Escreva para pesquisar

Por que a mídia tem medo de falar sobre suicídio?

Compartilhe

Entenda os cuidados que devem ser tomados quando cada palavra pode ser responsável por tirar uma vida

Por Bruna HiranoCaroline Mazzer, Geizi PolitoMaria Beatriz dos Reis  

Seja por medo, preconceito ou mesmo por influências religiosas, o suicídio é um tema pouco abordado pela mídia e ainda é visto como um tabu pela sociedade em geral. Se na televisão o assunto ainda é pouco discutido, o mesmo ganha um destaque maior na internet, sobretudo por meio de campanhas como a do Setembro Amarelo, o qual visa conscientizar a população sobre o suicídio e incentivar a busca por maiores informações sobre o assunto, elevando a procura pelo termo em mecanismos de pesquisa online durante o período da campanha.

Com o intuito de mapear como o suicídio é abordado nas redes, a agência nova/sb realizou uma pesquisa a partir da plataforma Torabit para medir em uma escala de 0 a 100, o quão recorrentemente o termo foi pesquisado na internet. Os resultados publicados no blog Comunica que Muda mostraram que o maior pico de pesquisa dos últimos anos ocorreu em abril de 2017, por conta da estreia da série Os 13 porquês e da viralização do jogo Baleia Azul. Além disso, o projeto também evidenciou que, mesmo na internet, quase sempre o suicídio é tratado de forma superficial, já que das 1.230.197 menções nas redes apenas 52,8% trataram o tema de forma neutra, sem posicionamentos ou aprofundamentos.

Porque falar sobre o suicídio? Como abordar o tema?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados. Daí a importância de se falar abertamente sobre o tema, evidenciando suas causas e mostrando ao público como ajudar nesses casos. O papel da mídia ganha destaque devido ao seu grande alcance no que diz respeito à população.

Giovana Fernandes Forlevize é psicóloga e fala sobre os aspectos que os profissionais da mídia devem trabalhar quando o tema é suicídio. “Acho essencial o jornalista abordar a realidade, sem sensacionalismos. Com isso, quero dizer que é essencial que o jornalista fale sobre a campanha Setembro Amarelo e sobre o tema de forma séria, sem romantizar o suicídio”, comenta.

A fim de auxiliar os profissionais de Comunicação a falarem sobre o tema sem produzir um conteúdo de teor sensacionalista ou que possa desencadear qualquer tipo de efeito negativo em pessoas que tenham a intenção de tirar a própria vida, o Ministério da Saúde, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com o Governo Federal,   desenvolveu uma cartilha com dicas sobre como noticiar acontecimentos que envolvem casos de suicídio. O folheto completo está disponível no Portal da Saúde. Confira as principais orientações:

Info-suicidio

Texto e arte: Maria Beatriz dos Reis.

Raphael Teixeira, psicólogo e mestrando pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, concorda que falar sobre suicídio é complexo e o cuidado deve realmente ser grande. “O importante não é discorrer sobre os fatores, a forma, onde a pessoa se matou. No caso de estudos e pesquisas sobre o tema, estes aspectos devem sim ser estudados e usados como geradores de mais informações sobre a prevenção, mas na mídia isso deve ser evitado. O importante é dar formas e meios para as pessoas procurarem ajuda de maneira adequada”.

Teixeira ainda lembra a importância de cartilhas como esta para o preparo de profissionais de Comunicação. “A mídia que recai sobre o sensacionalismo e tange avaliações morais depreciativas dos suicidas não ajuda em nada, entretanto, a mídia informativa que leva meios de ajuda, auxílio tem um papel fundamental de difundir meios para que o ato suicida seja evitado”, enfatiza.

A indústria do entretenimento

Nas telonas e nas redes de streaming, a depressão e o suicídio têm se tornado background para diversas narrativas, mas é preciso ter cuidado ao narrar uma história envolvendo tais assuntos. Abaixo, confira uma lista das obras audiovisuais mais famosas que abordam o suicídio.

FILMES-SÉRIES

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também publicou em 2000 uma lista de recomendações para meios de mídia falarem e retratarem casos de suicídio. Na lista, as principais recomendações são para “não informar detalhes específicos do método utilizado”, “não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso” e “não atribuir culpas”.

Dessa forma, algumas obras poderiam ter sido mais cautelosas. No caso de Os 13 porquês, a cena em que a jovem Hannah Baker comete suicídio é mostrada de forma explícita, com detalhes específicos, além da protagonista atribuir culpas nas 13 fitas cassete e cometer o ato como forma de “vingança” por tudo o que ela passou.

De acordo com Forlevize, a riqueza de detalhes de uma obra audiovisual pode servir de gatilho para pessoas que já possuem algum tipo de ideação suicida. “Existem dados de que 9 em cada 10 pessoas que cometem suicídio tem algum tipo de transtorno mental, sendo o Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC) aquele com maior incidência. E isso revela que pessoas que já possuem algum tipo de ideação suicida podem sim ser influenciadas pela riqueza de detalhes da série, ainda mais em se tratando de jovens, onde o suicídio já é a segunda causa-morte no mundo”, explica ela.

Apesar das críticas, é preciso levar em conta o fato de que a série foi pioneira ao trabalhar o tema de forma profunda, ajudando a pautar o assunto na mídia. Para Giovana Forlevize, a produção cumpre seu propósito, mas poderia ser mais cuidadosa em alguns aspectos: “A série poderia tomar mais cuidado ao veicular cada episódio, alertando em todos que existem cenas-gatilho, como a de estupro, violência e a do próprio suicídio”, comenta.

A psicóloga também aponta que se deve dar uma atenção especial à classificação indicativa. “Deve-se ter cuidado ao veicular cenas de suicídio que possam impressionar crianças e adolescentes, ser cuidadoso ao alertar antes de exibir as cenas. Em caso de filmes, é importante a indicação de idade ser estabelecida de forma rigorosa”, diz Giovana.

No filme As Virgens Suicidas, com indicação de 16 anos, a depressão e a tendência suicida são retratados de forma poética e até “bonita”, o filme é repleto de tons pastéis e as protagonistas estão sempre bem vestidas e com um ar até “sedutor”. Para Teixeira, o maior cuidado da indústria do entretenimento deve ser com não “glamourizar” o ato de tirar a própria vida. “O suicídio é uma escolha para acabar com um sofrimento, uma maneira de a pessoa acabar com tudo aquilo que lhe faz mal. Um trama que construa o suicídio de maneira romântica, como única saída viável e ‘boa’ pode mostrar para pessoa que essa relação é verdadeira, que o suicídio é a única saída”, completa.

Redes Sociais

As redes sociais ganharam destaque a partir da popularização da internet e transformaram a maneira como os seres humanos relacionam-se entre si, permitindo assim o desenvolvimento de novos hábitos à medida que o acesso constante se torna uma necessidade cotidiana.

Segundo uma pesquisa realizada pela agência We are social, em 2016, havia no Brasil uma média de 45% da população ativa em redes sociais de todos os tipos e, com o aumento do acesso a internet via smartphones, esse número tende a aumentar significativamente. No universo virtual, a busca pela aprovação e pela infinita lista de “amigos”, podem se tornar fatores agravantes para a saúde psicológica. A partir daí, a necessidade de falar sobre suicídio se estende à internet e, nesse cenário, as redes sociais são o palco principal dessa discussão.

Porém, ainda segundo a pesquisa da agência nova/sb essas discussões permanecem, na maioria das vezes, restritas a agrupamentos específicos que são fóruns de discussão e comunidades virtuais, abertas ou fechadas, que tratam o suicídio de maneira livre. Dentro desses grupos, existe a oferta de apoio para quem sente algum desconforto com a sua experiência, seja ela pessoal ou não, simplesmente para que a sensação de solidão não exista. Por outro lado, essas comunidades também permitem o estímulo ao suicídio e até a realização de pactos suicidas, como o “jogo” Baleia Azul, uma sequência de desafios virtuais propostos aos membros de um grupo fechado que levaria ao suicídio como desafio final.

A pesquisa realizada pela agência também mostra como é fazer parte desses grupos e de que forma seus membros se expressam. Para José Carlos dos Santos, porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Bauru há 3 anos, o papel da família neste momento é importantíssimo, pois o bombardeio de informações que a internet proporciona pode causar efeitos colaterais aos usuários, e em especial aos jovens, que “podem ficar bastante confusos, pois passam a se sentir muito sozinhos na maior parte das vezes”, enfatiza.

Diante da presença maciça de usuários na internet, existem iniciativas que aproveitam essa oportunidade para também oferecer suporte para quem deseja compartilhar a suas experiências. José Carlos, explica que a procura pelos atendimentos voluntários do CVV aumentou muito desde que o serviço passou a ser oferecido também via internet. “Notamos, de dois anos pra cá, um aumento muito expressivo dos jovens utilizando os nossos serviços. A gente atendia só por telefone e não atingia esse público. A partir do momento que começamos a atender pelo chat, por Skype e por e-mail, conseguimos chegar nesse pessoal, o número de atendimentos aumentou muito e são todos sérios e profundos”, enfatiza.

Vale lembrar que o Facebook, rede social mais utilizada no Brasil, possui uma ferramenta lançada no ano passado em parceria com o CVV que tem o objetivo de direcionar os usuários que forem identificados ou se auto-identificarem com a necessidade de compartilhar sua experiência com outra pessoa. José Carlos explica que, a partir da ativação da ferramenta, o usuário é direcionado a um serviço de apoio e com isso pode entrar em contato com o CVV, por exemplo, o que também tem gerado melhores resultados para o Centro.

Onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV) – Telefone: 141 (ligação paga) ou www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.

Busque, na sua cidade, por serviços de saúde como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

No caso de emergência, entre em contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) pelo telefone 192, ou dirija-se à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), pronto socorro ou hospital mais próximo.

 

Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

0 Comentário

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *