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Frente as mudanças climáticas, fica difícil saber o que comeremos daqui 50 anos. A tecnologia e a prevenção podem ser a solução para o problema.

Por Aline Antunes e Tauã Miranda

A população mundial conta hoje com mais de 7 bilhões de pessoas, e esse número só tende a crescer. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Francês de Estudos Demográficos (INED – Institut national d’études démographiques) em 2050 nosso planeta alcançará a marca de 9,7 bilhões de pessoas.

Junto do crescimento da população, crescem também problemas ligados a alimentação, saúde pública e meio ambiente. Dentre essas preocupações, a fome mundial é a que ocupa maior destaque. Porém, a questão da falta de alimentos já foi estudada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), o qual garante ser esse um grande mito.

A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) ressalta que diversas das afirmações feitas sobre o assunto são reflexos de ideias equivocadas. Segundo o PMA existe comida suficiente no mundo para uma nutrição adequada para todos, mas é preciso que a produção e distribuição desses alimentos seja mais eficiente, sustentável e justa.

De acordo com a Profª Drª Priscilla Efraim, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), há um mau aproveitamento dos alimentos, desperdício e falta de eficiência. Ela chama atenção para a questão da produtividade que pode ser aprimorada nas áreas agrícolas.

Uma das soluções é a implantação de uma competente produção energética dentro das indústrias processadoras de alimentos e estrutura nos transportes para evitar perdas dos produtos. “Acredito mais no desperdício, falta de práticas pós-colheita adequadas (que contribuem com esse desperdício) e falta de eficiência do que na falta de alimentos. No Brasil, entre 20-30% da produção agrícola é desperdiçada” comenta Priscilla.

A engenheira ainda levanta o problema sobre os resíduos gerados pela indústria de alimentos, que são altamente contaminantes ao meio ambiente. Ela destaca os malefícios do descarte da água de lavagem dos equipamentos da indústria de produtos cárneos diretamente na rede de esgoto. Mesmo que a prática seja proibida no Brasil, a falta de fiscalização adequada causa grandes problemas.

Aquecimento global e agronegócio

De acordo com o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, IPCC, a temperatura mundial poderá subir até 4,8ºC ainda nesse século, se as emissões de gases do efeito estufa mantiverem as taxas de crescimento atuais. A estimativa foi divulgada em setembro de 2013, na primeira parte do relatório de mais de duas mil páginas, que conta com o apoio de cientistas do mundo todo.

Os biomas brasileiros poderão sofrer graves mudanças caso as previsões se tornem reais: O sertão nordestino se tornará um deserto quente e incultivável e o clima será mais extremo, com secas, inundações e ondas de calor. E isso deve afetar diretamente o que comemos. Segundo a doutora em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas, Raquel Silviana Neitzke, a agricultura brasileira deve sofrer com o aumento da temperatura. “É grande a probabilidade que as mudanças climáticas previstas afetarão o cultivo da maioria das espécies cultivadas no Brasil. Poderão ocorrer mudanças no ciclo das culturas, ou até mesmo algumas espécies poderão ser tornar inaptas a determinado local”, afirma a doutora.

Segundo estudos sobre o Impacto das mudanças Climáticas no Zoneamento Agroclimático do Café no Brasil realizados pela Embrapa , as culturas de café, algodão, arroz, feijão, girassol, milho e soja terão sua área de plantio reduzida. Os cientistas brasileiros se basearam em projeções feitas pelo IPCC: no cenário mais favorável, a temperatura deve subir até 1ºC; em outro, até 3ºC e, no mais drástico, há um aumento de 5,8ºC. Em todas as projeções há a diminuição das áreas cultiváveis, com exceção da cana-de-açúcar e a mandioca, que são mais resistentes ao calor e às oscilações climáticas. No cenário mais pessimista, o café seria quase extinto da região Sudeste, passando a ser plantado no Sul do país. A soja teria queda da produção, sendo a mais prejudicada: é previsto que até 2070 haja uma diminuição de 41% na área de baixo risco para o plantio. Isso resultaria no encarecimento dos alimentos e crise no setor agropecuário e nas indústrias alimentícias.

Soluções

Par12570854_1043490359007554_1221669022_na que não se chegue a esses extremos, pesquisas recentes recomendam que sejam adotadas imediatamente políticas de mitigação e adaptação. Em outras palavras, o desejável é que a agricultura deixe de ser um emissor de carbono e passe a absorvê-lo. Experiências já são realizadas pela Embrapa, como a integração pastagem-lavoura (rotatividade entre pasto e lavoura em uma única área), sistemas florestais (plantio de árvores como o eucalipto em áreas degradadas e pastagens) e plantio direto (dispensar o arado e plantar a nova cultura sobre a palha da anterior).

Outra possível solução para evitar o fim de setores importantes da economia brasileira, é o desenvolvimento de transgênicos. “Com certeza o melhoramento genético, seja através do melhoramento convencional ou pelo desenvolvimento de cultivares transgênicas, desempenhará importante papel na busca de cultivares mais adaptadas e produtivas frente as mudanças climáticas”, garante Raquel Neitzke. A doutora ainda cita que já existem bancos de germoplasma com vasta variabilidade genética (grosso modo, bancos de sementes de todas as espécies e variações).

Ainda assim, é preciso que os agricultores façam mais do que apenas usar transgênicos e variedades de plantas. “Nesse novo cenário é importante aliar práticas de cultivo como irrigação, plantio direto, cultivo protegido em estufas, com o melhoramento genético para assegurar a produção de alimentos”, conclui Neitzke. Caso nada disso seja feito, podemos esperar uma vida sem cafezinhos pela manhã, menos arroz, feijão e molho shoyu. Pelo menos, ainda teremos tapioca, açúcar e etanol.

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Horta tradicional – sistema de irrigação por gotejamento. (Foto: Aline Antunes)

A área alimentícia contribui na oferta de alimentos com maior durabilidade e praticidade, mas seus profissionais ainda sofrem para ingressar no mercado de trabalho. Engenheiros de alimentos e agrícolas são menos valorizados que profissionais das áreas de química e civil. Fator intrigante em um país de vastas áreas agropecuárias.

A indústria de alimentos ainda conta com 90% da sua matriz energética de fonte renovável. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação – ABIA, a indústria de alimentação tem níveis elevados da utilização de energia gerada a partir do bagaço de cana-de-açúcar (cerca de 75%). A lenha e a eletricidade respondem por aproximadamente 9% da matriz energética cada uma.

Resíduos das indústrias alimentícias e de produções agrícolas, como bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de madeira, casca de arroz, bagaço de laranja, esterco animal, embalagens plásticas, podem servir de matéria-prima para a geração de energia.

De acordo com a Engenheira de Alimentos Priscilla Efraim existem indústrias no aproveitamento total de resíduos. “A produção de suco de laranja em restaurantes gera muito mais resíduos que a indústria. Pois ela aproveita, por exemplo, as cascas para extração de óleo essencial, farelo e outros produtos fazendo com que os descartes sejam mínimos e com que se agregue valor aos resíduos que seriam descartados e causariam, dessa forma, grandes problemas ambientais.”

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Redação

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