O Brasil continua sendo o país que mais mata homens e mulheres trans. Segundo a pesquisa da ONG Transgender Europe, durante o período de 2008 a 2015, 802 transexuais perderam suas vidas no país, o que evidencia uma realidade cruel e um preconceito fortemente enraizado na sociedade. Preconceito. Violência física e moral. Dificuldade no acesso à educação. Falta de oportunidade no mercado de trabalho. Violação dos direitos. Esses são alguns obstáculos que as pessoas transexuais enfrentam ao assumirem quem realmente são. A baixa escolaridade somada ao preconceito tem um resultado claro: a falta de oportunidade no mercado de trabalho. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% dos transexuais se prostitui no Brasil, deixando claro a dificuldade que este grupo tem em arranjar um emprego com carteira assinada.
A bancária Ângela Chagas comenta que as pessoas trans que já passaram pela transição ou possuem características mais marcantes têm um pouco mais de facilidade em arranjar um emprego. Ela tem 34 anos e mora no nordeste, atualmente em Alagoas, mas já morou em outros estados por conta de seu emprego. “O preconceito onde eu moro é muito forte. Eles não olham se você tem qualificação, se souberem que é trans, já dizem ‘não’. Por isso, não sou abertamente assumida”, afirma a bancária.
A importância do nome social
Definido como a adoção/adequação do senso de identificação do indivíduo, o nome social evita uma exposição desnecessária e o constrangimento de ser tratado por um nome que não condiz mais com a realidade humana. Em março de 2018, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) permitiu que pessoas trans mudassem seus nomes de registro (aquele usado nos documentos iniciais) sem precisar ter realizado a cirurgia de redesignação genital. Segundo a advogada especialista em casos de gênero em entrevista para a Revista Azmina, Marina Ruzzi, “já é possível mudar o registro em cartório sem passar pelo judiciário. Mas o preconceito acaba dificultando que essa resolução se cumpra”. A documentação conta muito na hora da entrevista de emprego.
Um problema político-educacional
Mas o problema do desemprego dos transexuais começa lá atrás, na base educacional, já que por enfrentarem os preconceitos da família e dos amigos, muitos chegam a abandonar a escola. A Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (RedeTrans) estima que 82% das mulheres transexuais abandonaram o ensino médio por conta dessa falta de apoio das pessoas próximas. Assim, é provado que a baixa escolaridade somada ao preconceito tem um resultado claro: a falta de oportunidade no mercado de trabalho.
Texto: Aline Campanhã e Luisa Volpe.