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Somos tão jovens: como as novas gerações participam da política?

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A falta de representatividade na política institucional impulsiona jovens a procurarem novas formas de manifestar opiniões e procurar mudanças dentro de partidos, nas ruas e nos meios digitais

Por Bárbara Pinela, José Felipe Vaz, Tatiane Degasperi e Thainá Zanfolin

Segundo dados do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), nas eleições municipais de 2016, cerca de 10% dos candidatos eram jovens (de acordo com o Estatuto da Juventude sancionado em 2013, considera-se jovem no Brasil todo o cidadão que compreende a idade entre 15 e 29 anos), destes apenas 7% conseguiu espaço efetivo nas câmaras municipais do país. Como comparativo às eleições nacionais de 2014, em que é permitido aos jovens concorrer apenas aos cargos de deputado estadual e federal (idade mínima é 21 anos), os números são ainda menores, cerca de 5% do total de candidatos tinham entre 21 e 29 anos e pouco mais de 3% se elegeram.

Eleita a vereadora mais jovem de Bauru, Yasmim Nascimento de 26 anos faz parte da maior bancada feminina do Legislativo na história bauruense. Com ela, estão em exercício as vereadoras Chiara Ranieri e Telma Gobbi. O recorde anterior era de 1996, quando Majô Jandreice e Catarina Carvalho foram eleitas. Para Yasmim, essa é uma conquista importante das mulheres porque “a mulher tem uma sensibilidade grande, até por ser multifuncional, cuida da casa, trabalha, dá conta de muita coisa ao mesmo tempo. E isso faz com que a mulher tenha uma empatia com o próximo e se coloque no lugar do próximo. Acho que é importante ter mais mulheres na Câmara”, conta a vereadora.

No que tange sua candidatura, Yasmim que é filiada ao Partido Social Cristão (PSC), possui graduação em direito e é pastora na Igreja do Evangelho Quadrangular, foi eleita com 2938 votos, ficando na sétima colocação dentre os 17 candidatos eleitos. Ela afirma ter sido muito influenciada por seu pai, o deputado estadual Celso Nascimento. Yasmim e Celso são os primeiros bauruenses a ter relação familiar de pai e filha atuando ao mesmo tempo em mandatos eletivos.

Quanto suas propostas de governo, seu foco é o combate às drogas e a causa animal sendo que esse plano “inclui a criação de um Conselho Antidrogas nas escolas municipais de ensino fundamental e a entrada desse tema na grade escolar (Emefs) e, além disso, orientar as famílias e a sociedade em geral sobre como lidar com um dependente químico, para que ele possa sair dessa situação e retornar a um bom convívio social”, conclui.

Em Araraquara, a eleição de 2016 também foi histórica. A estudante de direito Thainara Faria de 22 anos, se tornou a mulher mais jovem a assumir uma cadeira na história da Câmara Municipal da cidade, além de ser a primeira negra a desempenhar o cargo. À exemplo de Yasmim, Thainara que é filiada ao partido dos trabalhadores (PT), concorreu pela primeira vez em eleições, obtendo 1572 votos, ficando em terceiro lugar entre os dezoito candidatos eleitos no município.

Entre as bandeiras que Thainara levanta, estão a luta pela população da periferia e a luta pelo direito das mulheres e dos jovens. A vereadora acredita que atualmente “a juventude fica afastada da política, por conta do pensamento viciado, de pessoas que já estão na política há muito tempo. As pessoas estão magoadas com a política”, afirma. Thainara fala ainda da importância da renovação político-partidária: “Jovem não é sinônimo de renovação, até porque pessoas mais velhas podem trazer pensamentos novos, mas a juventude com a garra, com a força, com sonhos, tem maior potencial para alavancar a política e mostrar pra população que gente boa e gente ruim existe em todo lugar”, conclui.

Gráfico 1 - Sexo e Idade (Vereador x População)

(Infografia: José Felipe Vaz de Assis)

“Eu acho que não há mudança não. Existem pessoas muito jovens que estão tentando entrar na política, mas não estão conseguindo. Acho que pode depender da opinião das pessoas, talvez por falta de responsabilidade”. A fala do porteiro Milton Parmesan, 62 anos,  evidencia o pensamento de alguns bauruenses sobre as novas gerações na política: a idade faz a diferença. Para Milton, apesar dos mais velhos serem sinônimo de credibilidade, eles não demonstram ter cuidado para com a população uma vez “que se eles realmente tivessem responsabilidade, não iria acontecer o que está acontecendo hoje na política no Brasil”, afirma o porteiro.

A aposentada Vilma Cavalcante, 62 anos, compartilha a ideia de que os mais velhos podem ter mais experiência, mas acredita que “os mais novos estão aí estudando e vão aprendendo coisas com aquilo que não os agrada e é aí que eles vão fazer a diferença”. Vilma acredita sentir falta da representatividade feminina dentro da câmara, visto que “as mulheres entendem e compreendem as coisas muito mais que os homens”.

A atendente Stefani Lima, 20 anos, diz ter votado em uma candidata mulher para o cargo de vereador nas últimas eleições e acredita que a ausência das mulheres no cenário político acontece porque “existe machismo dentro da política, o que acaba influenciando na presença de mulheres na política de um modo geral”. Apesar de não acompanhar muitos assuntos relacionados à política, a jovem diz que a explicação para a alta idade da atual bancada de vereadores de Bauru pode estar relacionada à credibilidade que as pessoas mais velhas transmitem já que “os mais velhos podem ter vivenciado mais situações e acabam passando uma ideia de maior experiência”.

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Fonte: Site “Eleições 2016” (Infografia: José Felipe Vaz de Assis)

Além das fronteiras

Em 2011, Portugal foi palco de uma mobilização que acabou movimentando cerca de dez cidades em todo o país, usando como principal meio de comunicação e divulgação as redes sociais. As motivações eram a insatisfação sentida por jovens sobre as políticas do governo de José Sócrates e a inexistência de perspectivas de futuro. Os organizadores definiram o protesto como apartidário, laico e pacífico. O movimento ficou conhecido como Geração À Rasca.

Na França, depois de anos em que a esquerda e os conservadores se alternaram no poder, a eleição de um presidente centrista-liberal, Emmanuel Macron, 39 anos, impulsionou o surgimento de movimentos partidários constituídos em sua maioria por jovens. Segundo o estudante de jornalismo da Ecole de Journalisme de Sciences Po na França, Lucas Wicky, “pode-se perceber maior participação de jovens na Nova Assembleia Nacional, através do movimento que Macron faz parte, o En Marche (EM), e do movimento de esquerda radical, o “France Insoumise”.

Lucas afirma, ainda, que as maiores dificuldades enfrentadas pelos partidos tradicionais, socialistas e republicanos,  são “o menor número de deputados, menos dinheiro, menos apoio por parte da população e disputas internas”.

Na Alemanha, agora em 2017, durante a cúpula do G20, em Hamburgo, manifestantes anti-G20 foram às ruas protestarem contra a reunião. De maioria jovem, as organizações contra a reunião das 20 potências mundiais sempre são presentes, fazendo que muitas vezes o encontro fosse organizado em cidades afastadas ou países sem cultura de protestos.

Entre as semelhanças destes exemplos está o mesmo motor: as redes sociais e a Internet.

Em terras brasileiras

A participação de jovens nos movimentos sociais não é exclusividade da virada do milênio. Mobilizações, protestos, organizações, militância. Todas estas formas de correr atrás de direitos e melhorias conta com participação de jovens. Entretanto, a partir dos anos 2000, um novo fator entrou em jogo.

No Brasil, a onda de protestos e manifestações que ocorreram em junho de 2013 e que ficaram conhecidas como Jornadas de Junho, foi uma maiores movimentações  do país dos últimos tempos. Em seu ápice, as manifestações contavam com cerca de um milhão de pessoas nas ruas em todo o país protestando não apenas contra o aumento da tarifa do transporte, mas colocando outras questões políticas e econômicas em pauta.

Assim como ocorreu em outras partes do mundo, como Alemanha e França, a força policial esteve presente nas movimentações brasileiras e, com a ampla divulgação nas redes, as formas de repressão foram vistas por todo o território. Para o professor-adjunto  da  Escola  de Serviço  Social  da UFRJ, Mario Luis Iasi, que foi candidato à presidência em 2014, a violência foi um incentivo a mais para as pessoas irem às ruas. Segundo ele, em texto publicado no livro “Cidades Rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”, “a  repressão  aos  jovens  e  a  prepotência  dos  governantes funcionaram  como  catalisador  das  contradições  que  germinavam  sob  a aparência de que tudo corria bem em nosso país”.

“Uma fagulha pode incendiar uma pradaria”

A discussão sobre passe-livre no transporte público, assim como as manifestações para barrar o aumento do valor das tarifas não teve início em 2013. O Movimento Passe Livre (MPL) é uma organização formada predominantemente por jovens que discute as questões de transporte e integração urbana desde 2005. Entre os anos 2000 e as Jornadas de Junho, outras seis cidades foram palco de manifestação com as mesmas reivindicações.

Segundo o especialista em planejamento urbano e social, Carlos Vainer, em texto publicado no livro “Cidades Rebeldes”: “uma fagulha pode incendiar uma pradaria, dizia Mao Tse-Tung. Esta pequena frase nos adverte para o engano daqueles que tentaram, e ainda tentam, reduzir o movimento à luta pela redução das passagens, ou por melhores transportes públicos. Essa é uma reivindicação dentre muitas outras. E se o Movimento Passe Livre teve a iniciativa, não é a fagulha que explica o incêndio, mas as condições em que se encontrava a pradaria”.

Mas, diferente do que aconteceu em 2013, estas outras movimentações urbanas tiveram o início, o ápice e a resolução em seu ambiente local. Por que, então, o MPL de 2013 ganhou proporção nacional?

Campo seco

A sequência de crises econômicas que tomaram conta dos países depois dos anos 2000 é, para a mestre e pesquisadora na área de ciência política, Thais Pavez, um dos fatores que fizeram com que o fogo se espalhasse. De acordo com a pesquisadora,  “a sequência de crises econômicas, governos que buscavam saídas pelo aprofundamento das medidas neoliberais, como a precarização do trabalho, a desregulação dos mercados, os retrocessos em leis de direitos trabalhistas, os cortes de gastos públicos, entre outros”.

Além dos motivos econômicos, “as manifestações, deflagradas pelo preço das passagens, expressaram uma série de descontentamentos com o governo num contexto de desaceleração de melhorias dos indicadores sociais. Agregavam-se a isso, as críticas e manifestações contra a Copa do Mundo no Brasil no mesmo ano das eleições, e no decorrer da campanha o apontamento do esquema de corrupção da Petrobrás, amplamente coberto pela mídia”, completa Thais.

O Movimento Brasil Livre (MBL) é outro grupo de relevância composto, em sua maioria, por jovens e que nasceu após as Jornadas de Junho de 2013. Ele organiza e incentiva, por meio das redes sociais, manifestações dos brasileiros frente aos problemas políticos e econômicos atuais. No Facebook, ele lidera o número de curtidas entre as páginas de engajamento político.

Ativismo digital

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(Infografia: José Felipe Vaz de Assis)

As redes sociais estão recheadas de fotos motivacionais, vídeos engraçados e, claro, discussões políticas. A liberdade de expressão e os espaços de debate ampliados são propícios para o surgimento da política nas redes sociais. Com elas, se posicionar politicamente, expor opiniões, concordar ou discordar se torna tarefe mais simples.

Porém, por mais importante que seja o papel da Internet nas movimentações atuais, Carreiro frisa que “em 1992 muitos jovens foram às ruas para o impeachment de Collor e nem existia internet. O ponto é outro: a internet e as redes sociais podem potencializar algumas tendências. Por exemplo, há uma quantidade crescente de grupos que se assumem de direita e conservadores, mas eles não são crias da internet. São potencializados”.

Em pesquisa realizada pela F/Nazca em parceria com o Datafolha, foram analisados o uso das redes sociais e a adesão ao ativismo digital no Brasil de 2011 a 2015. Os dados revelam que o número de ativistas digitais, em 2015, chegava a quase 30 milhões. Destes, 80% se envolveram com causas pelas redes sociais: curtindo, comentando ou compartilhando conteúdos relacionados. A pesquisa mostra ainda que engajamento político não é privilégio das classes A e B, pelo contrário, a maioria dos ativistas digitais do país, 45%, está na classe C.

Este fenômeno se beneficiou do aumento exponencial de acesso dos brasileiros às tecnologias digitais.  Os donos de smartphones eram pouco mais de 30 milhões durante as jornadas de junho de 2013. Em 2015, segundo dados do Ibope, os números chegavam a mais de 70 milhões de aparelhos com acesso à internet. Sobre o Facebook, principal rede social de criação e compartilhamento de grupos e atos políticos, os números são ainda maiores, segundo dados divulgados pela própria empresa em 2016, quase metade da população brasileira, cerca de 102 milhões acessam a rede social e destes, 93 milhões acessam via dispositivos móveis.

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Jogo de opiniões

O espaço das redes sociais é o campo de discussão de muitos lados, opiniões e movimentos. Para Rodrigo, “disputas ideológicas sempre são boas. Quanto mais diversidade de opiniões e ideologias temos, melhor para a saúde da democracia. O lado ruim é que tem crescido o discurso de ódio, que independe da ideologia. É possível ver esse lado tanto na esquerda quanto na direita, o que é bem preocupante”.

A pesquisadora em ciência política, Thais Pavez, afirma que a disseminação de boatos, de ideias políticas calcadas no senso comum, assim como discursos de ódio, preconceitos e intolerância são o outro lado da discussão sobre o meio online. “A internet é uma ferramenta e está aberta tanto aos pendores democráticos como aos autoritários”, completa.

O doutor em filosofia André Sathler e a jornalista e doutora em ciência política Malena Rehbein, afirmam que um dos graves problemas criados pelas redes sociais é a cultura do imediatismo e a consequente ampliação, de maneira exponencial, da repercussão de boatos e mentiras já que “na inexistência de referências estáveis de verdade, as pessoas apelam ao imediatismo da timeline para se reconhecer, em face de si mesmo e de seus amigos, na busca ansiosa de alguma sensação de pertencimento”.

Como consequência do poder dessas mídias, existe o que chamam de pós-verdade – termo eleito em 2016, pelo dicionário Oxford como a palavra do ano – quando as pessoas dão menos valor aos fatos objetivos e são mais influenciadas por crenças pessoais. Para o cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcus Ianoni, esse artifício está muito presente nas disputas narrativas quando o assunto é política ou ideologia e que “por todo o mundo, o crescimento da nova direita está muito associado à pós-verdade. O conservadorismo político atual tem menos compromisso com a verdade do que com a conquista de adeptos. E ainda, quando nas disputas, a direita cria boatos contra a esquerda, como uma espécie de nova estratégia”, explica Ianoni.

Segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP), na semana da votação do impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, em abril de 2016, três das cinco notícias mais compartilhadas no Facebook sobre o tema eram falsas.

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A questão fez surgir projetos de checagem de fatos (fact-checking), como o Truco (serviço de checagem de fatos da Agência Pública) e o Aos Fatos que visam qualificar o debate político chegando ao grau de veracidade das informações que estão sendo compartilhadas, por meio do trabalho de apuração jornalística. O Google e o Facebook também se mobilizaram punindo sites ou páginas que divulguem “fake news”. Uma vez identificadas, essas páginas são proibidas de participar dos programas de anúncios.

André Sathler e Malena Rehbein concluem que para as redes sociais se configurarem como espaços genuínos de exercício da política e construção da cidadania, “as pessoas precisam ter noção desse caráter de simulação e descolamento do mundo real, de modo a que possam manter a cabeça nas nuvens, mas mantenham os pés no chão”.

Museu de grandes novidades

Apesar de muito se falar sobre a ativa participação da juventude na política, pesquisadores concordam que ser jovem não significa ter novas ideias. 

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A participação de jovens no fazer político, apesar de não ser novidade na história brasileira e do mundo, toma outra proporção com a ajuda das redes sociais. Com seguidores fiéis, engajamento e novas formas de divulgar uma ideia, grupos que atuam na Internet ganham tanta visibilidade quanto antigos partidos políticos que atuam há anos no país e que, nem sempre, alcançam o apoio que movimentos virtuais conseguem.

Redação

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