cortes bovinos, suínos, cordeiro, carneiro e cavalo. Radiações ultravioleta A, B e C, inseticidas, falta de sono regular e mate quente (bebida). | Fumo passivo, bebidas alcoólicas, radiação solar, substâncias radioativas como o Rádio, vírus da Hepatite B e C, poluição do ar, benzeno, cinzas e serragem |
Aliados contra a doença
Legumes, frutas, verduras, peixes, soja, chás, azeites e alguns outros ingredientes nem sempre fazem parte do cardápio, mas muitos deles, além de auxiliar no controle de peso e na saúde em geral, também podem ser grandes aliados no combate ao câncer. Conheça os principais alimentos que podem te ajudar nessa luta e seus benefícios.
Alho – Muito usado como tempero dos principais pratos do brasileiro, o alho também já é reconhecido como um alimento que ajuda a afinar o sangue. Mas ele é rico em alicina, que inibe a ação de nitrosaminas, associadas ao câncer do aparelho digestivo.
Azeite de oliva extravirgem – Muita gente desconhece, mas os azeites traz vários benefícios para a saúde. Dentre muitos outros, eles são fonte de antioxidantes fenólicos, que ajudam a reduzir o risco de câncer de mama e de pulmão.
Brócolis, couve-flor e repolho – Aposto que já tentou convencer alguma criança a comer essas ‘árvorezinhas’. Então inclua também na sua alimentação, pois eles têm sulfarofanos, substâncias capazes de eliminar substâncias químicas responsáveis por mutações cancerígenas. O consumo diminui o risco de câncer de mama, útero, próstata, intestino, bexiga, pulmão e laringe.
Chás verde e branco – Eles são ótimos para aquecer no inverno e também são muito usados nas dietas. Mas também são ricos em compostos polifenóicos, que tem efeitos anticancerígenos. Essa substâncias inibem o surgimento e o desenvolvimento de tumor no pulmão, esôfago, duodeno, pâncreas, fígado, mama e cólon.
Frutas cítricas (laranjas, limas, limões e tangerinas) – Elas são grandes fontes de vitamina C e auxiliam no combate de gripes e resfriados. Mas essas frutas também tem limonóides, substâncias antioxidantes que apresentam efeito preventivo contra o câncer.
Linhaça – A semente também tem feito parte da dieta de muitas pessoas atualmente. Se não é para emagrecer, que seja para ficar livre de doenças cancerígenas. Esse alimento é fonte de lignana, um fitoestrógeno de ação relacionada à prevenção de câncer de mama, colo do útero e próstata
Melancia, tomate e goiaba – Se você não é como a Magali, que ama melancia, reconsidere. Ou então use e abuse do tomate e da goiaba. Esses três alimentos são ricos em licopeno, substância antioxidante responsável pela coloração vermelha e que previnem o câncer de próstata.
Pipoca – Ela é a melhor amiga do cinema e pode ser uma importante aliada para a saúde. Isso porque ela contém o polifenol, um antioxidante que reduz o risco de câncer. Mas nada de encher com aquela dose extra de manteiga.
Soja – Para quem é vegetariano e faz bastante uso de soja e derivados, pode estar se protegendo sem nem saber. Isso porque esses alimentos são fonte de isoflavonas, que ajudam contra várias formas de câncer, destacando-se os de mama e próstata.
Uvas vermelhas, suco e vinho tinto – Um brinde às uvas vermelhas e suas bebidas alcoólicas e não alcoólicas! Já é sabido que uma tacinha de vinho pode fazer bem ao coração e à saúde. Mas saiba que essa qualidade de uva contém altas concentrações de antioxidantes fenólicos (catequina, epicatequina, resveratrol) que são potentes agentes preventivos do câncer.
