A arte Drag Queen expressa a estética de quem performa e é meio de resistência.
A história do transformismo e da arte Drag iniciou com o teatro grego em 500 A.C., em uma época onde homens interpretavam papéis femininos devido à proibição de mulheres em participar das peças. A igreja se apropriou da arte para a encenação de trechos bíblicos na Idade Média em razão da popularidade do teatro, e ainda assim os papéis de mulheres seguiam sendo encenados por homens.
O renascimento cultural rompeu a ligação do teatro com a igreja e as narrativas de grandes heróis e outras temáticas tornaram-se recorrentes. Mulheres passaram a atuar nas peças de teatro e o Drag passou a ser visto como algo satírico, os homens que permaneciam no transformismo foram diretamente relacionados aos homossexuais e começaram a se apresentar em bares periféricos. Esses artistas tornaram-se figuras cômicas que encenavam o dia a dia de homens e mulheres carregados de exageros.
Com o tempo e com as revoltas sociais por liberdade, o transformismo se tornou também meio de resistência política. A “Rebelião de Stonewall”, que ocorreu em Nova York, foi uma série de manifestações da década de 60, símbolo da resistência LGBTQIA+ contra a opressão. O bar Stonewall Inn, frequentado por Drags, foi alvo de forte repressão policial durante muito tempo, devido à políticas preconceituosas e segregacionistas, mas em uma das ocasiões, em 28 de junho de 1969, a comunidade LGBTQIA+ e simpatizantes responderam à opressão e à intolerância. Os movimentos atribuíram representatividade ao grupo, porém as Drag Queens permaneceram na periferia social por tempos.
A arte Drag Queen ganhou notoriedade na mídia contemporânea com o sucesso do programa estadunidense Rupaul’s Drag Race, comandado por Rupaul Andre Charles, o show televisivo é vencedor de renomadas premiações, como o EMMY. Em cada edição o programa conta com cerca de quinze participantes avaliados pelo carisma, singularidade, ousadia e talento, qualidades fundamentais na competição pelo título de Next Drag Superstar. No reality cada participante mostra o universo que representa seu ideal artístico com figurinos, maquiagens e personalidades variadas sendo referência na arte Drag.
A arte Drag Queen é popularmente conhecida pelo ato de transformismo que exagera no estereótipo ligado ao gênero feminino. Com apresentações de dança, dublagens, canto, discotecagem ou como sátira ao binarismo de gênero, as Drag Queens são personagens idealizadas não só por homens, mas também por mulheres, dentro e fora da comunidade LGBTQIA+.
A Drag Queen Maya Papillons, da cidade de Bauru, conta que a vontade de usar salto alto, de início, foi o que a inspirou a iniciar na arte e, depois, descobriu o motivo artístico, político, existencial e a realização pessoal. Questionada a respeito de sua percepção de como a arte Drag é vista pela sociedade atual no Brasil, diz “Da mesma forma que sempre foi vista, como uma coisa de viado. Ainda existe uma dificuldade de enxergar a arte e a profissão por trás da Drag. Ganhamos uma visibilidade muito maior hoje em dia com RuPaul, Pabllo, Glória, etc. Mas ainda a arte é marginalizada ou desmerecida pelos contratantes. E mesmo dentro da comunidade LGBT ainda tem umas dificuldades de entendimento, porém a receptividade é bem melhor atualmente”.
Em meio a preconceitos e imposições de padrões comportamentais e temor por sua integridade física e psicológica, principalmente da comunidade LGBTQIA+, a resistência e o poder da arte Drag faz parte de uma luta por mais direitos e respeito. Maya Papillons enfatiza que: “É uma quebra constante de estereótipos o ato de se montar. Ainda mais quando as Drags levam a montação para um lado mais conceitual. Mas só o fato de você se tornar um alvo muito maior estando montado, já é ato declarado de resistência. É o literal “dar a cara ao tapa”.”