Em Bauru, a Praça da Hípica e a Praça da Paz reúnem famílias e amigos e oferecem variedades gastronômicas e possibilidades para empreendedores
O Brasil está em crise. Esta se tornou uma das frases mais reproduzidas entre 2015 e 2016. De repente, as conversas no elevador ou na fila do café da manhã mudaram. Ao invés de falar do clima, comenta-se sobre a crise econômica.
Com a instabilidade do mercado e a desaceleração da geração de empregos formais, aumenta a tentativa por empregos informais. Com um pouco do “jeitinho brasileiro” para se adaptar em situações adversas, os cidadãos utilizam a criatividade para apostar em novas formas de geração de renda e entrar no disputado mundo do empreendedorismo. A Pesquisa Global de Entrepreneurship (GEM) de 2015, patrocinada pelo Sebrae Brasil, indicou que o número de empreendedores por necessidade já é o maior desde 2007. Dos empreendedores abarcados pela pesquisa, 44% dizem estar no ramo por necessidade, enquanto em 2014, essa parcela era de 29%.
Em Bauru, essa realidade pode ser vista e saboreada nos trailers da Praça da Hípica. Há cinco anos, o local era uma praça subutilizada da cidade, com uma extensa área verde, esparsos carrinhos de comida, como o carrinho de pipoca Pipokeka e circulação irregular de moradores. O grau de confiabilidade dos bauruense para frequentar o espaço era baixo. “Eu vinha na praça antes de trabalhar aqui. E era abandonada mesmo, a população tinha um pouco de medo daqui porque a Praça era muito grande”, comenta Bruna Machado, funcionária de um dos foodtrucks há dois anos.
Meia década depois, a praça parece outra. O que era o carrinho de pipoca, hoje é um dos foodtrucks que mais oferece variedades na praça: tapioca, pizza, batata recheada e lanches. Ao redor de toda a Praça da Hípica, instalaram-se cerca de 20 trailers de comida. Tatiane Lapa da Silva é uma das personagens da mudança pela qual passou a localidade. Há três anos e meio, ela saiu de seu emprego em uma loja de móveis e eletrodomésticos e resolveu abrir um foodtruck na praça. Ela observa que “depois que começou a crise de que todo mundo fala, começou a aparecer bastante gente abrindo trailers”.
Ao centro da praça, outras atividades se desenvolvem. Entre as árvores e os bancos, montam-se brinquedos infláveis voltados para o público infantil, vendedores amadores oferecem produtos variados, como artesanato e brinquedos e uma academia da Terceira Idade completa os atrativos “para toda a família”. A característica de ponto de lazer para famílias e amigos faz com que o movimento em dias de semana seja reduzido. Em razão disso, a maioria dos trailers abre de quinta a domingo.
De outro lado da cidade, a Praça da Paz exibe, de forma mais consolidada, um projeto semelhante ao da Praça da Hípica. A localidade já é um cartão postal de Bauru e reúne, no mesmo espaço, trailers de lanches, pastéis, pizzas e churros, entre outras opções. Um dos foodtrucks é o Oba-Oba, que se tornou conhecido além dos limites da cidade. Com sabores inusitados e diversas combinações, como a adição do catupiry como recheio, o trailer é uma parada comum para moradores e turistas. Em entrevista à Folha de São Paulo, o proprietário do Oba-Oba, Benedito Lopes, disse que chega a vender 500 churros por noite.
Não só no Oba Oba, mas na Praça da Paz como um todo, a impressão é que a crise não chegou de forma tão forte. Famílias e amigos continuam se reunindo no “lanchodromo” para confraternizar e se alimentar. Alguns dos trailers abrem de segunda a segunda. Durante a semana, os universitários que moram na região movimentam os negócios. Nos fins de semana, a presença de crianças e famílias inteiras é maior. Proprietários de brinquedos infláveis, vendedores de brinquedos e artesanato também marcam presença.