Membro dos países fundadores do Mercosul, Paraguai não se encontra em posição de destaque nos principais movimentos do grupo
Por Amanda Melo; Júlia de Souza; Paula Berlim
O que o Paraguai tem a oferecer
O Paraguai é um dos doze países da América do Sul e possui cerca de 7,22 milhões de habitantes e uma receita de PIB de US$ 29,32 bilhões por ano. Fazendo fronteira com Brasil, Bolívia e Argentina, dispõe de 406 mil quilômetros quadrados, um território um pouco maior que o estado do Mato Grosso do Sul.
Ainda que não seja beneficiado com a grande extensão territorial e tenha limitações como não possuir proximidade com a costa do continente, perdendo a capacidade de usar o mar como via de exportação, o Paraguai possui boas alternativas para conseguir negociar com países, principalmente vizinhos, seus produtos e serviços. Com uma exportação anual que ultrapassa os 6 bilhões, seus principais compradores são justamente países com quem faz divisa, como o Brasil e a Argentina. Para completar, o Chile aparece como terceiro cliente, fechando a lista de países integrantes do Mercosul.
Em um evento que reuniu especialistas em exportação, o então diretor de exportações do Paraguai, Carlos Paredes, afirmou que o país é um grande produtor de alimento. De acordo com o observatório de complexidade econômica, o Paraguai é o 97° maior exportador do mundo e os principais produtos são soja ($2,19 Bilhões), farelo de soja ($741 Milhões), carne bovina congelada ($592 Milhões), carne bovina ($577 Milhões) e óleo de soja ($482 Milhões).
Apesar de não possuir acesso ao mar e não dispor de rodovias de qualidade, o Paraguai se destaca pela eficiente navegação hidroviária interior, utilizando seus rios como grande alternativa para a logística, se tornando exemplo para vários países vizinhos que, como o Brasil, não exploram seus rios como meio de transporte de produtos.
Além disso, por ser considerada uma economia estável e com grande mão de obra jovem, o país cresce em média por ano 6%, o que dá segurança necessária para que países fechem negócios e implantem empresas no território paraguaio, criando novas fontes de rendas para a população e estreitando laços com nações que são importantes para o crescimento do país.
O MERCOSUL e o desenvolvimento a partir desse
Considerando o MERCOSUL como um organismo que promove de maneira eficiente a integração e cooperação regional, é inevitável perceber que há vantagens muito além das estritamente econômicas que podem ser aproveitadas pelos países participantes.
O progresso econômico vem, necessariamente, acompanhado de elementos de desenvolvimento social. Essa via de mão dupla encontra-se possível e provável a partir de um bom relacionamento entre países de mesma condição econômica, que focam em objetivos de progresso parecidos. O Paraguai como um dos países participantes do MERCOSUL, tem muito o que aproveitar da associação mais bem institucionalizada da América do Sul.
O principal agente para a melhora de indicadores políticos, sociais e ambientais – que casam-se com econômicos -, é a redução de negócios ilegais no país. O uso da cooperação internacional apresenta uma possível solução nesse caso com a geração de mais empregos e a valorização de outras áreas, tanto em âmbito regional quanto em âmbito internacional. O pré-conceito em relação ao Paraguai e suas atividades clandestinas é confirmado com os dados que comprovam que a economia local sobrevive em um desses pilares. Considerando que a economia paraguaia apresenta cinco bases, os negócios ilícitos serem citados indica preocupação. Assim, o emprego é considerado a principal debilidade de toda essa estrutura econômica.
Essa mudança mostra-se presente e dependente da participação do Paraguai no MERCOSUL por conta da relação de mutualidade do processo de desenvolvimento em todos os países que o compõem. Se a busca pelo progresso se apoiar em países de primeiro mundo, os países em vias de desenvolvimento podem torna-se, infelizmente, depósitos de tecnologias que não obtém o máximo aproveitamento. Uma outra hipótese é a transformação desses países em laboratórios de experimentos – o que os aprisionam à sombra de grandes potências mundiais, e os impede de desenvolver-se em uma constante própria, a partir de ciências e tecnologias voltadas para benefício do próprio país, pensadas no contexto nacional.
Em meio a situações econômicas de alarme, o Paraguai e outros países latino-americanos têm o costume histórico de reduzir investimentos em programas sociais para recuperação financeira nacional. Talvez se optassem por maior valorização desses, juntos como um bloco econômico, veriam o mercado financeiro voltando-se para o benefício próprio, levando em consideração que a economia é um aspecto social também. Nesse sentido, é importante apontar a falta de comprometimento do país com a erradicação da fome e da pobreza, a educação, a inclusão social e a saúde.
Polêmica com a Venezuela
A política central problematizadora do Paraguai no Mercosul envolve o embate com a Venezuela. Como membro dos Estados Fundadores-Definitivos, junto com Argentina, Brasil e Uruguai, o Paraguai sempre foi contrário à entrada dos venezuelanos no bloco. O ponto crítico do Paraguai dentro do Mercosul se cruza justamente com a entrada de maneira efetiva – e posteriormente suspensão – da Venezuela no bloco.
Em 2012, membros do Mercosul decidiram por unanimidade suspender o Paraguai do bloco momentaneamente devido ao processo de impeachment contra o até então presidente paraguaio Fernando Lugo. Isto porque, dentre as acusações do processo e sua efetivação passaram-se apenas dois dias. Segundo o bloco, o impeachment repentino e veloz não deu oportunidade, tempo e preparação para o até então presidente apresentar sua defesa. A medida foi entendida como ferimento à democracia daquele Estado, condição básica para a participação de um Estado no bloco, conforme o Protocolo de Ushuaia.
Com a saída do Paraguai do bloco, o caminho para a inserção da Venezuela ficou livre, e assim foi feita. É perceptível para além das motivações burocráticas e constitucionais da suspensão, o jogo político de aproveitar a saída do único país que representava bloqueio ao país venezuelano. Em 2013 o Paraguai volta ao Mercosul após cumprir exigências: eleições diretas.
O novo presidente Horacio Cartes, contudo, tomou medidas cautelosas para o reingresso. O poder legislativo paraguaio precisava aprovar o protocolo de adesão da Venezuela no Mercosul para que posteriormente o Estado manifestasse seu reingresso. Tal medida exigiu muita negociação e cautela, que teve a mediação do Brasil, pela até então presidente Dilma Roussef. O Paraguai, enfim, retorna ao bloco em dezembro de 2013 e aprova a participação da Venezuela.
Em um contexto maior, a entrada da Venezuela se deu em um período em que os (as) chefes de estados dos países líderes eram compostos pelo centro esquerda (Dilma Roussef, Cristina Kirchner e Pepe Mujica) com interesses alinhados, de certa forma, com Nicolás Maduro. Após reação da extrema direita nesses países e abrupta troca de direcionamento ideológico – também entendido como golpe e movimento conservador – os interesses com a Venezuela tornaram-se totalmente contrários e coniventes à suspensão.
É fato que o Paraguai possui divergências com a Venezuela desde antes dessa troca de projeto político da América Latina de centro esquerda para a direita, contudo, é notável que o país sozinho não representa forças necessárias para o direcionamento político dentro do bloco. O país está sempre à mercê das ideologias de seus países vizinhos – muito mais fortes e decisivos politicamente.