Camila Pasin, Isabela Romitelli e Nathalia Rocha
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra um aumento de 2,28% do valor dos alimentos. Dentre os produtos registrados pelo pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), alimentos e bebidas foram os que tiveram maior peso nas taxas nacionais. O valor representa a maior alta desde dezembro de 2002.
De acordo com relatório da Confederação Nacional da Industria (CNI) que documenta a percepção dos consumidores quanto ao aumento dos preços de produtos, os valores da carne vermelha e de frutas e vegetais são apontados, depois de energia elétrica, como os bens com maior elevação de valores. Destaca-se, ainda, a percepção quanto à elevação dos preços cobrados em restaurantes, apontada por 56% dos entrevistados pela pesquisa.
Quando são considerados os preços e sua relação com a percepção dos brasileiros em relação a seus hábitos de consumo, há que se avaliar ainda o modo segundo o qual o poder de compra desses consumidores influencia suas escolhas tanto em relação às compras domiciliares quanto àquilo que é gasto em restaurantes. O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) avalia a relação entre o valor do salário mínimo e o preço médio da cesta básica.
Segundo relatório atualizado em janeiro de 2016 pela instituição, com “o valor do salário mínimo em R$880,00 e a cesta básica de janeiro estimada em R$412,15, o salário mínimo terá então um poder de compra equivalente a 2,14 cestas básicas”. Trata-se do maior poder de compra registrado desde 1979.
Em âmbito global, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem registrado, nos últimos quatro anos, queda no valor dos alimentos. Em 2015, foi apontada uma redução de 19% do valor dos produtos alimentícios em relação ao ano anterior. A taxa, que poderia se apresentar enquanto contraste comparada aos valores dos alimentos no Brasil, tem como motivação, segundo declaração de Abdolreza Abbassian, economista-chefe da FAO ao Estadão , um “abastecimento abundante” diante de uma “demanda mundial tímida”.
O clima de recessão afeta não só a demanda de alimentos, mas também seus valores. A redução da procura, no entanto, não deve ser encarada como falta de necessidade. De acordo com o Mapa da Fome de 2015 , há 795 milhões de pessoas no mundo que não tem acesso a comida suficiente para levarem uma vida normal. Em Fórum Internacional sobre Agricultura e Mudanças Climáticas realizado em fevereiro de 2015, José Graziano da Silva, chefe da FAO afirmou que a produção agrícola não seria suficiente para acabar com a fome mundial.
No Brasil, não existe um problema crônico de insegurança alimentar. Em relatório de 2014 produzido pela FAO em que se avaliou o progresso das nações na erradicação da fome, o Indicador de Prevalência da Subalimentação aponta que o país atingiu um nível abaixo de 5%, o que indica uma superação do problema da fome dentro do período analisado. O progresso do país tem como motivação, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, os programas de assistência social e o apoio ao micro-produtor.
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos. Ainda assim, fatores como o desperdício e a prevalência da produção agrícola de exportação estabelecem um contraste entre a quantidade de alimentos disponível e o preço para que eles cheguem ao prato do brasileiro comum.
Eliete Virgínia, militante do MST e moradora do assentamento Laudenor de Souza, afirma que a questão do alimento no país não é tomada como prioridade. “O atual modelo de agricultura dominante adotado no país prioriza grandes investimento no modelo do agronegócio, onde a agricultura é trabalhada tendo como prioridade a produção em larga escala de produtos para a exportação, como a soja, o eucalipto, a laranja e cana de açúcar para produção de biocombustíveis. A produção de alimentos consumidos no país é em sua maioria produzida pela agricultura familiar”, observa Eliete.
A alta dos preços, segundo a militante do MST, estaria ligada à falta de investimento na agricultura familiar sobretudo em momentos de crise. Esse modo de produção é responsável por 70% dos alimentos consumidos no país, mas recebe somente 15% dos recursos destinados à agricultura.
“A forma de baratear o custo da produção seria o investimento governamental na agricultura familiar, bem como a disponibilização de maior quantidade de terras agricultáveis para a produção de alimentos saudáveis para o consumo do povo brasileiro”, avaliou Eliete.