Desde julho de 2017, os proprietários de veículos têm se deparado com preços bem salgados na hora de abastecer seus carros. A razão desse aumento é a política que visa alinhar o preço nacional do combustível aos preços internacionais, implementada pela Petrobrás. A empresa estatal brasileira detém a quase totalidade da capacidade de refino no Brasil, por essa razão ela é dada com a responsável pelo preço inicial dos combustíveis, conforme explica o professor do departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, Luciano Dias Losekann: “no último mês, os reajustes foram motivados pela elevação do preço do petróleo, que chegou a US$ 75 o barril, e com o acirramento da tensão no Oriente Médio, fruto do bombardeio à Síria, e pela valorização do dólar.”
O Oriente Médio é responsável cerca de 60% do petróleo produzido no mundo. E apesar da Síria estar localizada na Ásia Ocidental, e não possuir influência direta sobre a oferta de petróleo, os bombardeios e a guerra tensionam o relacionamento entre Oriente e Ocidente. Segundo Losekann, há ainda outros componentes que afetam o preço sobre a comercialização do petróleo, como o posicionamento da Rússia nos últimos acontecimentos da guerra na Síria e o rompimento estadunidense com o acordo nuclear com o Irã – que implica diretamente na exportação dessa matéria-prima desse país, que é um dos maiores produtores do mundo.
O acordo nuclear iraniano, assinado em 2015 por cinco países membros da ONU e o Irã, consiste no comprometimento do governo do Irã na redução do seu programa nuclear, em troca da retirada de sanções internacionais ao país.
Em julho do ano passado, a média avaliada para o dólar comercial estava em R$3,297 e foi um dos meses de maior alta do ano, seguido por dezembro, período que registrou a mesma cotação para a moeda. Em abril deste ano, a moeda foi avaliada em R$3,27, e durante este mês sua média, por enquanto, é de R$3,40.
Em março, o preço da gasolina nas refinarias aumentou 7%. “Segundo os dados divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), o valor nos postos de abastecimento brasileiros alcançaram R$4,23 na última semana de abril”, afirma Losekann.
Desde novembro de 2017, o preço médio das distribuidoras brasileiras está acima dos R$4,00. No mesmo mês, no ano passado, o valor médio foi de R$ 3,63, de acordo com relatório disponibilizado pela Agência Nacional de Petróleo.
Na primeira semana de maio deste ano, em Bauru, os preços encontrados nos postos variaram entre R$3,73 a R$4,27. Para chegar no preço cobrado nas bombas, são avaliados alguns critérios, conforme demonstra o infográfico abaixo.
Segundo Mateus Guirelli, estudante universitário em Bauru, a saída para driblar os gastos com abastecimento do seu carro é diminuir as suas viagens com o veículo, e afirma ter andado mais a pé. “Como meu carro é flex, eu intercalo o abastecimento com etanol e gasolina, para não pesar tanto. Também tenho dividido os gastos para ir para faculdade, com outros colegas de turma, para quem eu ofereço carona”, explica.
Apesar da gasolina apresentar um rendimento superior ao do etanol, dependendo da diferença dos preços entre os dois, pode valer a pena o abastecimento com o combustível proveniente da cana-de-açúcar. Se o valor do etanol for correspondente até 70% do valor da gasolina, é mais vantajoso a escolha do primeiro, isto porque o rendimento do etanol corresponde a 70% do rendimento da gasolina, por litro
Podemos esperar mais altas?
Segundo Losekann, “tudo dependerá da evolução do preço internacional do Petróleo, que é difícil de prever. Alguns países utilizam fundo de estabilização para contornar a instabilidade de preços de derivados”. O fundo de estabilização é um fundo que permite que as oscilações de preço no mercado internacional não sejam repassadas instantaneamente ao consumidor final. O preço na refinaria continuaria a refletir o preço internacional, mas o preço final não seria ajustado automaticamente.
“O desafio para o funcionamento do fundo é quando há uma tendência de alta mais prolongada. O preço doméstico deve ser ajustado periodicamente para evitar o esgotamento do fundo e as experiências internacionais mostram que os governos tendem a postergar a elevação de preços, ou seja, para um fundo de estabilização funcionar deve-se evitar interferências políticas”, complementa o especialista.