Tecnologia se torna aliada na Educação de Jovens e Adultos Estrangeiros

Recursos de baixo custo auxiliam professores e alunos em salas de aula

Por Julia Gottschalk, Marina Machuca e Thales Valeriani

De segunda a quinta-feira às 19h20min Beatriz Diniz entrava na sala do Centro de Integração Escola-Empresa (CIEE) na rua Maria Paula, n° 212, no centro de São Paulo, capital, para dar aula de língua portuguesa na Educação de Jovens e Adultos (EJA) para estrangeiros.

Dentre as várias nacionalidades presentes na sala de aula, a majoritária era a haitiana. Adultos que vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor e viam na educação uma chance para se inserir no mercado de trabalho.

Em uma mesma sala havia cerca de 33 alunos de várias profissões e níveis educacionais. De médicos ou engenheiros a donas de casa e mecânicos. Alguns alunos falavam apenas o crioulo, a língua nativa do Haiti; outros, eram poliglotas. Para Beatriz, que deu aulas até o final de 2014, as dinâmicas em sala e o uso de tecnologias eram aliadas na hora de educar em uma sala com perfil tão diversificado. “Os slides e músicas eram mais eficazes, por que eles conseguiam ler e anotar, enquanto eu explicava os slides. Já a música, por envolver a leitura, pronúncia e vocabulário, eles gostavam muito”, conta.

A EJA foi assumida como uma política pública em 1964 no governo de João Goulart (1961-1964), nos moldes de uma campanha nacional de combate ao analfabetismo. No período da ditadura militar (1964-1985), ela passou a se chamar Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e com a Constituição de 1988 ela foi reconhecida como uma modalidade específica da educação básica.

De acordo com Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 2015, a educação de jovens e adultos visa garantir o acesso ou a continuidade da escolarização do indivíduo que não teve acesso ou continuidade aos estudos no sistema formal do ensino básico na idade escolar considerada ideal. Dados do censo escolar do Instituto Nacional do Ensino e Pesquisa Educacionais (INEP) mostram que em 2013 foram feitas mais de 3 milhões e 700 mil matrículas no sistema de EJA no país.

A mestre em letras com experiência em Tecnologia da Informação Aplicada (TICs) e professora da Universidade presbiteriana Mackenzie, Isabel Castaldo, afirma que “o uso da tecnologia em sala de aula pode auxiliar o professor de diversas maneiras, com o uso de materiais autênticos ou mais interessantes, com a acessibilidade ao material já que em muitos casos o acesso a ele é gratuito e o aluno não precisará comprá-lo”.

A especialista em Educação de Jovens e Adultos (EJA) e professora da Unesp, Eliana Zanata, ressalta a importância do uso de tecnologias no ensino. “O uso das tecnologias em sala de aula promove não só a construção do conhecimento que essas pessoas poderiam não ter, bem como a aproximação dos recursos tecnológicos como ferramenta de aprendizagem e acesso a informação”, afirma.

Ainda de acordo com Eliana, “o professor ou a professora das salas de EJA devem ter o cuidado de não infantilizar os recursos, que se selecione um material próprio para o adulto e não um software infantil. A diferença está centrada no processo e na metodologia, não no recurso em si”, explica.

A pedagoga Aísha Mela fez um relato de experiência sobre o uso de tecnologias na educação de jovens e adultos no qual afirma que o uso de tecnologia em sala de aula além de auxiliar o aluno no processo de aprendizagem deve dar a ele a oportunidade de sair da condição de “analfabeto digital”.

É necessário que a educação no séc XXI não se resuma a alfabetização dos alunos, mas que também os capacite para se inserirem não apenas no mercado de trabalh