Com novos cenários na área econômica, empresas e estabelecimentos precisam se reinventar para continuar com o faturamento positivo e manter as recomendações de saúde pública
Por Caroline Roxo, Dandara Adrien e Victor Zamberlan
A pandemia do novo coronavírus se tornou um alerta de saúde no mundo todo, afetando também outros setores públicos e privados, como é o caso das empresas de pequeno, médio e grande porte, em proporções distintas. Conforme dados divulgados pelo IBGE no dia 30 de junho, até o mês de maio foram 7,8 milhões de postos de trabalho encerrados no Brasil.
A Inbrasp, do Grupo Caio, na cidade de Botucatu, é um exemplo de corporação que sofreu consequências neste período de crise. A indústria dispensou em torno de 10% dos colaboradores de todos os departamentos, deixando-os em bancos de talento caso a economia apresente uma recuperação progressiva. E, para manter o restante dos funcionários, optou por uma redução de 20% dos salários, além de instaurar a diminuição da jornada, para evitar o contato e o risco de contágio entre os trabalhadores.
Em contrapartida, o Grupo Centroflora, com sua matriz situada também na cidade de Botucatu, não precisou realizar demissões; pelo contrário, estão contratando colaboradores para trabalhar no novo setor da indústria de insumos farmacêuticos. Além disso, não apresentaram queda no faturamento, visto que estão situados dentro dos serviços elementares, apesar dos gastos tangenciais que tiveram com as alterações de medidas de segurança e de higiene.
A Gerente de Recursos Humanos, Vanessa Chiarelli, explica que houve muitas mudanças para evitar a contaminação pelo vírus. “Inserimos 35% dos nossos colaboradores em home office, o restante está com uso obrigatório de máscaras, distanciamento no ambiente de trabalho, álcool em gel disponível em todos os departamentos, higienização dos ambientes várias vezes ao dia, cancelamento de visitas de clientes e fornecedores, entre outros”, comenta. A empresa ainda precisou cancelar viagens e viabilizar a conexão virtual entre as unidades que variam em regiões de São Paulo e até mesmo do Piauí.
Giovani Baggio, analista de processos da Inbrasp, afirma que a indústria também investiu em procedimentos de higiene e de segurança. “Quando chegamos na empresa, precisamos medir nossa temperatura, há álcool em gel disponível em pontos estratégicos e de acesso a todos, é necessário manter um distanciamento de 1 metro entre os funcionários, e as pessoas do grupo de risco – com trabalhos que não necessitam ser presenciais – estão em home office”, relata.
Para verificar o rendimento dos funcionários em home office, Vanessa está promovendo pesquisas com a equipe, a fim de manter a produtividade e a saúde psicológica dos trabalhadores. “Realizamos duas pesquisas recentes com nossos colaboradores em home office e tivemos uma boa avaliação, todos estão conseguindo executar suas atividades de casa com produtividade”, explica a gerente de RH.
A ECONOMIA NA MIRA DO VÍRUS
O economista Marcel Bataiola revela que, com os movimentos de “abre e fecha” do comércio, o panorama econômico é de grande incerteza. Com os efeitos da pandemia e a situação de desaceleração financeira, as contas públicas têm vivenciado resultados ruins, alguns deles inéditos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento das famílias brasileiras atingiu o valor mais alto desde o início das mediações, em 2010, com 67,1% possuindo alguma prestação em atraso.
Só no Estado de São Paulo, o número de dívidas foi o maior da história, o que põe em cheque as perspectivas de uma rápida retomada da economia no cenário pós-pandemia. É a primeira vez que a quantia ultrapassa os 80% do Produto Interno Bruto (PIB), chegando a 81,9%. “A economia do Brasil é muito dependente do varejo; do comércio”, ressalta Marcel. Para ele, devido à ausência de canais alternativos de venda em algumas empresas, principalmente os e-commerce (como redes sociais, aplicativos e sites), a tendência neste momento é de que os pequenos negócios fechem, enquanto que os grandes prosperem.
UM BOM MOMENTO PARA INAUGURAR
Mesmo diante da instabilidade econômica causada pela pandemia, alguns empresários investem em manobras arriscadas para garantir a permanência de seus estabelecimentos e manter um número regular ou até maior de vendas e de faturamento. A nova loja Camarim, em Botucatu, é um grande exemplo dessas estratégias de investimento.
Com a recente abertura, a dona da loja de vestimentas no interior de São Paulo, Aline Mendes, conta que o processo de ampliação de seu comércio foi organizado antes do período de quarentena. E já prevendo as consequências que a covid-19 traria para a saúde e para o bolso da população, Aline se mostrou observadora e antecipou seus projetos, pois segundo ela, a expansão de sua loja era necessária para assegurar mais conforto, melhor qualidade no atendimento e uma maior segurança aos clientes, tendo em vista a crescente demanda por seus produtos.
Ainda assim, levando em consideração os decretos que previam medidas de segurança para conter as contaminações pelo vírus, a empreendedora reestruturou o planejamento de ação anteriormente elaborado, priorizando o bem estar dos clientes e dos colaboradores. “Nós tínhamos um plano de marketing pronto. Uma grande inauguração. Mas a preocupação foi de, nessas condições, manter a integridade de todos. Então, nós reduzimos esse plano em 50% e divulgamos com menos frequência nas redes sociais, para que tivéssemos uma inauguração mais intimista, que em momento nenhum colocasse em risco a saúde do nosso pessoal”, conta Aline Mendes.
De acordo com os últimos cálculos do Governo Federal, os dados apresentados pelo Ministério da Economia, em coletiva realizada no Palácio do Planalto em abril deste ano, indicaram que mais de 804 mil pessoas perderam o emprego e precisaram recorrer ao seguro durante a pandemia. Na contramão dessa realidade, Aline conseguiu manter toda a sua equipe, adequando, no início, os salários e horários de atendimentos.
Com a nova loja recém adquirida, ela admite que existe a necessidade de ampliar o número de vendedores, já que houve um aumento das atividades operacionais. No entanto, a lojista é categórica: “devido a essa situação do comércio abrir, depois a decisão é repensada e, com isso, talvez a gente precise fechar, nós não podemos investir em mais contratações nesse momento”. Mas ela considera inevitável o crescimento da equipe num cenário pós-pandêmico.
Vale ressaltar que, apesar de toda essa perspectiva otimista, a proprietária encontrou algumas dificuldades diante da situação de alerta contra a doença. Com o distanciamento social, muitas empresas de confecção que forneciam produtos à loja Camarim estavam fechadas ou trabalhando com uma quantidade reduzida de funcionários, fazendo com que surgissem alguns contratempos para conseguir novidades de peças e incertezas se a inauguração seria realmente viável.
Apesar disso, a comerciante conseguiu fazer adequações na coleção de roupas para o momento atual, priorizando manter as vendas e a renda. “Os modelos seriam mais sofisticados, com peças despojadas e de festa. Mas como a maioria das pessoas está em quarentena, dentro de casa, saindo apenas o necessário ou simplesmente para trabalhar, foquei mais em peças confortáveis para estas ocasiões; roupas do dia-dia mesmo. Eu fiz essa adaptação para deixar o faturamento em pé”, revela.
E, assim como Aline, outros empresários também tiveram esse olhar atento às exigências do público consumidor e decidiram ser ainda mais ousados, aproveitando o contexto atual de pandemia para lucrar e servir às necessidades dos compradores. É o caso da Covid-19 Essentials, uma loja especializada em artigos de prevenção contra o novo coronavírus, inaugurada no mês de junho em Miami, nos Estados Unidos.
Aberta desde o início da flexibilização do comércio no Estado da Flórida, a ideia é que a loja seja temporária, já que se trata de uma “pop-up store”, um conceito novo de vendas, que aproveita as tendências de mercado. Em entrevista à TV estadunidense local, os sócios garantiram que manterão o local funcionando até o fim da pandemia.
E se o futuro do mercado de trabalho já prometia muitas mudanças, sejam nas relações profissionais ou na extinção e no surgimento de alguns setores, com o coronavírus o preparo e o desenvolvimento dos modelos de produção e prestação de serviços tiveram que passar por adaptações para manter os clientes, o bem-estar dos funcionários e o capital em giro. Na busca por reinvenções de formas de trabalho, algumas soluções podem ter sido a salvação de diversas empresas. E, face à atual pandemia global, quanto maior a urgência de se criar estratégias de funcionamento, mais é necessário que regras sejam estabelecidas e seguidas para que os desafios sejam enfrentados com o maior êxito possível.
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