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Os entraves do agronegócio

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O agronegócio movimenta a economia brasileira, mas precisa medir esforços para não afetar o meio ambiente

 
Por Amanda Costa, Isadora de Oliveira e Thais Viana
 

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Foto: Reprodução


 

      O agronegócio no Brasil representa cerca de 22% de todo o PIB brasileiro, segundo dados do Ministério da Agricultura. O agronegócio é o processo da atividade agropecuária e a sua comercialização. A agropecuária envolve a prática da agricultura e a pecuária.
Apesar da crise nos últimos dois anos (2015/2016) ela avançou significativamente em sua produção. Segundo apuração do Estadão, o setor foi o único a crescer no ano de 2015, batendo recorde na produção da soja, que ultrapassou os 100 milhões de toneladas já produzidas, alcançando a marca de 101,2 milhões de toneladas de soja, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Brasil já é o maior exportador de soja do mundo e deve ultrapassar os Estados Unidos no número de produção em 2017/2018.
Esse crescimento favorece a manutenção de empregos. São 19 milhões de pessoas empregadas pelo setor, segundo Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP. A maioria está concentrada no setor primário, são 9,09 milhões de trabalhadores. Este número não inclui pessoas que produzem para o próprio consumo.
O setor é tão importante no país que promove umas das três feiras mais importantes do mundo e a mais importante da América Latina. O Agrishow acontece uma vez por ano em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e reúne em torno de 152 mil pessoas de cerca de 70 países. Neste evento são apresentadas as novidades do mercado e muitas parcerias acontecem a partir deste encontro.
Apesar da movimentação financeira realizada pelo setor, nem tudo são flores. A atividade da agropecuária se não for feita de forma sustentável causa grandes impactos ao meio ambiente, trazendo resultados desastrosos.
O Carnaval 2017 abordará este tema polêmico. A Escola de Samba Imperatriz Leopoldina terá como enredo “Xingu – o clamor que vem da floresta”. O desfile da escola será dedicado às tribos do Xingu, um parque indígena do tamanho da Bélgica. Apesar de se tratar de um território indígena protegido desde 1961, o entorno do parque não para de sofrer os impactos do desmatamento ilegal, dos agrotóxicos e da mega obra da usina hidrelétrica de Belo Monte, construída no rio de mesmo nome, no Pará.
A atitude da escola gerou revolta no mundo do agronegócio. Engenheiros agrônomos se manifestaram por meio de cartas de Associações de pecuaristas, plantadores de cana e até de engenheiros agrônomos publicaram uma carta defendendo a atividade, “a abordagem generalista proposta pela Imperatriz Leopoldinense sobre o produtor rural, sem separar o joio do trigo, é incorreta, injusta e inadequada, com a tendência tipicamente alarmista que é característica da linha de pensamento pseudoambientalista”.
A participação da pecuária brasileira na emissão de gases de efeito estufa atinge os 30% no Brasil, segundo uma pesquisa realizada em 2010 pela UNB, Universidade de Brasília.
A emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, é apenas um dos problemas que causam impacto no meio ambiente.
Materiais de limpeza de galpões de animais, embalagens de agrotóxicos, fertilizantes, sementes tratadas e resíduos de remédios veterinários também são elementos que causam prejuízos.
Os agrotóxicos são moléculas desenvolvidas para afetar reações bioquímicas de insetos, microrganismos e pragas que se pretende controlar. É completamente prejudicial ao solo e pode trazer problemas graves aos seres humanos.
Outro problema é a degradação do solo, que se dá por diversos motivos, como a monocultura. Ao praticar somente o cultivo de um vegetal, o ecossistema é alterado, as populações do meio são desequilibradas, ocorre o aumento no número de pragas e empobrecimento do solo. Por essas razões, o estudo da UNB concluiu que a atividade tem se tornado insustentável, uma vez que ela também é vítima das consequências que causa ao meio ambiente.

     Cristiane Ribeiro da Silva, Bióloga e especialista em meio ambiente, também afirma que os impactos são causados porque os recursos naturais não são repostos na mesma velocidade das atividades “   Os impactos ambientais negativos da produção animal são proporcionais à relação entre a intensidade com que a mesma é praticada e a disponibilidade de recursos naturais. No sistema de produção animal extensiva, faz-se necessário observar que o uso de grandes áreas para a produção animal não representa, necessariamente, a garantia da sustentabilidade do pastoreio”

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(Foto: Reprodução)

Equilíbrio entre produção e preservação ambiental

     O agronegócio é, sem dúvidas, uma atividade fundamental dentro da economia brasileira. A grande disponibilidade de terra existente no país, aliada às ótimas condições climáticas, a abundância de recursos hídricos e juntamente ao avanço tecnológico fazem do Brasil uma região propícia à prática agropecuária.

     O crescimento do país, principalmente em meados do século XX até agora, aumentou de forma expressiva a demanda por alimentos, ou seja, o consumo interno do país subiu. Fora isso, enxergamos que o Brasil tornou-se um dos maiores exportadores agrícolas do mundo. Esse cenário é positivo, porém não podemos esquecer que para ser mantido o aumento contínuo da produção, muitas técnicas utilizadas acabam trazendo danos prejudiciais ao meio ambiente.

    O desafio do agronegócio brasileiro atualmente é estimular o crescimento produtivo, sem esquecer a questão ambiental.

     No último século, o aumento da demanda na produção foi uma realidade, ocasionando a necessidade do aumento da produtividade do solo. Para isso. muitas técnicas e produtos foram utilizados. O uso de fertilizantes artificiais, os agrotóxicos, passaram a ser itens recorrentes no processo produtivo agrícola. A utilização maciça de agrotóxicos ocorreu pelos seus resultados positivos no aumento da produtividade e, claro, pode terem se mostrado uma alternativa mais barata para alcançar o objetivo de aumentar a capacidade produtiva e elevar lucros.

     Desde 2008, o Brasil é primeiro lugar no ranking mundial no consumo de agrotóxicos. Para se ter uma ideia, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nos últimos dez anos o mercado mundial no setor de agrotóxicos cresceu 93%. No Brasil, esse crescimento atingiu o patamar de 190%.

    Por exemplo, em 2010, o Relatório do IBAMA divulgou que os efeitos dos agrotóxicos são muito maiores do que se pode imaginar. O uso de fertilizantes artificiais pode interferir na fisiologia, comportamento, reprodução e expectativa de vida de organismos do ecossistema onde é utilizado. Ou seja, dependendo do tempo que for aplicado e sua toxicidade, os agrotóxicos chegam a interferir em todo um ecossistema e alteram os processos de respiração e reciclagem de nutrientes do solo.

    O uso de produtos agrícolas com pegada biológica se apresentou, portanto, como uma alternativa aos agrotóxicos convencionais e como uma forma de respeitar a questão ambiental.

Sustentabilidade é a palavra

      Aliar o desenvolvimento econômico às preocupações com a preservação ambiental não é tarefa fácil. Afinal, muitas vezes práticas que visam respeitar o meio ambiente acabam sendo mais caras e diminuem a produtividade e, consequentemente, o lucro dos produtores.

      O termo sustentabilidade é relativamente recente, começou a ser delineado nos anos 1970, e tem se mostrado como uma alternativa para tornar possível a junção entre crescimento econômico e preservação ambiental.  Ou seja, podemos definir sustentabilidade com um termo usado para definir atividades humanas, que visam desenvolvimento econômico, sem agredir o meio ambiente e utilizando os recursos naturais de uma forma inteligente e com responsabilidade.

      Segundo o modelo baseado na Global Reporting Iniciative (GRI), a sustentabilidade deve seguir os três pilares: Desenvolvimento Econômico, Responsabilidade Social e Responsabilidade Ambiental.

A tecnologia como solução

       Os avanços tecnológicos podem ser uma boa solução às necessidades do agronegócio e à manutenção dos recursos naturais. O desenvolvimento de técnicas com tecnologia agrícola, que auxiliem na produtividade sem trazer prejuízos ambientais já é uma realidade. A dificuldade ainda está nos custos existentes no desenvolvimento de pesquisas na área.

       No Brasil existem investimentos em tecnologias agrícolas, porém ainda não suficientes à verdadeira necessidade do país e pela grandiosidade do agronegócio brasileiro. Segundo dados divulgados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil investe por ano 1,9% do produto interno bruto agropecuário em pesquisa no setor. Proporcionalmente, esse valor chega a ser metade do que é investido pelos Estados Unidos. Contudo, existe o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), coordenado pela Embrapa, esse trabalha no incentivo à pesquisa de tecnologias agrícolas e tem apoio das Organizações Estaduais de Pesquisa em Agropecuária (OEPA).

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Foto: Pixabay

   A utilização de tecnologias é uma realidade não somente quando pensamos na preservação ambiental, como também quando enxergamos um mercado internacional cada vez mais exigente com os produtos de importação. Ou seja, a aplicação de tecnologias agrícolas, além de poder trazer menores prejuízos ao meio ambiente, ainda colabora na melhoria da qualidade da produção.

   O investimento em pesquisas agrícolas e em biotecnologia deveria ser considerado um investimento como qualquer outro, investir no setor pode apresentar retornos superiores quando comparados a outras áreas. A importância das pesquisas é grande quando analisamos os ótimos resultados produtivos que elas podem proporcionar, além de respeitar às necessidades ambientais.

Modelos de agronegócio e suas necessidades

   Na economia brasileira, o agronegócio ocupa um espaço de destaque.  Mesmo diante da recessão econômica que o país enfrenta, o setor deve crescer 2% em 2017, segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

   Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o agronegócio foi responsável em 2016 por 23% de todos os bens e serviços gerados pelo país, um aumento de 1,5% comparado com o ano anterior. Além disso, o setor agropecuário representa 48% das exportações totais do País, segundo a CNA.

   Para o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, a tendência é que o agronegócio continue contribuindo cada vez mais com a economia brasileira. Em 2017, o segmento sucroenergético expandirá impulsionado pelo aumento de preços do açúcar e etanol.

   De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil deve se tornar na próxima década, o maior exportador de alimentos do mundo. Segundo o relatório Perspectivas Agrícolas entre 2015 e 2024, a agricultura familiar tem papel de destaque, pois representa mais de 80% das unidades de produção brasileiras, com cerca de 12 milhões de pessoas atuando nas propriedades familiares.

   É indiscutível a importância do agronegócio para a economia brasileira e sua contribuição para o crescimento do país.  Mas é necessário que a expansão da produção agrícola e pecuária não seja realizada às custas da degradação do meio ambiente, pois esse é um preço muito caro para se pagar a longo prazo.

   Com investimento em tecnologia, pesquisa, planejamento, políticas públicas de incentivo a produção sustentável é possível pensar em desenvolvimento com responsabilidade social.

   O Novo Código Florestal Brasileiro aprovado em 2012 tornou-se obrigatório o Cadastro Ambiental Rural (CAR) que deve regularizar a situação de 5,2 milhões de imóveis rurais no país. Para realizar o cadastro o proprietário da terra deve informar quais áreas são destinadas à produção e quais são para preservação.

   O CAR é o primeiro passo quando pensamos em políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável. Com essas informações é possível fiscalizar o desmatamento com maior eficácia, além de ter dados específicos de cada região do território brasileiro, o que é essencial para o avanço das pesquisas ambientais.

   A princípio a lei estipulou o prazo de dois anos para o proprietário rural realizar o cadastramento do seu imóvel, porém, o prazo que terminaria em maio de 2017, foi estendido até dezembro deste ano.

   Após esse prazo, os bancos só poderão conceder crédito agrícola, para proprietários e posseiros de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR.

   O atual Código Florestal Brasileiro também propõe que exista o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), com isso, a manutenção de áreas de preservação que antes era visto pelos ruralistas como um prejuízo, agora pode gerar lucros ao produtor.

   Em 2015, a Comissão de Agricultura da Câmara aprovou projeto de lei (PL 312/15) que institui a PSA. Desde então, o projeto aguarda parecer da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

   O objetivo é valorizar quem preserva o meio ambiente, e incentivar práticas e negócios sustentáveis. O município de Extrema, em Minas Gerais, serve como referência para o restante do país, ao apresentar uma legislação moderna e comprometida com o equilíbrio entre a expansão da produção rural com a preservação do meio ambiente.

    Em Extrema, os produtores rurais são recompensados pela proteção e restauração de áreas de mananciais que são importantes para o abastecimento hídrico de grandes centros urbanos.

    Apesar de o Novo Código Florestal Brasileiro apresentar o CAR e o PSA, propostas importantes para avançarmos na busca de um desenvolvimento sustentável, a lei também contribuiu com o aumento do desmatamento no país.

     De acordo com dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite que mostra um aumento de 74,8% de áreas destruídas desde que o novo código foi aprovado. A principal queixa dos especialistas em relação ao Código Florestal foi a anistia para quem desmatou até 2008.

            É preciso mudar o pensamento do produtor rural brasileiro, mostrando a ele como é importante a proteção da biodiversidade para garantir que as próximas gerações também possam continuar plantando e colhendo os frutos da terra.

       Também é necessário que o governo priorize o desenvolvimento sustentável, agilizando leis, como o PAS, que pode contribuir para a preservação do meio ambiente, sem prejudicar o produtor rural e a economia do país.

 

Redação

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