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Público LGBT ganha destaque no setor turístico

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O turismo LGBT cresce acima da média e representa 10% do turismo mundial. Conheça alguns eventos importantes e plataformas voltadas para este público

Por Amanda Casagrande, Karina Francisco e Marina Debrino

De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), de cada dez turistas, um é LGBT. Ainda segundo a entidade, 15% de toda a movimentação financeira turística do mundo vêm deste mesmo público. Isso representa algo em torno de US$ 3,7 trilhões por ano, em um mercado que cresce quase três vezes mais que todo o setor turístico.

A International Gay & Lesbian Travel Association (IGLTA) foi fundada em 1983 nos Estados Unidos e possui atualmente associados em 75 países, sendo 88 filiados no Brasil. Desses, apenas dois órgãos são públicos: a Belotur e a Embratur. A associação representa hotéis, agências de viagem, operadores de turismo, acomodações, destinos, provedores de serviços e eventos com foco ‘LGBT friendly’.

Apesar do crescimento do turismo LGBT pelo mundo, ainda existem 71 países que criminalizam as relações homossexuais, sendo a maioria na África. A pena aplicada varia de multas e prisão, inclusive perpétua e pena de morte. Esse último caso é realidade em sete países: Nigéria, Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Sudão, Somália e Iraque. Já dá pra imaginar que esses não são os destinos mais procurados pelos LGBTs nas férias.

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Mesmo nos países em que a homossexualidade não é criminalizada, os LGBTs ainda sofrem preconceitos e fobias. (Mapa elaborado por Google Maps)

No Brasil

Em 2016 o Ministério do Turismo em parceria com o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT lançou uma cartilha que orienta os prestadores de serviços do setor quanto à recepção adequada a esse público. O guia, que recebeu o nome de “Dicas para atender bem turistas LGBT”, reúne práticas de acolhimento e respeito a esse viajante.

A primeira parte da cartilha apresenta uma introdução explicando a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual. Na segunda parte são dadas orientações sobre como atender bem o público LGBT e como agir em situações de conflito, inclusive orientando em relação ao Disque Direitos Humanos, para denúncias.

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As dicas presentes na cartilha criada pelo MTur buscam facilitar a relação entre o prestador de serviço turístico e o público LGBT consumidor, que detém os mesmo direitos de toda a população. (Imagem: Ministério do Turismo)

Em maio de 2018 o MTur, a Câmara de Comércio e Turismo LGBT e a Embratur, firmaram uma parceria para estudar medidas para fortalecer a promoção e comercialização do Brasil como destino “gay-friendly” no mercado nacional e internacional. A ideia é compreender as principais dificuldades que esse público enfrenta e desenvolver políticas de turismo adequadas ao perfil e hábitos de consumo desse viajante. As últimas reuniões tiveram como objetivo a definição de um plano de trabalho para o período 2018-2022.

O público LGBT, como qualquer outro, possui um perfil de turista. Em pesquisas realizadas pelos maiores polos turísticos do país (São Paulo e Rio de Janeiro) indicam uma maioria masculina, com idade entre 28 a 45 anos, com superior completo e exigentes em relação à qualidade de serviços contratados, segurança e receptividade da população. É um público que gasta mais do que o comum e busca um espaço de inclusão, boa convivência e diversão. Grande parte dos turistas LGBT no Brasil sofrem com a deficiência de informações específicas para sua viagem.

Porque investir nesse turismo?

Esse tipo de turismo vem crescendo no Brasil por diversas vantagens que o comércio tem visto em fornecer um roteiro especializado. Além de movimentar cerca de 15% do dinheiro no segmento turístico mundial, diversos setores são afetados pelo turismo LGBT.

Se a cidade é receptiva, ela impulsiona a economia  do setor hoteleiro, de transporte, de alimentação e o de lazer noturno. Se houver participação dos gestores públicos, uma parada gay ou festival pode ser organizado, gerando empregos informais e mais renda para a cidade. É perceptível também um forte interesse de casais heterossexuais que simpatizam com o movimento e gostam de frequentar os lugares, que geralmente são temáticos, agradáveis e inclusivos.

A criatividade também é parte importante das viagens. Hoje, o comércio oferece uma gama bem diversa de opções de lazer, como cruzeiros, saunas, baladas, bares, festivais. Todos especializados no gosto do consumidor.

O foco das viagens ainda são os lugares mais turísticos tradicionalmente no país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador. Em nossa pesquisa, a equipe percebeu um menor envolvimento em regiões como Norte e Centro-Oeste, onde esse turismo não é destacado e fica limitado às capitais e cidades economicamente mais desenvolvidas, com Manaus e Brasília.

Ainda não está convencido? Em pesquisa apresentada no Fórum de Turismo LGBT, promovido pela Associação Brasileira de Turismo LGBT (ABTLGBT) e pela revista ViaG em 2017, dados financeiros foram mostrados. Enquanto a indústria cresceu 3,5%, o turismo LGBT teve alta de 11% no mesmo período. Em relação a viagens para o exterior, há uma média de 9%, enquanto o público em questão dispara nos 45%. A pesquisa aponta que há um gasto 30% maior que de outros viajantes.

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Amanda Leonel, CEO da Editora Via, trouxe a pesquisa e lembrou que há 9 anos, quando começou a revista, pouco ou nada se falava sobre o turismo LGBT. (Imagem: ViagensCinematográficas)

A importância do turismo especializado

No campo do turismo, eventos são planejados e organizados para reunir pessoas com interesses comuns como estratégias de marketing turístico, que promovem produtos e serviços, contribuem para o fortalecimento da identidade e o desenvolvimento socioeconômico local. Mas nem tudo é sobre dinheiro. Festivais e paradas gays possuem  papel cultural e social, muitas vezes de ação política. Quando um lugar é exclusivo para um tipo de público, as pessoas se sentem mais à vontade e há uma maior visibilidade e aceitação do público.

No caso do Brasil, o país que mais mata transsexuais segundo a ONG Transgender Europe, esse turismo é um combate ao preconceito. Além de pensar nos interesses e preferências desse grupo para o turismo, é importante lembrar que o caminho para a aceitação completa da diversidade ainda está longe de chegar ao fim. Até a década de 1970, ser gay não era motivo de orgulho nem mesmo para os homossexuais. Com a presença cada vez maior de gays, lésbicas, bissexuais e transsexuais nas ruas e no comércio, agora é possível lutar e celebrar o orgulho gay.

Eventos que se destacam no Brasil

Alguns destinos já são conhecidos pelos brasileiros por oferecerem entretenimento para esse público. Diversas cidades do país sediam paradas no mês de julho para celebrar o orgulho LGBT, como Porto Alegre, Manaus e Brasília. Dentre elas, Rio de Janeiro e São Paulo se destacam: a primeira por organizar a mais antiga parada no país e a segunda por ser a maior do mundo.  A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo  acontece anualmente na Avenida Paulista desde 1997 e, em 2018, foi realizada no dia 3 de junho com o tema “eleições”. As atrações principais de 2018 foram Pabllo Vittar, Lia Clark, Preta Gil, Mulher Pepita e April Carrion.  A madrinha da manifestação paulistana em 2018 foi Fernanda Lima e a apresentadora oficial foi a Drag Queen Tchaka. A data da próxima parada já está decidida: 23 de junho de 2019. O tema será divulgado em breve.

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“Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz” foi o slogan escolhido para representar a Parada de 2018. (Image: APOGLBTSP)

Na capital carioca existem duas paradas LGBT distintas: uma em Copacabana e uma em Madureira. Este ano, em Copacabana, a passeata aconteceu no dia 30 de setembro com o tema “Vote em ideias, não em pessoas. Vote em quem tem compromisso com as causas LGBTI”. A edição de Madureira aconteceu no dia 1º de julho e também optou por tratar do voto consciente. O evento contou com nove trios elétricos, nos quais apresentaram os padrinhos da parada David Brazil e Viviane Araújo. A data para o próximo ano ainda não foi divulgada.

Ainda na região sudeste, no centro da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, acontece a Rainbow Fest Brasil, organizado pelo Movimento Gay de Minas (MGM) – um festival gratuito que conta com desfiles de moda, concursos de talentos, DJs e celebração do orgulho LGBT. Algumas festas em locais privados também integram a programação. A Rainbow Fest aconteceu entre 17 a 19 de agosto e um de seus momentos simbólicos é o beijo que celebra a Lei Rosa (Lei 9.197/00) que determina, em âmbito municipal, “a punição de toda e qualquer manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra qualquer cidadão homossexual (masculino ou feminino) bisssexual ou transgênero”.

O nordeste do país oferece opções mais extravagantes. Em Porto de Galinhas, Pernambuco, acontece a 10ª edição do festival Hell & Heaven. No feriado de 15 a 18 de novembro, com um público entre 20 e 35 anos, o evento reunirá nomes nacionais e internacionais da música eletrônica em um resort com vista para a praia. Além das festas, o evento conta com programação gastronômica, artística, etílica e voltada para o bem-estar dos clientes. Os pacotes promocionais estão esgotados para a edição de 2018, restando opções que variam de 555 a 4.400 reais.

Também em Pernambuco acontece o Love Noronha, em Fernando de Noronha, que está a caminho da sua 8ª edição. Em 2018, o evento aconteceu de 2 a 5 de agosto  e envolveu ecoturismo, gastronomia, música e moda. São quatro dias e três noites de festa com DJ’s e shows variados. O Love Noronha também é pago, mas ainda não foram divulgadas nem a data e nem os valores para 2019.

Plataformas brasileiras para turistas LGBT

Andar de mãos dadas nas ruas durante uma viagem é comum para um casal heterossexual. Porém, no caso de um casal LGBT o ato pode despertar intolerância e preconceito. Por isso, iniciativas como as que falaremos abaixo são tão importantes para essa comunidade. Destacar lugares e eventos que sejam “gay-friendly” é uma forma de prezar pela segurança desse público. Além disso, esses sites são fontes de informação para quem quer dicas para aproveitar uma viagem com conforto e comodidade.

O site, criado em 2015, surgiu da necessidade de uma plataforma para tratar sobre turismo e entretenimento LGBT. Oferece dicas de lugares para visitar ao redor do mundo, agencia pacotes e organiza intercâmbios para pessoas LGBT. Em entrevista à TV Brasil, Fernando Sandes, criador da plataforma, afirma que a ideia surgiu a partir da verificação de que a comunidade LGBT precisava de mais informações sobre o respeito à diversidade ao redor do mundo, além de conhecer mais sobre lugares seguros para visitar e se divertir na própria cidade ou região.

A Guiya Editora surgiu em 2013 com a missão de levar informações sobre roteiros gays para quem vive ou visita as principais cidades brasileiras. Dessa forma, promove o fortalecimento do turismo gay, dá visibilidade a estabelecimentos e eventos dedicados a esse segmento ou que tratem de maneira inclusiva a comunidade LGBT. Possui edições em São Paulo, Floripa, Brasília, Salvador e Belo Horizonte.

É um blog de viagens escrito por Rafael Leick com colaboração de alguns convidados. A plataforma busca se manifestar de maneira ativa como mídia gay participativa, informativa e assumida.

É uma revista de periodicidade trimestral, que possui um site para sua versão online. A proposta é desenvolver conteúdo informativo para a divulgação de destinos “gay friendly”, além de fomentar o mercado do turismo e unir pessoas pelo mesmo propósito em todo o mundo.

Foto Destaque: A Arte do Turismo
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Redação

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